
Depois de ter decidido manter as taxas de juro diretoras inalteradas na reunião de outubro, o Banco Central Europeu (BCE) está agora a refletir sobre qual vai ser o rumo da sua política monetária a partir de 14 de dezembro, data da sua próxima reunião. Há membros do Conselho do BCE que são favoráveis a deixar a porta aberta para novas subidas dos juros, apesar da inflação na Zona Euro ter descido para 2,9% em outubro (estando perto da meta dos 2%). Isto porque “ainda não podemos declarar vitória contra a inflação, mas estamos no caminho certo”, avisou Isabel Schnabel, membro da Comissão Executiva do BCE.
A ata da reunião de política monetária de 25 e 26 de outubro, publicada esta quinta-feira (dia 23 de novembro) revela que, apesar de o regulador europeu ter decidido manter os juros no patamar dos 4%, alguns membros do BCE “argumentaram a favor de deixar a porta aberta para uma possível nova subida das taxas de juro", que dependerá dos dados económicos, de forma a evitar “um relaxamento injustificado das condições financeiras”.
E os mesmos membros do BCE consideraram que o guardião da moeda única deveria estar preparado "para aumentar as taxas de juro, se necessário, mesmo que tal não faça parte do atual cenário de base". Se uma nova subida das taxas de juro se concretizar na próxima reunião de dezembro será o 11.º aumento das taxas diretores desde julho de 2022.
“Ainda não podemos declarar vitória contra a inflação, mas estamos no caminho certo”, avisa Isabel Schnabel, membro da Comissão Executiva do BCE
O mesmo diz Isabel Schnabel, membro da Comissão Executiva do BCE: “Ainda não podemos declarar vitória contra a inflação, mas estamos no caminho certo”, tendo em conta a descida de valores superiores a 10% para 2,9% em cerca de um ano.
A responsável do BCE disse que, segundo o cenário base da instituição, a inflação vai estar nos 2% na Zona Euro no final de 2025, mas alertou para os riscos desta previsão, salientando que a “política monetária precisa de ser vigilante” para ver se “há sinais na economia” que levem a instituição a acreditar que as previsões podem não estar corretas.
“A nossa política monetária restritiva atual continua apropriada”, indicou, até o BCE estar confiante de que a inflação está a caminho da meta dos 2% que pretende. Até porque a fase final de descida da inflação pode levar ainda algum tempo, alertou. Também os membros do Conselho do BCE consideram que esta última fase para descer a inflação até aos 2% é a “mais difícil”.

BCE deve ser “persistente e vigilante” aos fatores de risco
O que também ficou claro na última reunião é que o BCE tinha deve manter-se “persistente e vigilante". Isto é, persistente na restrição dos juros diretores, durante o tempo que for necessário, uma vez que é “essencial” para trazer a inflação para a meta de 2% no médio prazo. E vigilante face aos potenciais riscos macroeconómicos e geopolíticos que podem mudar o rumo da inflação e criar choques na economia.
"A vigilância implicou que, embora o Conselho do BCE tivesse de avaliar a eficácia das suas medidas e reconhecer os progressos alcançados, devia evitar-se o excesso de confiança e a complacência, tendo em conta os possíveis novos desafios que poderiam surgir até que a inflação regresse ao objetivo", refere o documento.
Entre os fatores de risco para o rumo da economia e da inflação na Zona Euro, Isabel Schnabel apontou:
- o crescimento de salários;
- a resistência de algumas empresas em descer preços depois de os aumentarem com a inflação;
- as questões geopolíticas, com os conflitos que se desenrolam atualmente na Ucrânia e em Israel, podem acrescentar alguma incerteza à equação.
Quanto a Portugal, a responsável apontou riscos para as famílias devido ao peso das taxas variáveis nos empréstimos habitação e realçou a aposta dos portugueses nos certificados de aforro, para compensar a baixa rentabilidade nos depósitos bancários.
Num momento em que a economia da Zona Euro está fraca e as perspetivas económicas estão a agravar-se – embora os dados mais recentes apontem para uma estagnação da atividade e não para uma recessão profunda –, o Conselho do BCE considera que um cenário de aterragem suave seria suportado por balanços sólidos das famílias, algo positivo para a estabilidade financeira.
Em todo o caso, uma vez mais, a decisão sobre o rumo das taxas de juro diretoras – se vão subir ou manter-se (as descidas são, para já, prematuras) –, que vai ser decidido na próxima reunião agendada para 14 de dezembro, vai depender do crescimento do PIB no terceiro trimestre, das taxas de inflação observadas em outubro e novembro, bem como dos novos dados monetários e das novas projeções macroeconómicas.
*Com Lusa
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