Incumprimento de crédito em Portugal está no nível mais baixo desde 1998, abrangendo 0,3% dos créditos habitação, diz BdP.
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Renegociar crédito habitação
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A subida dos juros no crédito habitação tem deixado muitas famílias em sobressalto. Com as prestações da casa bem mais caras e o custo de vida a subir por via da inflação, são muitos os agregados que estão a querer renegociar o crédito habitação de acordo com as novas regras desenhadas pelo Governo. Mas algumas avançam com cautela, dado que podem ser consideradas “clientes de risco”. Mas o governador do Banco de Portugal (BdP) afirma que um empréstimo habitação renegociado não tem necessariamente de ser registado como tendo entrado em incumprimento.

“Não há nenhuma inevitabilidade de que uma renegociação [de um crédito habitação] marque uma situação de incumprimento”, garante Mário Centeno, governador do BdP, citado pelo Jornal de Negócios. “Isso não está previsto no quadro legal vigente, nem no Decreto-Lei n.º 80-A/2022”, o diploma que determina as novas regras para a renegociação dos empréstimos da casa, segundo critérios bem definidos.

O incumprimento de crédito habitação em Portugal está no nível mais baixo desde 1998 (ano a partir do qual o BdP tem dados disponíveis). Em concreto, o rácio de empréstimos habitação vencidos foi de 0,3% em novembro. Mário Centeno diz que o malparado dos particulares é “residual” mesmo nos programas desenhados para evitar estas situações:

  • Plano de Ação para o Risco de Incumprimento (PARI): 68% dos processos abertos são fechados sem incumprimento;
  • Procedimento Extrajudicial de Regularização de Situações de Incumprimento (PERSI): “dois terços dos processos foram extintos por pagamento dos montantes. O número de incumprimentos continua a ser residual”, insistiu o governador.

No conjunto dos dois programas (PARI e PERSI), o incumprimento é de apenas 2%, avançou Mário Centeno.

Quais as desvantagens de renegociar o crédito habitação?

As renegociações dos créditos habitação que forem realizadas ao abrigo do novo decreto-lei vão ativar o PARI. Ou seja, o BdP será informado que o crédito foi reestruturado e o titular passa a ser considerado “cliente de risco”, podendo trazer consequências na obtenção de novos créditos no futuro, tal como alertou Miguel Maya, CEO do BCP.

Há ainda outra consequência à vista: assim que o PARI foi ativado, as famílias verão todos os cartões de crédito cancelados. Trata-se de uma medida de prevenção do Banco de Portugal (BdP) de forma a evitar a contratação de novos créditos, uma vez que estas famílias já se encontram numa situação financeira difícil.

Mesmo assim, as famílias continuam a recorrer a esta ajuda na tentativa de aliviar a taxa de esforço. Mas a Deco - Associação de Defesa do Consumidor tem recebido cada vez mais queixas de famílias que sentem que os bancos estão a dificultar a renegociação dos créditos habitação, mesmo em casos em que a restruturação é possível.

Por outro lado, a mesma associação deu conta que, apesar de os bancos estarem a trabalhar e a pedir documentos para avançar com a avaliação dos casos, o prazo para os bancos analisarem a taxa de esforço (de 45 dias) terminou na segunda-feira e as famílias com baixos rendimentos não foram ajudadas.

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