
Mario Draghi preside à última reunião como presidente do Banco Central Europeu (BCE) hoje (dia 24 de outubro de 2019), depois de oito anos à frente dos destinos da autoridade monetária da zona euro. O italiano garantiu que iria fazer o que fosse necessário para “salvar o euro”, mas os críticos dizem que o BCE foi longe demais, apontando riscos financeiros às políticas da entidade. Mostramos-te os prós e os contras das “suas” medidas à frente da instituição.
Em causa estão, do lado dos contras, efeitos secundários como eventuais bolhas no imobiliário ou nas obrigações soberanas, a penalização da poupança e a falta de rentabilidade dos bancos europeus. Este é, segundo os oponentes, o lado cinzento da política monetária não convencional que foi seguida por Draghi, escreve o Jornal de Negócios.
Prós e contras das medidas de Mario Draghi
Do lado dos riscos há alertas para a criação de uma bolha no sistema financeiro. Os críticos consideram que as taxas de juro historicamente baixas tornaram o crédito de tal forma fácil que se estão a criar bolhas: o preço dos ativos descola da racionalidade económica. A previsão é que a bolha rebente quando o banco central tiver de aumentar os juros, visto que vai subir os custos com a dívida dos agentes económicos, o que poderá levar a incumprimento e falências de “empresas-zombie”, refere a publicação.
O lado positivo das medidas é a prevenção e previsibilidade, com os responsáveis do BCE a alertarem para o facto dos riscos financeiros não serem a maior preocupação da política monetária, sendo para isso que serve a supervisão financeira, nomeadamente com a implementação de medidas macroprudenciais que evitam a exposição excessiva ao risco.
Sobre o tema poupança, há quem considere que Draghi suga as poupanças, um tema mais sensível na Alemanha. Os críticos argumentam que o BCE beneficia quem está endividado e prejudica os aforradores, pondo em causa as poupanças dos idosos, que não beneficiam da melhoria do mercado de trabalho.
Por outro lado, disparou a criação de postos de trabalho, havendo mais 11 milhões de empregos. E mais: o crescimento económico na Zona Euro ajudou a aumentar os rendimentos dos cidadãos.
No que diz respeito à banca, com os juros baixos, os bancos reduziram a margem financeira do negócio, o que penalizou a rentabilidade de um setor particularmente afetado na crise financeira. Em Portugal, por exemplo, os bancos dizem que as políticas do BCE estão a obrigar a mudanças no modelo de negócios e queixam-se de não conseguirem cobrar aos grandes clientes os juros negativos que pagam pelo excesso de liquidez depositado no BCE, escreve o Negócios.
Paralelamente, a atual política monetária tem ajudado a banca europeia a reduzir o malparado e a reduzir os seus custos de financiamento, além de inflacionar o preço de ativos que estão nos seus balanços como o imobiliário, as obrigações e as ações.
O que pensam os críticos?
“Imagino o que teria acontecido se o BCE não tivesse aligeirado a política monetária”, disse Jens Peter Sørensen, analista do Danske, citado pelo jornal. “O problema é que as taxas de juro baixas ou negativas podem tornar-se contraprodutivas”, acrescentou Eric Dor, professor da IESEG.
Segundo o responsável, é “óbvio” que há uma “bolha artificial no mercado das obrigações”, visto que há quem compre para vender logo de seguida, sem ter em conta o rendimento implícito do ativo, que em muitos casos é negativo. Certo é que a procura por estes ativos também subiu por causa da desaceleração da economia mundial e da tensão comercial.
Para Filipe Silva, do Banco Carregosa, é difícil dizer que a bolha esteja prestes a rebentar. “O sistema financeiro está a caminhar para uma solidez muito maior” face ao passado, referiu, sublinhando que tal atenuará os efeitos de uma potencial bolha. Tudo dependerá da forma como subirão os juros no futuro: se for de forma gradual, “as possíveis bolhas poderão esvaziar-se sem que tenham no mercado o impacto que tantos alertam”, argumentou.
Igualmente preocupado está Filipe Garcia, economista da Informação de Mercados Financeiros (IMF), nomeadamente com o que chama de “vício de juros baixos”. “Não parece ser possível voltar à situação de juros pré-crise sem causar, no mínimo, uma recessão”, avisou.
Para Filipe Silva, apesar das críticas, “todos acabam por sair beneficiados”. “A injeção monetária tem permitido, para já, melhores condições para a generalidade das pessoas”, frisou Filipe Garcia, assinalando, no entanto, que há o risco de “habituação” e de os efeitos não serem “sentidos da mesma forma por todos os participantes”.
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