Expansão da maior mina da Europa força igreja a ser rebocada

A igreja de Kiruna, no extremo norte da Suécia, começou esta semana uma viagem improvável. Foi retirada das suas fundações e está a ser transportada, em cima de um reboque, para uma nova localização, a cinco quilómetros de distância. A medida visa salvaguardar o edifício centenário do abatimento do solo provocado pela expansão da maior mina subterrânea da Europa.

Segundo o jornal Público, trata-se de uma operação inédita no país, que envolve a deslocação de uma das maiores estruturas de madeira da Suécia, com 600 toneladas e 113 anos de história. Frequentemente considerada a igreja mais bonita do país, a construção é também descrita pelos habitantes como “a alma de Kiruna”. Para a pároca local, Lena Tjarnberg, “Maior mina subterrânea da Europa obriga a mais bela igreja sueca a mudar de lugar "para mim, é um dia de alegria. Mas acho que as pessoas também se sentem tristes por termos de deixar este lugar.", lê-se na publicação.

A mudança da igreja é apenas uma parte de um vasto projeto de relocalização que se estende por três décadas. Cerca de seis mil pessoas e três mil habitações terão de ser transferidas para permitir a expansão da mina, responsável por 80% da produção de ferro da Europa. Alguns edifícios estão a ser demolidos, enquanto outros, como a própria igreja, são transportados inteiros para o novo centro urbano.

Getty images

O processo não tem sido, contudo, consensual. Para a comunidade indígena Sami, que há séculos utiliza aquelas terras para o pastoreio de renas, a deslocação é um lembrete do impacto da mineração nos seus modos de vida. “Há 50 anos, o meu bisavô disse que a mina iria devorar o nosso pastoreio. E tinha razão”, afirmou Lars-Marcus Kuhmunen, citado pelo jornal.

A estatal LKAB garante que a mudança permitirá prolongar a atividade mineira durante décadas, explorando não só ferro como também depósitos de terras raras essenciais para tecnologias verdes. Mas, como resume o presidente da câmara local, Mats Taaveniku, a igreja transportada simboliza bem esta transformação: “Estamos agora a meio caminho. Restam-nos dez anos para deslocar o resto da cidade.”