Juros deverão subir 50 pontos em março. Mas há quem defenda que taxas devem aumentar menos à medida que a inflação desce.
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Subida dos juros pelo BCE
Christine Lagarde, presidente do BCE Flickr | Wikimedia Commons

O Banco Central Europeu (BCE) está seguro de que a sua política monetária deverá apertar ainda mais, apesar das perspetivas para a evolução da economia europeia terem melhorado no início deste ano. A presidente do regulador Christine Lagarde reforçou que vai mesmo haver uma nova subida das taxas de juro diretoras, em 50 pontos base, na próxima reunião agendada para março. Mas há quem defenda, dentro do Conselho do BCE, que as taxas de juro devem aumentar menos à medida que a inflação na Zona Euro desce.

“Os riscos para o crescimento económico são agora mais equilibrados do que eram em dezembro. A guerra da Rússia contra a Ucrânia e o seu povo continua a ser um risco negativo, mas a mais rápida resolução do choque energético deverá servir de amparo ao crescimento. Os riscos para a inflação são agora mais equilibrados, especialmente no curto prazo”, afirmou Christine Lagarde, dirigindo-se aos deputados do Parlamento Europeu na audição anual plenária, que se realizou em Estrasburgo esta quarta-feira, 15 de fevereiro, escreve o Expresso.

Há, portanto, perspetivas mais otimistas para a evolução da economia da Zona euro. Mas o BCE continua a ter intenção de voltar a subir os juros diretores nas próximas reuniões. “Queremos aumentar substancialmente as taxas de juro a um ritmo gradual”, para “garantir o regresso da inflação à meta de 2%”, que assegura a estabilidade dos preços, sublinhou ainda a presidente do BCE.

De notar que a inflação da Zona Euro já tem dado sinais de descida nos últimos três meses (devido essencialmente à diminuição dos preços da energia), mas continua ainda muito longe do objetivo do guardião do euro. As estimativas do Eurostat apontam para que a inflação na Zona Euro seja de 8,5% em janeiro. Mas este valor deverá ser revisto “ligeiramente” em alta, devido aos dados definitivos da Alemanha, escreve o mesmo jornal.

Por outro lado, o BCE continua a ver a inflação subjacente - que exclui produtos energéticos e alimentares, cujos preços são mais voláteis às alterações de mercado – muito acima do esperado face à subida dos juros diretores. Em janeiro, a inflação subjacente ter-se-á mantido nos 5,2%.

Recorde-se que a Comissão Europeia reviu em ligeira baixa as projeções da inflação na Europa para 2023, estimando que, ultrapassado o ‘pico’ do aumento dos preços, a taxa se fixe nos 5,6% na Zona Euro (2,5% em 2024) e nos 6,4% na União Europeia.

Crescimento da economia 2023
Foto de Anna Nekrashevich no Pexels

Qual será a dimensão dos novos aumentos dos juros?

Na última reunião de política monetária, realizada a 2 de fevereiro, o BCE voltou a subir as taxas de juro diretoras em 50 pontos base, elevando a taxa de refinanciamento para os 3%. Esta decisão vai continuar a agravar os juros dos empréstimos habitação de taxa variável, já que influencia a evolução das taxas Euribor.

E anunciou também nessa ocasião que “atendendo às pressões sobre a inflação subjacente, o Conselho do BCE tenciona aumentar as taxas de juro em mais 50 pontos base na próxima reunião dedicada à política monetária, em março, e avaliará então a trajetória subsequente da política monetária", lê-se no comunicado publicado após a reunião.

Mas há quem defenda, dentro do BCE, que os aumentos das taxas de juro devem ser menores à medida que a inflação na Zona Euro diminui. É isso mesmo que diz Fabio Panetta, membro do Conselho Executivo do regulador europeu, argumentando que o BCE deve “calibrar a política monetária de uma forma que seja dependente dos dados, virada para o futuro e adaptável a desenvolvimentos em evolução”. E por isso acredita que “o BCE não deve comprometer-se incondicionalmente com futuras decisões”.

Isto porque continua a existir uma incerteza económica e geopolítica a nível mundial, tornando difícil perceber o impacto real do aumento das taxas de juro nos últimos meses em simultâneo pelos principais bancos centrais mundiais. 

Num evento organizado pelo centro de estudos britânico Centre for European Reform, Fabio Panetta alertou para o risco de o BCE “apertar demasiado” as taxas de juro e desencadear uma recessão em grande escala. 

"Ao suavizar os aumentos das nossas taxas de política - ou seja, movendo-nos em pequenos passos - podemos assegurar que calibramos ambos os elementos com maior precisão à luz da informação recebida e da nossa função de reação”, argumentou. Isto não significa que o BCE não está determinado em combater a inflação, mas sim que procura certificar-se de que vai na "direção certa", defendeu ainda.

“Enfrentamos tanta incerteza em ambas as direções que eu consideraria imprudente avançar muito rapidamente sem ter a certeza de que se está a avançar na direção certa”, explicou ainda o membro do Conselho do BCE na ocasião.

De qualquer forma, o economista avisou que, embora existam sinais de redução dos preços da energia e produtos alimentares e alívio dos problemas com as redes de abastecimento mundial, vai demorar até se refletirem no consumidor. 

*Com Lusa

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