O mercado de crédito habitação em Portugal está a passar por um momento de ajustamento. Depois de passarem vários meses a subir, os juros nos novos empréstimos habitação estão a inverter a tendência, estando a descer há três meses consecutivos. Quem o diz é o próprio Banco de Portugal (BdP) que revelou que a taxa de juro média das novas operações de crédito habitação voltou a descer para 4,12% em dezembro. Por detrás desta queda poderão estar as recentes descidas das taxas Euribor em reação à manutenção dos juros por parte do Banco Central Europeu (BCE).
“A taxa de juro média das novas operações de crédito à habitação passou de 3,24% em dezembro de 2022 para um máximo de 4,27% em setembro de 2023”, começa por explicar o BdP na nota publicada esta quinta-feira, dia 1 de fevereiro. Desde, então os juros têm vindo a descer ligeiramente terminando o ano nos 4,12%.
E mais informa que os juros médios nos novos créditos habitação em Portugal mantiveram-se superiores à média da área do euro, “mas a diferença reduziu-se, de 0,36 p.p. [pontos percentuais] em dezembro de 2022 para 0,12 p.p. em dezembro de 2023”.
Estes novos empréstimos habitação incluem novos créditos “puros”, bem como renegociações de contratos, entre outras operações, como transferências de créditos. E por tipo de negociação, verifica-se que as taxas de juro nas novas operações "puras" estão agora mais baixas que nas renegociações, depois de passarem mais de um ano e meio sendo superiores:
- as taxas de juro médias dos novos contratos de crédito habitação atingiram o seu máximo do ano em junho (4,27%), situando-se nos 3,98% em dezembro.
- taxas de juro médias dos contratos renegociados cresceram até ao final do ano, atingindo 4,40% em dezembro.
Também salta à vista que o montante de novos contratos de crédito habitação voltou a subir em dezembro de 2023 para 1,3 mil milhões de euros, um valor superior aos 1,28 mil milhões registado no mês anterior e aos 1,1 mil milhões observados um ano antes. E este crescimento tem sido impulsionado sobretudo pelas renegociações de créditos, tal com confirmou ao idealista/news fonte oficial do BdP. Mas o balanço de 2023 não terá sido tão animador, já que o regulador conclui que na habitação houve uma redução de homóloga 12% no valor de novos créditos, totalizando 12,8 mil milhões de euros.
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Taxa mista é contratada por 7 em cada 10 empréstimos da casa
“Em 2023, assistiu-se a um aumento das novas operações de crédito habitação com taxa mista - isto é, empréstimos com taxa de juro fixa num período inicial do contrato, seguido de um período em que a taxa de juro é variável - que passaram de 16% do montante de novas operações em dezembro de 2022 para 71% em dezembro de 2023”, revela ainda o regulador liderado por Mário Centeno.
Em contrapartida, a taxa variável e indexada à Euribor passou de representar 76,5% dos novos empréstimos para compra de habitação própria e permanente em dezembro de 2022, para representar apenas 24% em dezembro de 2023. Esta mudança é explicada pela subida a pique das taxas Euribor nos últimos anos, que se tornaram menos atrativas em detrimento das taxas mistas. Mas agora a Euribor já está a descer, depois de o BCE ter decidido manter as taxas de juro diretoras inalteradas.
“Dada a maior preferência dos devedores para negociar contratos de crédito à habitação com taxa mista, o peso destes empréstimos no stock de crédito à habitação aumentou 10 p.p. em 2023, até se fixar nos 16% em dezembro”, conclui ainda o BdP.
Contas feitas, o aumento das taxas de juro teve reflexo no aumento da prestação média mensal dos créditos habitação: de 339 euros em dezembro de 2022 para 425 euros em dezembro de 2023. Sendo que, ainda assim, metade dos créditos habitação própria e permanente tinha, em dezembro de 2023, uma prestação igual ou superior a 355 euros.
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