Tudo está a ficar mais caro com o atual contexto de inflação, que atingiu um dos maiores valores registados nos últimos 30 anos (8,9% em agosto). E, neste panorama, há vários desafios que as famílias hoje enfrentam: não só sentem o seu poder de compra esmagado, como têm agora de estar atentas à prática da reduflação por parte das empresas. Isto é, há marcas que estão a mascarar o aumento dos preços, colocando no mercado menos produto pelo mesmo valor. Neste artigo, explicamos o que deves fazer para estar atento à reduflação.
Mas, afinal, o que é a reduflação? Trata-se de uma “prática comercial que consiste na redução do tamanho ou da quantidade embalada de um produto, mantendo-se ou aumentando o preço de venda”, define a Infopédia. Ora, os consumidores passam a pagar o mesmo valor (ou até mais) por um produto que traz menor quantidade.
Esta tem sido uma estratégia montada por várias marcas em Portugal para disfarçar o aumento dos preços, num contexto de alta inflação no país – atingiu os 8,9% em agosto. E já há várias denúncias desta prática que chegaram à Associação Portuguesa de Defesa do Consumidor (DECO).
A prática de reduflação é ilegal?
Na verdade, não há nada de ilegal nesta estratégia, desde que o produto tenha a quantidade explicita na embalagem. Esta prática “ilegal não é, agora é pouco ético, é falta de transparência", analisa Rui Rosa Dias, professor do Instituto Superior de Administração e Gestão - European Business School (ISAG-EBS) em declarações à agência Lusa a propósito do fenómeno ‘shrinkflation’ na língua inglesa.
Para o investigador, se "a especulação e o oportunismo comercial fazem parte do mundo dos negócios, ocultar, desinformar ou mentir até aos consumidores não”. Na sua visão, a reduflação trata-se de uma forma 'encapotada' ou 'invisível' de inflação em que se reduzem quantidades, sem diminuir - ou mesmo aumentando - os preços.
Este fenómeno acontece, muitas vezes, de forma quase impercetível para o consumidor, como por exemplo no supermercado:
- uma tablete de chocolate que tradicionalmente tinha 150 gramas pode passar a conter 125 gramas, e custa o mesmo;
- uma caixa de fósforos que antes continha 100 unidades passa a ter 80;
- um pacote passa a ter menos bolachas.
O que fazer para proteger a carteira da reduflação?
O ideal mesmo é estar atento aos preços e às quantidades dos produtos antes de comprar, de forma a detetar a reduflação e fazer uma compra informada. Neste sentido, o docente do ISAG defende que as autoridades competentes deveriam apostar numa "pedagogia de consumo" que deixe os consumidores em alerta para casos de reduflação, até porque as pressões inflacionistas que se fazem sentir sugerem uma multiplicação dos casos deste tipo. E isso já está a acontecer: a própria DECO já lançou um alerta aos consumidores nas redes sociais.
Embora não se trate de uma prática ilegal, os consumidores também podem manifestar o seu desagrado junto das marcas. E para isso deverá seguir um conjunto de passos para que “a crítica venha ao de cima”, segundo o investigador:
- Estar alerta para a prática e procurar informação;
- Guardar os talões e fotografar rótulos;
- Pedir esclarecimentos e manifestar o seu desagrado junto dos gerentes de loja.
Porque é que surge o fenómeno de reduflação?
A reduflação não é um fenómeno novo, tendo sido assistida durante as anteriores crises económicas em Portugal e no mundo. A título de exemplo, Rui Rosa Dias recorda que, em 1987, a companhia aérea American Airlines conseguiu uma poupança de 40 mil dólares (perto de 38 mil euros) anuais, removendo apenas uma azeitona em cada salada servida aos passageiros da classe executiva.
Hoje, o contexto macroeconómico é bem diferente e as empresas veem-se confrontadas com uma forte pressão sobre os custos na cadeia de valor, dado o efeito conjuntado pelos seguintes fatores:
- Sem tempo para retomar do choque da pandemia;
- Constrangimentos logísticos e subida dos preços dos combustíveis;
- subida dos preços da energia e das matérias-primas agravado pela guerra na Ucrânia.
Neste contexto de alta inflação, os fabricantes podem optar por manter o preço final de venda dos produtos, ao qual o consumidor está mais atento, mas reduzindo a quantidade contida na embalagem. E, assim, reduzem a pressão interna sobre os preços.
*Com Lusa
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