Uma casa em Portugal era algo maior do que um sonho para esta família luso-brasileira. Era uma forma de regressar às origens e dar continuidade à arte de receber. Depois de muito procurar, a família Mendes encontrou em Ferreira do Zêzere, Santarém, o lugar certo para pôr mãos à obra e “dar nova vida ao velho”. E assim começa o novo capítulo da história deste casarão verde de estilo senhorial, construído em 1940. Wanderlei e Paula, juntamente com as filhas Gabriella e Camilla, são os rostos da Quinta José & Maria, localizada em Igreja Nova do Sobral, que hoje em dia, além da residência da família, funciona como alojamento local.
“A casa mostrou um potencial enorme desde a primeira vez que a vi. Foi amor à primeira vista. Mandei as fotos para todos os elementos da família e foi unânime a escolha. Esta é a nossa futura casa em Portugal”, explica Paula Mendes, em entrevista ao idealista/news. “Hoje, eu e meu marido Mendes, junto com nossos cães, Zulu e Fiona, moramos na Quinta e as nossas filhas, que trabalham como travel specialists, dividem-se entre Inglaterra, Brasil e Portugal”, acrescenta.
“Já éramos anfitriões Airbnb no Brasil há cinco anos e queríamos continuar a trabalhar com isso em Portugal. A ideia do nome Quinta José & Maria foi uma homenagem aos meus pais, José Gonçalves, português da Ilha da Madeira que foi para o Brasil com 18 anos e Maria de Lourdes, filha de portugueses”, conta.
Paula Mendes explica que encontrou a casa no idealista em junho de 2019. “A partir daí começamos a sonhar. Entre papéis, documentos e tantas exigências por parte da Câmara chegamos quase a desistir, mas tínhamos um grande sonho e lutamos muito até conseguir”, conta. “Após a primeira visita à casa com a imobiliária e acertado o valor com os vendedores, o nosso processo começou a ser analisado pelo banco em setembro de 2019”, acrescenta.
Os desafios de recuperar uma casa antiga
Os papéis seriam entres em janeiro de 2020 e as chaves recebidas dia 19 de novembro de 2020. Os desafios normais deste processo de compra e recuperação de uma casa antiga seriam agravados pelo período de pandemia. Depois de receber as chaves, a família passou quase um mês a viver numa carrinha, do lado de fora da casa. “Era inverno e fazia muito frio, chovia quase todos os dias, ficamos sem eletricidade durante duas semanas a trabalhar apenas a luz do dia e a tomar banho de caneca”, recorda Paula.
Depois deste mês, em que o foco foram as limpezas, conseguiram remodelar o primeiro quarto e, quando ligaram a eletricidade, começaram a dormir dentro da casa e a remodelar as outras divisões. O esforço ia sendo recompensado com as descobertas dentro desta casa com quase 100 anos. “Ao entrar na casa tudo fazia sentido. Apesar de desabitada há quase 15 anos não existiam grandes problemas estruturais”, explica.
A recuperação da casa começou assim que receberam as chaves e tiveram sempre a ajuda profissional nas questões que necessitavam de segurança, como a parte elétrica e alguns problemas na canalização. No entanto, Wanderlei Mendes esteve sempre presente, mesmo nestes trabalhos específicos.
“Quase toda a remodelação foi nossa família que fez e ainda estamos a fazer. Somos muito criativos e gostamos muito de decoração. A maioria da remodelação foi estética, preservamos muito a originalidade da casa por ter características únicas de uma casa de 1940”, diz. Paula Mendes acrescenta que o “objetivo foi sempre manter o máximo possível das estruturas originais, misturar o antigo com o novo e preservar a identidade da casa”.
“A nossa inspiração foi a própria casa, desde o primeiro dia que a vimos percebemos que ela tinha personalidade própria. Digo sempre que as casas antigas são casas com alma”, frisa.
Uma casa para viver (e receber)
Olhando para este projeto, com muitas etapas já concluídas, mas sempre em melhoria, a família Mendes aponta a questão financeira como a maior dificuldade. “Fomos fazendo aos poucos, cada mês fazíamos uma votação do que seria prioritário concluir”, dizem. “Enfrentámos momentos difíceis no início, quando queríamos muito avançar, mas financeiramente não podíamos. A nossa necessidade ajudou a sermos criativos para reutilizar mobílias e materiais que ganhamos de amigos da Quinta José & Maria”.
Em termos de valores, já foram investidos cerca de 20 mil euros em materiais e serviços nestes dois anos e quatro meses, mas é preciso considerar que a maioria dos trabalhos foram feitos pela família. “O trabalho na remodelação foi pesado, mas foi muito compensador. Ficamos ainda mais apaixonados pela casa, e tudo foi feito com muito amor e em família”, adiantam.
Paralelamente, a família Mendes destaca as vantagens, também financeiras, de recuperar uma casa existente: “Ao escolher remodelar estamos a contribuir para algo que já existe, recuperando não só uma casa, mas o ambiente à sua volta, que ganha vida. Principalmente nas aldeias que tem tantas casas lindíssimas à espera que alguém acredite nelas.”
A conta de Instagram @quintajoseemaria tem sido, antes de mais, o diário de obras, mostrando o antes e depois, as limpezas, mas também para dar e receber dicas importantes sobre materiais e serviços. Mas a partilha trouxe também amigos e serve para motivar outras pessoas.
Para quem quiser fazer o mesmo, Paula Mendes deixa algumas ideias: “Primeiro passo diria para pesquisarem bastante. A escolha do lugar, o tipo de casa, se é habitável ou não, as condições que as Câmaras impõem para obras, os valores”, sublinha.
Agora é tempo de continuar na arte de bem receber a família e os hóspedes e pensar em detalhes que possam tornar a casa ainda mais confortável, como uma piscina.
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