
O Banco Central Europeu (BCE) continua empenhado em trazer a inflação na Zona Euro de volta à meta dos 2%. “Isso significa elevar as taxas a níveis suficientemente restritivos e mantê-las nesse nível pelo tempo que for necessário", garante Isabel Schnabel, membro da Comissão Executiva do BCE. Até porque, em termos reais, a taxa de juro diretora ainda se encontra muito baixo da inflação na maioria dos países do espaço europeu.
O mesmo sublinhou esta semana Christine Lagarde, presidente do BCE: "A prioridade absoluta e imediata do Banco Central Europeu é trazer a inflação para o objetivo de médio prazo de 2% de forma atempada. E vamos consegui-lo", acredita. A inflação na Zona Euro subiu para 7,0%, depois de ter estado seis meses a descer.
A principal arma utilizada pelo BCE para baixar a inflação tem sido precisamente subir as taxas de juro diretoras. Desde julho até maio, os juros diretores já subiram 375 pontos percentuais, elevando a taxa de juro das principais operações de crédito para 3,75% - níveis de 2008, altura da última crise financeira.
É neste patamar – ou até superior – que os juros diretores deverão permanecer até que a inflação dê claros sinais de descida rumo ao objetivo dos 2%. Mas esta política monetária restritiva tem impactos multifacetados e de longo prazo na economia e nos mercados financeiros. E, reconhecendo esses perigos, Isabel Schnabel admite que a importância de monitorizar de perto a atividade bancária no espaço europeu, sobretudo, depois de o Credit Suisse ter passado por sérias dificuldades e dos colapsos bancários observados nos EUA.
De qualquer forma, destacou a resiliência que o sistema financeiro na Zona Euro hoje apresenta, que muito se deve à melhoria do quadro prudencial após a crise financeira global. E lembrou que o BCE dispõe de ferramentas para dar liquidez ao setor financeiro, se necessário, de forma a preservar a estabilidade e a transmissão harmoniosa da sua política monetária. Até porque, segundo Isabel Schnabel, a estabilidade financeira é um pré-requisito para a estabilidade de preços e vice-versa.
Taxa de juro diretora ainda está abaixo da inflação
Apesar de o BCE ter subido a taxa de juro diretora sete vezes em 375 pontos base, a verdade é que continua abaixo da inflação média anual prevista para 2023 pela Comissão Europeia para a Zona Euro (5,8%), o que significa que os juros em termos reais continuam em terreno negativo, não tendo ainda entrada em terrenos claramente restritivos. Contas feitas, a taxa de juro em termos reais na Zona Euro está hoje em -2,05%, escreve o Expresso.
O mesmo acontece na maioria dos países da Zona Euro: os juros diretores são inferiores à inflação prevista pela CE para 2023, evidenciando-se uma taxa de juro real negativa. São os países bálticos que apresentam taxas de juro reais negativas mais elevadas: Eslováquia (-7,15%), Letónia (-5,55%) e Estónia (-5,45%).
Também em Portugal, a taxa de juro real encontra-se negativa. Como os juros diretores estão em 3,75% e a inflação prevista pela CE para 2023 em 5,1%, os juros reais no nosso país são de -1,35%.
As únicas exceções – em que as taxas de juro reais são positivas – são observadas em Luxemburgo (0,55%) e na Bélgica (0,35%), já que a inflação prevista encontra-se próxima de 3%, refere o mesmo jornal. Há ainda outros casos próximos de terreno positivo, como o Chipre (-0,05%) e a Espanha (-0,25%).
Fora da Europa, verifica-se que há casos de sucesso: nos EUA e no Canadá os juros de referência já se encontram acima da inflação e, portanto, os juros reais estão já em terrenos positivos (entre 0,5% e 1%).
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