Tal como já antecipavam vários especialistas de mercado, o Banco Central Europeu (BCE) decidiu fazer uma pausa na subida das taxas de juro diretoras esta quinta-feira, dia 26 de outubro, a primeira desde que começou a apertar a política monetária, há 15 meses. Desta forma, a principal taxa de refinanciamento – que tem efeito nos créditos habitação - vai manter-se nos 4,5%, pelo menos, até dia 14 de dezembro, data da próxima reunião de política monetária.
Com a inflação na Zona Euro a dar claros sinais de descida rumo ao objetivo dos 2% - tendo caído para os 4,3% em setembro, segundo os dados do Eurostat -, a presidente do BCE decidiu manter inalteradas das três taxas de juro diretoras, de forma que as economias consigam absorver os efeitos da política monetária mais restritiva. Esta foi mesmo a primeira vez, após um ciclo de dez subidas consecutivas, que os juros diretores ficam inalterados desde julho de 2022, quando o regulador europeu decidiu começar a apertar a política monetária para colocar um travão à inflação.
"As futuras decisões do Conselho do BCE assegurarão que as taxas diretoras sejam fixadas em níveis suficientemente restritivos, durante o tempo que for necessário"
Assim, com a pausa na subida dos juros decidida esta quinta-feira, as três taxas de juro diretoras mantêm-se nos seguintes valores, pelo menos, até dia 14 de dezembro, quando se vai realizar a próxima reunião de política monetária do BCE:
- Taxa de juro das principais operações de refinanciamento fixa-se nos 4,5%, o valor mais elevado desde maio de 2001;
- Taxa aplicável à facilidade permanente de cedência de liquidez fica nos 4,75%, um valor igual ao registado em outubro de 2008;
- Taxa aplicada à facilidade permanente de depósitos situa-se em 4,00%, sendo, ainda assim, o maior valor alguma vez registado.
"O Conselho do BCE decidiu manter as três taxas de juro diretoras inalteradas", lê-se no comunicado. E explicam porquê: "A inflação desceu consideravelmente em setembro, incluindo devido a fortes efeitos de base, e a maioria da medidas da inflação subjacente continuou a abrandar. Os anteriores aumentos das taxas de juro decididos pelo Conselho do BCE continuam a ser transmitidos de forma vigorosa às condições de financiamento. Tal está cada vez mais a atenuar a procura, ajudando, desse modo, a reduzir a inflação", esclareceram.
Clima macroeconómico pede prudência - mas novas subidas dos juros estão em cima da mesa
Apesar de ter decido fazer uma pausa na subida dos juros, “o BCE mantém um discurso prudente das reuniões anteriores, estando ciente de que a inflação ainda está muito presente e que o inverno iminente, juntamente com as incertezas geopolíticas, não são propriamente ventos a favor de uma diminuição progressiva das taxas”, alerta Miguel Cabrita, responsável pelo idealista/créditohabitação em Portugal. Isto porque além da guerra na Ucrânia, o cenário macroeconómico depara-se agora com os possíveis impactos da guerra entre o Hamas e Israel, nomeadamente ao nível dos preços dos produtos energéticos. A verifica-se, este cenário poderá impactar a evolução da inflação na Zona Euro.
Portanto, o BCE está a olhar para os desenvolvimentos do clima económico mundial com cautela e não descarta novas subidas das taxas de juro diretoras. Recorde-se que Christine Lagarde frisou no fim da última reunião de setembro que "é demasiado cedo para dizer se as taxas de juro do BCE atingiram o seu pico”. Ou seja, depois desta pausa na subida dos juros diretores, o regulador europeu poderá voltar a subi-los mais à frente, como, por exemplo, na próxima reunião de dezembro.
Uma vez mais o regulador alerta que "ainda se espera que a inflação permaneça demasiado elevada durante demasiado tempo, e as pressões internas sobre os preços permanecem fortes". Neste sentido e com base na sua atual avaliação, "o Conselho do BCE considera que as taxas de juro diretoras estão em níveis que, se forem mantidos por um período suficientemente longo, darão um contributo substancial" para que a inflação regresse ao objetivo de médio prazo de 2%. E sobre o futuro referem que "as decisões do BCE vão assegurar que as taxas diretoras sejam fixadas em níveis suficientemente restritivos, durante o tempo que for necessário".
Ainda assim, o regulador europeu está com olhar atento sobre as economias da Zona Euro, uma vez que as suas decisões estão a desacelerar o seu desenvolvimento económico e que há países em risco de entrar em estagflação ou até mesmo em recessão, como a Alemanha. O antigo governador do Banco de Portugal e ex-vice do BCE, Vítor Constâncio, já alertou que é “praticamente inevitável que se verifique uma ligeira recessão” na Zona Euro.
Neste sentido, o BCE sublinha que "o Instrumento de Proteção da Transmissão [da política monetária] está disponível para contrariar dinâmicas de mercado desordenadas, injustificadas e passíveis de representar uma ameaça grave para a transmissão da política monetária em todos os países da área do euro, permitindo, assim, ao Conselho do BCE cumprir mais eficazmente o seu mandato de estabilidade de preços".
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