
O presidente executivo do BPI, João Pedro Oliveira e Costa, garantiu na sexta-feira, dia 4 de novembro, que o banco irá cumprir com “responsabilidade” a medida aprovada pelo Governo sobre a renegociação do crédito habitação, que, disse, irá abranger uma componente significativa da carteira de crédito da instituição. Até porque a carteira dos empréstimos habitação do banco está a crescer, tendo aumentando 10% entre setembro de 2021 e o mesmo mês deste ano para 14 milhões de euros.
"Iremos dar resposta com grande sentido de responsabilidade", garantiu, sublinhando que a instituição compreende que se está "a viver um momento delicado", pelo que irá "colaborar" e "cumprir a lei", disse João Pedro Oliveira e Costa durante a apresentação de resultados do BPI até setembro, em Lisboa.
Em causa está a medida aprovada pelo Governo que define que a renegociação dos créditos habitação pode ser feita quando a taxa de esforço atinja os 36% ou quando se verifique um agravamento de cinco pontos percentuais.
Quando questionado sobre o impacto da medida para o BPI, João Pedro Oliveira e Costa considerou que “obviamente que terá um impacto significativo”. E explicou porquê: “Irá exigir do lado do banco um esforço adicional significativo, como penso que irá exigir a todo o setor. Haverá uma componente muito significativa da carteira de crédito habitação que vai ser abrangida pelo decreto-lei”, afirmou, dando nota que o banco vai “dar prioridade a esta situação”.

Créditos habitação mais recentes e com prazos longos serão os mais afetados
Escusando-se a entrar em números detalhados, antecipou que os créditos habitação mais recentes – “dos últimos seis, sete anos, os que têm prazos mais longos” – serão os mais afetados. No entanto, o presidente executivo do BPI realçou que o impacto dependerá também da evolução do rendimento dos clientes, pelo que defendeu que “todas as medidas que o Governo venha a implementar relativamente ao tema do emprego” serão importantes.
Sublinhando que o banco “está a fazer o trabalho de casa”, vincou que a instituição irá “ter abertura” para “todas as soluções”. “Diria que temos de ser suficientemente criativos para conseguir encontrar as soluções mais adequadas a cada cliente” no que diz respeito à renegociação dos empréstimos habitação, disse.
Questionado ainda sobre se os clientes irão ficar estigmatizados com o pedido para renegociação dos empréstimos, João Pedro Oliveira e Costa afirmou que “não”. Mas advertiu que é preciso “ter cuidado” para não encaminhar esses clientes “para uma situação pior do que a que estavam”.
O CEO do BPI reafirmou, assim, a “responsabilidade” da instituição financeira: “Quando ouvi o senhor Secretário de Estado a dizer que era importante haver muita responsabilidade por parte da banca, não entendo bem qual é o ponto, porque responsabilidade o BPI tem tido regularmente naquilo que tem feito”.

Carteira de crédito habitação do BPI subiu 10% num ano
Entre setembro de 2022 e o mesmo mês do ano passado, a carteira de crédito do BPI aumentou 7% para 28,9 milhões de euros, sendo que a carteira de crédito a empresas cresceu 4% para 10,9 milhões de euros e a carteira de crédito habitação aumentou 10% para 14 milhões de euros.
Até setembro, os depósitos subiram 8% para 30,4 milhões de euros, com os depósitos dos clientes a representarem 71% do ativo e a constituírem a principal fonte de financiamento do banco, refere em comunicado o banco detido pelo grupo CaixaBank.
Também as comissões líquidas aumentaram 7% para 204 milhões de euros, o que o BPI atribui ao “aumento das operações de crédito, das comissões associadas a contas, intermediação de seguros, vendas de fundos de investimento e seguros de capitalização”. Contas feitas, o produto bancário comercial cresceu, em termos homólogos, 9% para 614 milhões de euros.
Refletindo "essencialmente o investimento realizado na transformação digital e obras em imóveis”, as depreciações e amortizações subiram 11% num ano.

Em matéria de crédito não produtivos, o BPI tem um rácio de ‘non performing loans' de 1,7%. E para fazer face a créditos problemáticos, até setembro o BPI registou imparidades de crédito líquidas de recuperações de 32 milhões de euros. Este valor é o resultado da dotação de imparidades de 62 milhões de euros, a que se descontam três milhões de euros de recuperação de crédito e de 27 milhões de euros (antes de impostos) da venda de uma carteira de 141 milhões de euros de crédito não produtivo.
No final, os resultados do BPI foram positivos: o banco teve lucros de 268 milhões de euros até setembro, uma subida de 18% face aos 242 milhões de euros registados no mesmo período de 2021. E a atividade em Portugal contribuiu com 159 milhões de euros, o que corresponde a um aumento de 25%. Já o contributo da participação no angolano BFA foi de 102 milhões de euros e o contributo do moçambicano BCI de 25 milhões de euros.
Em Portugal, a margem financeira do BPI subiu 10% até setembro, face a setembro de 2021, para 374 milhões de euros, o que o banco justifica com o crescimento do volume de crédito e a refletir já a subida das taxas de mercado.
*Com Lusa
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