Pedro Carrilho abre as portas do seu atelier no Parque das Nações, em Lisboa, para falar sobre a paixão pelo mundo da arquitetura.
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Pedro Gois (Colaborador do idealista news) ,
Joana Malaquias (Colaborador do idealista news)

Alguma vez pensaste em como serão as casas ou os ateliês dos arquitetos? Reproduzem nos seus espaços o que transmitem nos projetos que desenham ou preferem uma dimensão diferente, mais intimista ou pessoal? O idealista/news inaugura uma nova rubrica que promete levar-te aos lugares dos grandes nomes da arquitetura portuguesa, que nos abrem as suas portas para mostrar a decoração que escolheram para viver ou trabalhar, falar dos seus projetos, e contar a sua visão do design, refletindo sobre o estado atual da arquitetura.

Começamos com Pedro Carrilho. A palavra “respeito” é muitas vezes repetida pelo arquiteto. “Respeito pelo lugares e respeito pela individualidade das pessoas que vivem os espaços”, diz.

O arquiteto, que fundou o seu atelier em 2009, assume um encanto por Lisboa, cidade onde a sua equipa tem executado vários trabalhos de reabilitação urbana nos últimos quinze anos. “Entender Lisboa”, é assim que resume esta paixão.

Sem qualquer referência em termos de profissão na família, chegou a pensar na área da engenharia ou informática, e ainda que lhe possam ter dado algum pragmatismo, a arquitetura falaria muito mais alto.

Recebeu-nos no seu atelier, localizado no Parque das Nações. Neste espaço de trabalho é fácil confirmar que os esquissos são o início de tudo e as maquetes continuam a ser parte importante do processo. E ainda que existam muito projetos fascinantes na história do atelier, Pedro Carrilho confessa que aqueles que mais o entusiasmam são sempre os que estão em cima do estirador.

Pedro Carrilho Arquitectos
Pedro Carrilho - Créditos: Pedro Gois e Joana Malaquias (idealista/news)

A frase que encontramos na porta do vosso atelier “sketching the future” (e no vosso site). O desenho é a vossa base?

Sim, é uma frase que nos diz muito, desde sempre. É a partir do desenho que parte tudo. E continuamos a ser fiéis a essa regra, ao longo destes anos todos.

Antes de tudo, a arquitetura é uma arte?

Sem dúvida, o desenho é a base de tudo, assim como é local. Primeiro é preciso entender o local, entender onde nós vamos intervencionar enquanto arquitetos e depois, de facto, passar para o papel. A reflexão passa pelo desenho. Sem dúvida, o desenho é a nossa ferramenta enquanto arquitetos. É por aí que nós seguimos, é aí que nós temos as nossas certezas em termos de projeto e que materializamos as nossas propostas.

Pedro Carrilho Arquitectos
Créditos: Pedro Gois e Joana Malaquias (idealista/news)

Reabilitação ou construção?

A reabilitação foi um bocadinho por acaso e tem sido, ao longo da vida do atelier, uma enorme aprendizagem. É algo que aprendemos a gostar.

Não pegamos numa folha em branco, no espaço vazio, pegamos numa pré-existência. O processo de reabilitação é um processo de transformação.

Lisboa é uma cidade que valoriza a arquitetura?

Eu acho que sim. Acho que é uma cidade fascinante e nós temos que entender Lisboa. Depois de visitar outras cidades, por esta Europa fora, conseguimos entender Lisboa quando retornamos. Acho que é uma cidade bastante autêntica, com uma arquitetura fantástica, uma escala fantástica também.

Fazendo até uma comparação com outras cidades, Lisboa tem a escola das pessoas, é isso que eu sinto.

Pedro Carrilho Arquitectos
Créditos: Pedro Gois e Joana Malaquias (idealista/news)

Qual a cidade que mais gosta e porquê?

Tenho várias. Enquanto arquiteto adoro cidades. Desde logo: Lisboa. Depois tenho outras cidades de eleição. Posso falar de Barcelona com o seu frenesim; Paris, que tem qualquer coisa que nos faz sempre retornar. Nós não conseguimos explicar o porquê, mas é uma cidade que também gosto muito de viver.

Mas destacaria Roma, pelos layers que existem naquela cidade. Conseguimos perceber perfeitamente o extrato histórico que está associado à própria cidade, há sempre um detalhe, qualquer coisa diferente. É uma cidade com bastante personalidade.

Sempre quis ser arquiteto?

Eu entendo que ser arquiteto é uma vocação, eu acho que é. Hoje noto que, de facto, estava lá essa vocação. Na prática, lembro-me de, em criança, desenhar casas. Não sabia bem porquê, mas desenhava casas, construía casas.  Não tenho nenhum familiar arquiteto, nunca me tinham falado de arquitetura, mas sei que gostava de fazer esse tipo de trabalho. Foi uma coisa muito natural, embora no secundário que eu tenha tido um desvio com as informáticas e as engenharias.

Houve ali um período de negação. Depois percebi que não era por ali o caminho e voltei novamente à arquitetura. Mas considero que esse período tenha sido muito interessante, porque ficou o pragmatismo das engenharias.

Pedro Carrilho Arquitectos
Créditos: Pedro Gois e Joana Malaquias (idealista/news)

Qual o projeto mais marcante?

Ao fim destes 25 anos de profissão, claro que temos projetos que nos marcaram. Mas os projetos que mais nos entusiasmam são sempre os últimos, são aqueles que temos em cima do estirador.

Os projetos que nos marcam e nos deixam de alguma forma orgulhosos são os espaços que estão a ser vividos e são genuinamente apreciados por quem os vive.

Se pudesse escolher qualquer localização, onde seria o atelier?

Seria aqui (Parque das Nações). Este não é o primeiro espaço do escritório, tivemos outros escritórios também da cidade de Lisboa. Espero que seja o último.

Não tenho a certeza absoluta, porque estamos a atingir o limite de capacidade, mas por enquanto este espaço. Quando viemos para este espaço procuramos sobretudo um espaço que fosse muito funcional. É assim que eu vejo os espaços de trabalho: super funcionais e muito polivalentes. Também me agrada imenso estarmos inseridos num espaço urbano que é marcante para as próximas décadas e na história da nossa cidade e do nosso país. É um espaço totalmente novo, mas que já tem 30 anos de desenho. É impressionante, mas é verdade. Acho que é o espaço ideal.

Pedro Carrilho Arquitectos
Créditos: Pedro Gois e Joana Malaquias (idealista/news)

Os espaços de trabalho são como as casas? Querem-se polivalentes?

Quando fazemos casas para clientes, enquanto arquitetos, nós gostamos de ter contacto com a família, tentar entender as famílias. Estamos a desenhar algo que é nosso, mas é sobretudo da família e isso é que é importante. Nas primeiras conversas que temos com a família que nos procura tentamos entender como eles vivem.

Eu, enquanto arquiteto, prezo muita questão da funcionalidade, da polivalência, faz parte da nossa visão e é isso que transmitimos aos nossos clientes.

Existe uma característica comum a todos os vossos trabalhos?

Não, não existe porque respeitamos o lugar. Não me seduz criar “a marca”. Muitos dos nossos edifícios são quase de continuidade. É o respeito pelo lugar, pela arquitetura, entendemos qual é a composição da arquitetura portuguesa. Estamos a falar de reinterpretações.

Isto na reabilitação, porque na obra nova não temos medo nenhum e somos claramente contemporâneos. O nosso trabalho é entender o lugar e as pessoas, e desenhar.

Pedro Carrilho Arquitectos
Créditos: Pedro Gois e Joana Malaquias (idealista/news)

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