As sanções do Reino Unido ao grupo de oligarcas russos, devido à Guerra na Ucrânia podem ter um sério impacto no mercado imobiliário britânico, especialmente no imobiliário de luxo em Londres. De acordo com a Transparência Internacional, cidadãos russos com ligações ao Kremlin compraram propriedades avaliadas em 1.500 milhões de libras, cerca de 1.800 milhões de euros às taxas de câmbio atuais.
As sanções impostas pelo Reino Unido após a eclosão do conflito na Ucrânia concentraram-se até agora num pequeno grupo de oligarcas russos com ligações diretas a Vladimir Putin. Mas a verdade é que as propostas do governo de Boris Johnson para confiscar as propriedades desses megamilionários podem congelar o mercado de luxo em Londres, segundo alertam especialistas imobiliários.
“As medidas de resposta à invasão russa da Ucrânia derrubariam os muros de uma prática de décadas permitida de usar propriedades de luxo em Londres como um local fácil, seguro e discreto para depositar dinheiro, incluindo ganhos ilícitos”, segundo Andrew Langton, presidente da Aylesford International, uma agência imobiliária que atende a clientes ricos. "A gravidade dessas sanções é o começo de um novo mundo, um novo mercado", acrescentou.
Agentes imobiliários acreditam que terá um impacto mais amplo ao dissuadir indivíduos ricos de outras partes do mundo de investir no Reino Unido, incluindo China e países do Médio Oriente. "Se o governo mudar os requisitos de transparência, isso não afetará apenas os russos", disse outro consultor ao Financial Times.
Os ministros não chegaram a uma decisão definitiva sobre se devem prosseguir, pois a proposta de apreensão de propriedades provavelmente exigirá uma base legal, e os advogados temem que esse plano represente um grande desafio, minando o direito de propriedade no Reino Unido.
Até agora, as sanções focaram-se num pequeno grupo de oligarcas com laços diretos com o presidente russo Vladimir Putin, mas espera-se que sejam expandidas para mais pessoas. Essa ameaça de sanções já fez com que muitos procurassem vender, de acordo com vários consultores e advogados que trabalham no mercado londrino. Destaca-se Roman Abramovich, que não está na lista de sanções, mas já confirmou que colocou à venda o seu clube de futebol, o Chelsea FC, de Londres. E também pendutou a placa “Vende-se” na sua mansão de mais de 100 milhões de libras, cerca de 120 milhões de euros, em Kensington Palace Gardens.
Especialistas consideram que a capacidade de vender no clima atual pode sair prejudicada. "Eles terão dificuldade em encontrar um agente ou advogado para agir em seu nome se a fonte do seu dinheiro for obscura de alguma forma", disse o agente da Property Vision, Roarie Scarisbrick. “Os oligarcas sancionados não terão representação de um agente de vendas”, enfatizou.
"O que vai acontecer com estas casas? Acho que elas vão ficar a acumular pó", continuou o presidente da Aylesford International. "Estas propriedades não terão valor, estão congeladas", concluiu. As sanções terão um impacto mais imediato, mas a intenção do governo britânico de introduzir medidas de transparência, em resposta à invasão da Ucrânia, pode significar medidas de maior alcance.
O governo acelerou um projeto de lei que visa revelar as verdadeiras identidades dos proprietários que já usaram empresas de fachada registadas em paraísos fiscais, como as Ilhas Virgens Britânicas, para disfarçar a titularidade. Esse movimento marcaria uma rutura decisiva numa época em que qualquer pessoa podia investir pequenas fortunas em propriedades em Londres e manter os seus nomes fora dos títulos de propriedade.
Tal registo eliminaria um dos principais atrativos de Londres para compradores milionários que querem manter um perfil discreto. Os compradores russos têm sido os grandes impulsionadores nos mercados imobiliários de luxo, como Belgravia, Knightsbridge e Highgate, e em condomínios fechados em Surrey.
Segundo a agência imobiliária Knight Frank, Londres atraiu investimentos imobiliários de compradores estrangeiros no valor de 3.000 milhões de dólares em 2021, cerca de 2.700 milhões de euros às taxas de câmbio atuais. O maior investimento internacional do mundo. Grande parte desse investimento, acrescenta o CFPD, é canalizado através de empresas registadas em Jersey, na Ilha de Man ou nas Ilhas Virgens Britânicas.
Paraísos fiscais aderem às medidas de cooperação internacional
Ao que tudo indica, segundo o jornal Público, muitos paraísos fiscais aderiram às novas medidas de cooperação internacional na área financeira e fiscal, algo que poderá criar dificuldades aos oligarcas que tentem utilizar estes territórios como refúgio dos seus activos financeiros e patrimoniais. Isto porque se auxiliarem estes magnatas, estes paraísos fiscais arriscam-se eles próprios a ter de enfrentar medidas de retaliação lançadas pelos grandes blocos económicos, como os Estados Unidos e a União Europeia (UE).
Muitas destas jurisdições, de acordo com o jornal, aderiram às novas regras de cooperação para combater os crimes fiscais. Não só a Suíça, o Reino Unido ou Chipre, mas também outros centros financeiros utilizados como local de criação de empresas fictícias, de que são exemplo os Emirados Árabes Unidos, a China, Hong Kong ou Singapura.
Itália congela milhões em ativos a oligarcas russos
O governo italiano bloqueou 140 milhões de euros em ativos ao abrigo das sanções internacionais impostas aos oligarcas russos, incluindo a apreensão de dois iates a empresários próximos do Presidente russo, Vladimir Putin, noticiou por outro lado a Lusa.
"Estão a ser tomadas medidas para congelar em território italiano bens móveis e imóveis de 140 milhões de euros pertencentes a oligarcas russos que figuram nas listas da normativa europeia. Já foi concluída uma primeira operação, que afeta um navio de 65 milhões de euros. Outras medidas estão em curso", indicou o Ministério da Economia italiano.
Trata-se do mega iate ‘Lady M’, ancorado em Imperia, na costa da Ligúria, no noroeste da Itália, e pertencente a Alexei Mordashov, presidente do grupo metalúrgico e energético Severstal e que detém um terço das ações da agência de viagens TUI, a maior do mundo.
O multimilionário, que, segundo a revista Forbes, era o quarto homem mais rico da Rússia em 2021, distanciou-se nos últimos dias da invasão russa da Ucrânia e lamentou as sanções impostas pela União Europeia (UE) devido às suas ligações ao banco Rossiya (que os 27 dizem que beneficiou da anexação da Crimeia pela Rússia) e a um grupo que controla os meios de comunicação que transmitem a versão do Governo russo sobre a guerra.
A ordem de apreensão preventiva foi executada pela Unidade Especial de Polícia Monetária da Guardia di Finanza, com a colaboração da Unidade de Polícia Económica e Financeira de Imperia e do Departamento de Operações Aeronáuticas de Génova, detalharam hoje fontes oficiais.
Posteriormente, outra ordem foi também emitida e executada contra o iate ‘Lena’, propriedade de Gennady Timchenko, ancorado no porto de San Remo e com um valor estimado de cerca de 50 milhões de euros, segundo as mesmas fontes. Timchenko é o fundador do Grupo Volga, com importantes investimentos na economia russa, e é considerado pela UE como "um dos confidentes de Putin", com quem mantém uma relação pessoal próxima desde a década de 1990.
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