Nadim Habib arrancou aplausos da plateia do Imocionte 2022, que estava repleta de profissionais do setor da mediação imobiliária.
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Como sobreviver a mudanças, dicas para trabalhadores e empresas
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“A mudança faz parte da nossa vida e é a razão pela qual existimos”. Esta foi uma das primeiras afirmações do economista e professor Nadim Habib, o primeiro orador do Imocionate 2022, que se realizou esta quinta-feira (20 de outubro), no Centro de Congressos do Estoril. Nadim Habib tem a particularidade de “beber” de várias culturas, visto que nasceu na Dinamarca e é filho de uma dinamarquesa e de um líbio, tendo casado com uma portuguesa há muitos anos. Conhece bem, portanto, a cultura dos portugueses. A isso junta a boa disposição e capacidade de comunicação, que arrancou vários aplausos da plateia durante a sua intervenção. As suas palavras terão ajudado os presentes a aprenderem, ou tentarem, pelo menos, a vencer em tempos de mudança

Nadim Habib é especialista em empreendedorismo, estratégia e inovação e deixou, na sua intervenção, alguns exemplos interessantes de como o mundo mudou nos últimos tempos e de como continua a mudar. O mesmo acontecendo com as pessoas e com as organizações/empresas. Tudo está, portanto, em constante mudança. Os desafios são muitos, mas há um caminho a seguir que pode trazer resultados: “Lidar com a mudança não é uma coisa repentina, é fazer as coisas certas todos os dias, gradualmente”. Esta foi a última mensagem deixada por Nadim, pelo meio houve outras, que resumimos de seguida.   

"Lidar com a mudança não é uma coisa repentina, é fazer as coisas certas todos os dias, gradualmente”

Pandemia, que lições e ilações há a retirar?

O que aconteceu nos últimos três anos? "Foi um período em que todos mudámos da mesma forma. A pandemia obrigou-nos a isso”, diz, sublinhando que aprendeu três lições muito interessantes do ponto de vista organizacional.

  • “A primeira é que muitas das alterações que tivemos na forma de trabalhar por causa da pandemia faziam sentido antes da pandemia. A questão é? Porque é que foi preciso uma pandemia para fazermos o que já devíamos ter feito. A primeira razão é que as organizações não gostam de mudança;
  • A segunda lição da pandemia é muito mais positiva, é que como consumidor não senti grande perturbação na minha vida. Compraram-se coisas, casas, comida etc., e tudo funcionava lindamente. Porquê? Porque centenas de milhões de pessoas mudaram em duas semanas. Ou seja, enquanto as organizações não gostam de mudar, os indivíduos são muito bons a mudar. Todos nós mudámos e muito rapidamente;
  • A terceira lição é que em março, maio de 2021, as pessoas diziam que estavam a entrar em ‘burnout’, que não aguantavam mais. Isto tem a ver com a forma como tratámos a mudança, dissemos às pessoas muda, mas vamos voltar, esta é uma mudança temporária. O problema de tratar a mudança como temporária é que obrigamos pessoas a trabalhar em dois regimes, o antigo e o novo regime temporário, por isso é obvio que a pessoa pode entrar em ‘burnout’. Se não se normalizar a mudança, as pessoas vão entrar em ‘burnout’ e resistir a futuras mudanças”.

"(...) Enquanto as organizações não gostam de mudar, os indivíduos são muito bons a mudar. Todos nós mudámos e muito rapidamente"

Empreendedorismo em Portugal
Nadim Habib, economista e um dos oradores do Imocionate 2022 UCI

Ser ou não líder e como lidar com a mudança?

Deixamos em baixo, por tópicos, algumas das afirmações e/ou dicas de Nadim Habib sobre este e outros temas:

  • “O importante não é prever o que vai acontecer, mas perceber como vou lidar com a mudança;
  • Precisamos de competências de gestão para lidar com complexidade e de competências de liderança para lidar com mudança;
  • Líderes ajudam outras pessoas a melhorar. Um líder ajuda uma empresa a mudar, uma equipa a mudar;
  • Quem lidera, independente da dimensão da equipa, está a ser pressionado por três grupos de interesse: primeiro os acionistas, depois os colaboradores e por fim os clientes. Os acionistas querem resultados e dinheiro, mas querem resultados com enorme previsibilidade. Os colaboradores querem dinheiro, mas também previsibilidade, querem saber como vai ser a sua carreira nos próximos anos. Os clientes querem pagar menos, ter mais apoios, etc. E querem também previsibilidade;
  • Temos de dar melhorias de rentabilidade sustentáveis para agradar aos três grupos e dar previsibilidade aos três num mundo em que tudo muda. É preciso prever o futuro, pensar como é que posso construir uma maneira de viver, trabalhar e organizar que consegue vencer em qualquer futuro. É assim que temos de ver as coisas, mas não é fácil;
  • A inflação está a subir, e agora? Em mudança há sempre alguns que vencem e outros que perdem, mas isso também acontece quando não há mudanças”. 
Impacto da pandemia e da guerra no mercado laboral
Foto de Kampus Production on Pexels

Lidar com a mudança é crítico para os portugueses

O professor e economista considera que o primeiro passo a dar pelos portugueses para lidar com a mudança passa, precisamente, por aceitar que esse é um “processo crítico”, havendo sempre um medo, um receio, à mudança. 

E há duas coisas estruturais que estão a acelerar esta mudança, alerta Nadim Habib:

  • “A educação – estamos a gerar as pessoas mais qualificadas de sempre todos os anos. É uma geração brutalmente qualificada e brutalmente exigente. Eles mudam a nossa maneira de pensar as coisas, isto é uma coisa que está a acelerar a mudança;
  • A transformação digital, que muda estruturalmente a maneira como a economia funciona. Durante anos dissemos que os pequenos não concorrem com os grandes, e depois veio o digital… Os pequenos ganharam escala e estão a atacar os grandes, e os grandes estão a começar a perceber que têm de personalizar e de fazer as coisas mais rapidamente”.

Para lidar com estas mudanças, o especialista em empreendedorismo deixa três recomendações:

  • "A primeira coisa é aceitar que o nosso recurso mais escasso não é dinheiro. Tempo e talento são os dois recursos mais escassos. O sucesso de uma empresa é ter receitas e menos custos num prazo de tempo, pelo que cada hora conta. Tipicamente não olhamos para produtividade, mas para trabalho. Por isso, muitas vezes desperdiçamos grandes quantidades de horas a fazer coisas estúpidas, em vez de pensar que cada hora do trabalho tem de ser dedicada a fazer coisas com impacto;
  • Em segundo lugar temos de ser cada vez mais estratégicos. Na crise de 2010 muitas empresas portuguesas foram para fora, para Angola. Não correu bem. Não foram estratégicas. Estavam habituadas a trabalhar num mercado diferente do de Angola. Quando não se sabe tem de se aprender, e aprender leva tempo, e tempo custa dinheiro… Ser estratégico é parar para pensar antes de trabalhar, isso é crucial;
  • Por fim, temos de ser muito mais disciplinados na forma como fazemos as coisas. Todos aceitamos que os clientes que nos pressionam querem previsibilidade, mas há outra palavra importante, confiança. Como é que se constrói confiança? Com disciplina, por ouras palavras, cumprindo promessas. E quando se constrói confiança começa-se a lidar com a mudança com muito mais facilidade".

Nadim Habib rematou a sua apresentação salientando que as pessoas com quem tem trabalhado que têm tido sucesso põem em prática as três recomendações referidas em cima, não sendo algo “muito complexo”. 

Porque é que têm sucesso? “Nunca dizem que foi uma coisa só, dizem que começaram a fazer as coisas certas gradualmente, dia após dia, e que depois, de repente, começaram a ter sucesso”, indica. Já as que falham e não têm sucesso, “adoram culpar a inflação, a crise, a guerra, a Covid-19, etc., mas, na verdade, são pessoas que se recusam a fazer as coisas, e dia após dia tornam-se mais frágeis. Lidar com a mudança não é uma coisa repentina, é fazer as coisas certas todos os dias, gradualmente”, conclui.

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