Com 201 anos de história, a insígnia portuguesa quer continuar a inovar. Vai manter a aposta no Projeto Artistas Contemporâneos.
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Nuno Barra, administrador da Vista Alegre, explica ao idealista/news o porquê de criar peças exclusivas com artistas convidados

A quem será lançado o convite para a próxima edição do Projeto Artistas Contemporâneos (PAC)? Esta é a pergunta que ecoa na cabeça de colecionadores e que é debatida anualmente dentro da Vista Alegre desde 2008, ano em que nasceu este projeto.

Não escasseiam opções de artistas nacionais e internacionais consagrados ou em ascensão, mas nem todos têm obras que com facilidade se adaptam à porcelana, ressalta Nuno Barra, o administrador da Vista Alegre. É aqui que o critério de seleção começa a afunilar. 

Mas quando, ao olhar para o trabalho de um artista, este dialoga graficamente em perfeita harmonia com uma peça tridimensional em cerâmica, não há margem para dúvidas. 

Até lá, há-que procurar-se no terreno. Foi isso que a própria Vista Alegre fez na escolha da 26ª edição, quando, há sensivelmente um ano e meio, deu por si a observar a exposição que revisitava o legado do artista português Moita Macedo, em Loures, e, além da criação artística, aperceberam-se de que estava à vista a resposta de que precisavam. 

“Um olhar sobre a cidade”, deu nome à jarra original e exclusiva, baseada na obra de Moita Macedo, que já está disponível e limitada a 500 unidades.

Em conversa com o idealista/news, o administrador da marca - fundada em Ílhavo em 1824, que pertence agora ao Grupo Visabeira e tem também a Cristiano Rolando como acionista - , falou sobre estas peças de edição especial e sobre os desafios em conciliar a herança de uma marca histórica com as exigências dos consumidores de hoje.

O que conta este projeto sobre a Vista Alegre?

 

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Parte da frente da 26ª peça da coleção PAC inspirada na obra de Moita Macedo. Lançada em outubro 2025 / Vista Alegre

O PAC é um projeto que desafia os mais diversos talentos de prestígio nacional e internacional a fazerem uma criação exclusiva numa peça da Vista Alegre. De acordo com Nuno Barra esta é uma forma de vincar os valores da marca, que aliam arte e criatividade.

“Desde a sua criação que a Vista Alegre faz colaborações com artistas plásticos e com várias artes criativas, não só com o mercado da pintura, mas também escultura e ilustração”, começa por dizer.

Além disso, é também uma maneira de manter a Vista Alegre a par do seu tempo. “Se neste momento há um artista que o público aprecia, pode ver a sua obra transformada numa peça de porcelana”, salienta.

O administrador fez ainda saber que é dada “bastante liberdade criativa” aos artistas convidados, sobretudo porque muitos já têm à partida uma limitação que passa por trabalharem num formato de peça – tridimensional – por contraste por exemplo a telas que são bidimensionais. 

No processo, há uma inicial seleção pessoal do modelo da peça de porcelana e, posteriormente, “cada um, em função da sua expressão artística e do seu estilo, aborda-a de maneira diferente, acabando por dar-lhe vida”.

No caso desta 26ª edição, Nuno Barra refere mesmo que a peça de Moita Macedo “nasceu como jarra e acaba como peça de arte”. 

Ora, mas é neste ponto que se levanta a seguinte questão: 

Peças de edição especial são para serem usadas ou tem carácter decorativo?

 

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Serviço de louça da Vista Alegre / Vista Alegre

Quer seja em serviços de louça que estão cuidadosamente guardados para ocasiões especiais ou em peças que olham para nós intocáveis do alto dos móveis, certo é que a Vista Alegre entra-nos em casa, mais tarde ou mais cedo, fruto de uma herança ou de um investimento pessoal. 

E quem a tem no lar, sobretudo por meio de peças de edição limitada, que acabam por ganhar um estatuto precioso de verdadeiras obras de arte, certamente já se questionou: devo dar-lhe uso quotidiano ou tê-la como elemento decorativo?

Afinal de contas, quem é que nunca deixou de usar algo tendo em vista a sua preservação e fazendo do receio de estragar levar vantagem?

Mas não há ninguém melhor para responder a isso, senão a própria Vista Alegre. Em declaração ao idealista/news, Nuno Barra esboçou um sorriso e disse: “ambas”.

“É claro que nós quando a lançamos, fazemo-lo numa numa perspetiva artística, é uma peça de arte... mas, [ao mesmo tempo], tem utilidade. Não deixa de ser uma jarra, ou seja, não perdeu identidade”, esclareceu, referindo-se a esta 26ª edição, de Moita Macedo.

O administrador da Vista Alegre sublinhou ainda que este “lado lúdico”, faz com que as peças artísticas ganhem proximidade com o público: “Não é como uma peça de arte tradicional que não se pode tocar, tem que estar na parede”, frisou.

Como a obra de Moita Macedo vai ao encontro da identidade da Vista Alegre?

 

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Parte de trás da 26ª peça da coleção PAC inspirada na obra de Moita Macedo. Lançada em outubro 2025 / Vista Alegre

Moita Macedo já não está entre nós, mas ainda vive dentro do legado e obra “rica” e “muito variada” que deixou. Quem destaca a complexidade da sua dimensão artística é Nuno Barra, que começou desde logo por enfatizar a necessidade de incluir na mesma peça tanto a pintura a óleo, como os desenhos em Tinta da China e a obra poética

“Tínhamos necessariamente que refletir três áreas da obra dele”. Resultado? Uma peça cuja parte da frente conta com uma forte paleta cromática – alusiva aos seus quadros – e uma parte de trás que conjuga uma segunda obra da sua autoria – ilustrando o uso da tinta da China – e é acompanhada pela célebre frase que pautou a sua vida: “Pintei versos. Escrevi quadros”.

Esta tarefa de decorar a jarra de porcelana com as obras da autoria de Moita Macedo foi entregue às mãos da equipa interna da Vista Alegre, composta por 13 designers.

A cor e o seu domínio

Ao idealista/news, o administrador da marca explicou que a Vista Alegre é conhecida no setor da cerâmica a nível internacional pelo domínio e uso da cor. Em contra-partida, “os nórdicos já não fazem isso, usam sobretudo o branco”, exemplificou.

Este foi o ponto introdutório para adiantar que a forma como Moita Macedo trabalha a cor, foi, entre outras razões, um dos motivos que os levou a escolher este artista português para a 26ª edição do Projeto Artistas Contemporâneos. 

“Nós olhamos para esta peça e ela tem um trabalho de cor muito complexo”, confirma Nuno Barra com a peça original e de edição limitada nas mãos. “Não é uma obra repetitiva, é uma obra muito rica”, acrescenta.

O mercado: a adaptação ao presente e os olhos postos no futuro de uma marca com 201 anos 

 

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Coleção Têxteis inspirada no acervo das decorações Vista Alegre / Vista Alegre

A Vista Alegre é uma marca com uma herança histórica, mas nem por isso ficam presos ao passado. Dançam ao ritmo do tempo e mostram-se atentos.

Em conversa com Nuno Barra, o administrador consegue desenhar um perfil do consumidor dos anos 80/90, que com normalidade levaria um serviço inteiro de 70 peças, mas também de um consumidor atual, que opta por misturar peças clássicas com peças contemporâneas; leva em consideração a sustentabilidade e rejeita a ideia de um monoproduto. 

O segredo está na antecipação do que aí vem e, por isso, a aposta estende-se também a outros segmentos. “Nós o que estamos a fazer é preparar a marca no sentido de ela caminhar para o 'lifestyle', ou seja, para que o cliente, quando entrar numa loja Vista Alegre possa comprar os serviços de louça, os móveis, os têxteis, mas também algumas peças e acessórios de moda, que estão dentro do posicionamento da marca”, contou.

“A marca tem que vender mais coisas para além dos serviços e das peças decorativas”

Isto porque, segundo Nuno Barra, os clientes de hoje gostam de encontrar um conceito de lifestyle, de forma a que os produtos da marca encaixem no estilo de vida.

“Já lançámos alguns produtos. Este ano lançámos pela primeira vez uma linha de mobiliário Vista Alegre, que criámos com o estúdio italiano Pininfarina. Já lançámos também acessórios de moda, como echarpes, twilly”, apontou.

 

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Coleção de mobiliário de luxo Vista Alegre com Pininfirina / Vista Alegre

O luxo e a efemeridade

A sensibilidade para questões relacionadas com a sustentabilidade é um ponto que, de acordo com o administrador da Vista Alegre, motiva a que “o luxo tenha começado a crescer muito nas gerações mais novas, como a Gen-Z”. 

A procura de qualidade e o status são também outros pontos que fazem com que, hoje em dia, as faixas etárias mais baixas tenham um peso importante nas marcas de luxo, contrariamente a gerações anteriores. 

Mas vai também além disso. Se por um lado, aquando da compra da primeira casa, os consumidores acabam por comprar serviços mais baratos para dar o arranque, por outro lado, com o passar do tempo vão procurando, gradualmente, alternativas que os distinga dos demais, conta-nos Nuno Barra. 

“Quando as coisas são efémeras, as casas das pessoas são todas muito parecidas umas com as outras, porque se dirigem aos mesmos sítios. Depois começam a sentir a necessidade de dar um toque de personalização. Querem ter elementos diferentes que expressem a sua identidade. Muitas vezes é essa a porta da entrada”, salientou.

O administrador fez saber que a faixa etária entre os 35 e os 50 anos, são o tipo de cliente que procuram o “toque de personalização”, acabando por serem bons clientes na compra de peças mais exclusivas. 

27ª edição do Projeto Artistas Contemporâneos (PAC) a caminho?

Com a 26ª edição já cá fora à luz do dia, a pergunta que se impõe torna a ser: A quem será lançado o convite para a próxima edição do Projeto Artistas Contemporâneos (PAC)?

Já há um nome, mas para já, este fica guardado para Nuno Barra, que entre risos, deixou, uma vez mais, o mistério no ar. 

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Base da 25ª peça da coleção PAC da autoria de José Pedro Croft. Lançada em maio 2025 / Vista Alegre

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