
O atual clima marcado pela inflação e pela subida das taxas de juro tem influência na vida das famílias, mas também nos negócios. A verdade é que boa parte do tecido empresarial português é resiliente ao atual contexto económico. Mas há ainda milhares de empresas que estão em risco de não conseguir resistir à presente crise. Os negócios imobiliários e a construção encaixam-se nesse grupo de risco. Explicamos.
A Informa D&B analisou o nível de resiliência das empresas portuguesas e cruzou-o com o “Risco de Failure”, que reflete a probabilidade de nos próximos 12 meses uma entidade cessar a sua atividade com dívidas por liquidar. E concluiu que em 2023 cerca de 13% das empresas estão numa situação em que é mais provável não conseguirem resistir à presente crise. Mas que empresas são estas? Cerca de 23% das empresas de Alojamento e Restauração têm maior risco de não conseguir aguentar o embate da crise que se avizinha ao longo deste ano.
Muito embora o imobiliário e a construção sejam considerados setores resilientes, tendo dado provas disso mesmo durante a crise pandémica e durante um ano marcado pela guerra na Ucrânia, neste estudo a Informa D&B considera que há empresas nestes dois setores em risco de não resistir à crise inflacionista atual. Cerca de 16% destas empresas com atividades imobiliárias vão enfrentar sérias dificuldades este ano, diz o documento. E também o setor da construção possui 11% das empresas em risco de fechar.
Isto pode ser explicado por constrangimentos tanto no lado da oferta como da procura. A subida dos preços dos materiais, a falta de mão de obra (e mais cara) e os atrasos nos licenciamentos sobem ainda mais os orçamentos das construtoras, que acabam por se refletir nos preços finais das casas, encarecendo-os. Por outro lado, a inflação, a subida dos preços das habitações e o aumento dos juros no crédito habitação já estão a abrandar a compra de casas.
Inflação e subida de juros geral incerteza nos negócios em 2023
“2022 foi o ano com menos encerramentos de sempre”, concluiu a Informa D&B, que deu conta que durante o ano passado foram fechadas 12.988 empresas, menos 8,8% face a 2021. Também houve uma descida das insolvências no nosso país entre estes dois momentos (-17%), “mantendo a tendência decrescente que se verifica desde 2012, com exceção do primeiro ano de pandemia”, explicam ainda.
Por outro lado, foram criadas em Portugal 48.404 novas empresas durante o ano passado (+14% do que em 2021), assistindo-se a uma “significativa recuperação após a forte queda durante a pandemia de Covid-19”. E isto faz com o que o balanço de 2022 seja bem positivo: entre o aumento novas empresas e “a queda dos encerramentos e insolvências, o resultado é um aumento significativo das empresas ativas em Portugal, que no final de 2022 são quase 550 mil”, afirmou Teresa Cardoso de Menezes, diretora geral da Informa D&B, em comunicado enviado às redações.
Mas o contexto económico continua a mudar na Zona Euro – e por conseguinte em Portugal - , dada a subida contínua dos custos das matérias-primas, o aumento das taxas de juro pelo Banco Central Europeu e a alta inflação que ainda se faz sentir. Estes fatores geram incerteza para os negócios em 2023 e podem mesmo travar o consumo e o investimento, da seguinte forma:
- Custos de financiamento mais caros dada a subida dos juros. Por conseguinte também aumenta a dificuldade de acesso a financiamento bancário;
- Possível redução da procura por bens e serviços dada a política monetária mais restritiva e a subida da inflação;
- Elevada instabilidade dos preços e impactos negativos na rentabilidade;
- Aumento estimado de insolvências a nível mundial em 2023, que pode ser um fator de agravamento das insolvências em Portugal.
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