Rita Barata Castro, Communication Manager da Ecosteel, fala ao idealista/news sobre o negócio das casas barco em Portugal.
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Que vantagens tem quem investe numa casa barco? Será esta, cada vez mais, uma opção a ter em conta para viver, nomeadamente em tempos de pandemia? São muitas as perguntas que podem ser colocadas, mas uma coisa parece ser certa: este é um negócio que está a crescer em Portugal. “Pela nossa experiência, é um investimento que está a ganhar cada vez mais interesse”, conta ao idealista/news Rita Barata Castro, Communication Manager da Ecosteel, empresa que comprou, este ano, a Gofriday, entrando assim no mundo das casas barco.  

Mas o que é uma casa barco? O idealista/news fez-se à estrada e conheceu, ao vivo, uma destas casas flutuantes, que estava atracada em Caldas de Aregos, no concelho de Resende, em pleno rio Douro. Na entrevista, realizada no terraço da casa flutuante, num cenário de cortar a respiração – a casa foi comprada por dois cidadãos estrangeiros –, Rita Barata Castro explica o que motivou a Ecosteel, uma empresa portuguesa especializada em sistemas de janelas, caixilharias e estruturas metálicas de suporte, a “expandir o seu negócio” e a apostar nas casas barco. 

Uma aventura para fora de terra que está a dar frutos, revela: “Estamos com uma carteira de encomendas bastante feliz, ou assustadora, conforme o ponto de vista, porque temos um contacto nos EUA que provavelmente adquirirá 20 unidades. Isto implica um aumento de produção exponencial. Neste momento, estamos com três a serem construídas, e dar um salto de três para 20 é um salto bastante grande. As perspetivas são francamente otimistas”. 

Casas barco estão a atrair todo o tipo de investidores
Rita Barata Castro, Communication Manager da Ecosteel Frederico Weinholtz

A Ecosteel comprou a Gofriday no início do ano. Como foi esse processo?

As negociações começaram em pré-pandemia e a aquisição formalizou-se no início deste ano. A Gofriday é um projeto que começou originalmente na Universidade de Coimbra, um projeto académico muito interessante que foi encontrado pela Ecosteel como sendo um projeto com um potencial de mercado enorme, mas que no fundo era um pouco académico. E a Ecosteel viu aqui uma oportunidade de transformar um modelo mais académico num modelo de negócio que achámos que poderia ser interessante e que também encaixava com os valores da nossa empresa: o respeito pelo meio ambiente, a sustentabilidade, a ecologia, um estilo de vida ‘easy going’. 

Trata-se de uma aquisição em plena pandemia. Estamos a falar de que ordem de valores, em termos de investimento?

Foi um projeto originalmente financiado pelo Horizonte 2020, portanto aconteceu ainda na fase da Universidade de Coimbra. O desenvolvimento do projeto já existia e a aquisição da Gofriday não implicou um investimento de capital muito significativo.

Pode afirmar-se que, com a aquisição da Gofriday, a Ecosteel entra no mundo das casas barco?

Sem dúvida. E agora, que também somos mais conhecedores deste mercado, que também era novidade para a Ecosteel, podemos dizer com bastante orgulho que é uma das casas barco mais interessantes no mercado, mais confortáveis e mais semelhantes ao conforto de um apartamento com a graça de poder navegar.

"Sem dúvida que podemos dizer que a Ecosteel entra no universo das casas barco com a aquisição da Gofriday"

Há diferenças entre uma casa barco e uma residência flutuante?

A diferença entre o que se chama uma casa barco ou uma casa flutuante prende-se com o facto de uma ser navegável e a outra não. Uma casa flutuante está, em princípio, ancorada, é uma casa que está assente sobre água, mas é fixa. E uma casa barco é uma casa que pode navegar, viajar. Essa seria a grande diferença. 

O que atrai os investidores a adquirir casas barcos?

Pela nossa experiência, é um investimento que está a ganhar cada vez mais interesse, havendo cada vez mais pessoas potencialmente interessadas. O perfil dessas pessoas? Por um lado, são pessoas como a Toni e o Stefan, [os proprietários da casa barco visitada pelo idealista/news], que são clientes privados que procuram uma segunda casa, mais afastada dos grandes meios urbanos, mais em comunhão com a natureza e, portanto, uma segunda residência de férias. Por outro lado, temos investidores ligados ao setor do turismo, que procuram oferecer unidades turísticas com um certo sentimento de exclusividade, autonomia e afastamento dos outros. Ou seja, comparando com um hotel tradicional, que no fundo são uma série de quartos com um corredor comum, aqui conseguem oferecer um tipo de experiência turística e hoteleira absolutamente privada, e isso também tem despertado bastante interesse. 

"É um investimento que está a ganhar cada vez mais interesse, havendo cada vez mais pessoas potencialmente interessadas"

Quantas casas barco é que a Gofriday tem construídas e quantas estão em construção?

Neste momento, em Portugal temos três casas barco da Gofriday. Está a ser produzida uma em fábrica, nas nossas instalações na Póvoa de Varzim e em Esposende. Começou hoje [21 de setembro de 2021] a montagem de uma nova casa barco na Marina do Freixo, no Porto, que estará pronta em breve. 

Internacionalmente temos três casas barco na China, temos uma pré-encomenda de 20 unidades, ou seja, 20 casas barco para os EUA, o que para nós é um salto de produção bastante importante, e estamos com vontade de enfrentar este desafio. E há uma também em França. Não sei precisar em que rio, mas há também uma em França.

Há portugueses interessados em investir em casas barco?

Há uma casa barco na barragem de Cabril, na zona de Leiria, que foi adquirida por um português para exploração turística e estamos em negociações com o rio Minho, com a Marina de Cascais e também com o Algarve para instalar novas casas barco. Sim, há portugueses interessados em adquirir casas da Gofriday, sendo que o nosso principal mercado ainda é externo.

"Temos uma pré-encomenda de 20 unidades, ou seja, 20 casas barco para os EUA, o que para nós é um salto de produção bastante importante"

Quanto tempo demoram a ser construídas as casas barco e onde são construídas?

Neste momento, uma vez que a aquisição desta empresa é muito recente por parte da Ecosteel, estamos a mudar a produção das casas, que anteriormente se fazia em Coimbra, para a zona da Póvoa de Varzim e de Esposende, onde temos as nossas instalações. Toda a produção ‘indoor’ é feita nas nossas instalações, ou seja, toda a parte de estrutura: os flutuadores são produzidos por nós, a parte de caixilharia e todos os módulos são depois montados ‘in situ’. No fundo, é como se fosse uma estrutura em “lego”, em que o que é mais fixo e pesado é produzido na fábrica e transportado para o local, e depois é montado no local onde se desejar.

Procura por casas barco dispara na pandemia
Rita Barata Castro, Communication Manager da Ecosteel Frederico Weinholtz

Preveem construir muitas casas barcos em breve. A carteira de encomendas é longa?

Estamos com uma carteira de encomendas bastante feliz, ou assustadora, conforme o ponto de vista, porque temos um contacto nos EUA que provavelmente adquirirá 20 unidades. Isto implica um aumento de produção exponencial. Neste momento, estamos com três a serem construídas, e dar um salto de três para 20 é um salto bastante grande. As perspetivas são francamente otimistas. Assumindo que é o nosso primeiro ano, acabámos de fechar o primeiro semestre da Gofriday como nossa propriedade, é difícil ainda fazer estas previsões com toda a certeza, porque não temos passado para comparar, mas a nossa previsão é, seguramente, a partir de 2021 duplicar ou triplicar as vendas que temos neste momento.

Que tipologias de casas barco existem e quanto podem custar?

As casas barco têm uma largura fixa de seis metros e o comprimento varia entre 10 a 18 metros, sempre de dois em dois: pode ser de 10, 12, 14, 16 ou 18. Em termos de tipologia, a unidade mais pequena seria um T0 ou um open space e a unidade maior um T4. Esta casa barco [a de Caldas de Aregos, que o idealista/news visitou] é o produto que mais se procura: é um T2 que tem um quarto de casal e um quarto com um beliche, portanto daria para quatro pessoas. 

Em ordem de valores, falamos entre 150.000 euros para o modelo mais reduzido, o de 10 metros de comprimento, e que poderá ir até 400.000, 450.000 euros numa versão com mais área, com 18 metros de comprimento, e com todos os equipamentos extra que esta casa barco pode oferecer, muitos deles vinculados à sustentabilidade: uma estação própria de tratamento de águas residuais, para que possam ser devolvidas ao rio absolutamente limpas, captação de energia solar, captação da água e transformação/purificação da água para consumo do próprio barco, sistema de ar condicionado, sistema de aquecimento. Com todos os gadgets e extras incluídos estaríamos nos 400.000, 450.000 euros. 

"As casas barco têm uma largura fixa de seis metros e o comprimento varia entre 10 a 18 metros, sempre de dois em dois: pode ser de 10, 12, 14, 16 ou 18"

Quem investe neste tipo de produto, investe numa casa amiga do ambiente. Que especificidades tem uma casa barco em termos de sustentabilidade?

Em termos de sustentabilidade, esta é uma casa barco absolutamente responsável, e não poderia ser de outra maneira, porque quem procura este tipo de experiência de vida são pessoas que já têm uma afinidade pela natureza, pelo rio, pela água, pela navegação e, portanto, procuram essa responsabilidade ecológica. 

Em termos de prestações específicas, há uma área de cobertura revestida com painéis solares, que servem para carregar as baterias que alimentam toda a casa. A casa é autossuficiente com energia solar durante sete dias, portanto não precisa de ligação à eletricidade e de nenhum extra além das baterias. Conta com uma estação de tratamento de águas residuais, para que possam ser devolvidas ao rio, tem um sistema de aquecimento, uma salamandra, que funciona de modo absolutamente ecológico e muito rápido a aquecer toda a casa, e toda a caixilharia tem um corte térmico e acústico, o que permite evitar grandes perdas de frio ou de calor. 

A casa barco tem também capacidade para recolher a água do rio e purificá-la, passando essa água a ser própria para consumo, através de um sistema muito semelhante aos filtros caseiros de purificação de água. 

Esta casa barco [onde estamos] tem um motor que é alimentado a gasolina, mas há também a possibilidade de contar com um motor 100% elétrico, e aí estaríamos num nível ainda mais de responsabilidade ecológica e de respeito com o meio ambiente.

A casa barco é entregue chave na mão? O que traz em termos de produto final?

É um produto bastante chave na mão. Todo o layout interior da Gofriday é desenhado de origem: o móvel de cozinha, a mesa, as cadeiras, até o carrinho de apoio de madeira com rodinhas, que é pensado exatamente para a mobilidade da casa barco. É um produto bastante acabado. As camas, o beliche, a casa de banho, vem tudo de origem. Evidentemente que se houver um pedido especial poderá repensar-se, mas é um produto pensado para ser entregue bastante acabado, e com um layout que é absolutamente adequado ao ambiente em que estamos.

"Em ordem de valores, falamos entre 150.000 euros para o modelo mais reduzido, o de 10 metros de comprimento, e que poderá ir até 400.000, 450.000 euros numa versão com mais área, com 18 metros de comprimento (...)"

A pandemia alterou a forma como as pessoas habitam e olham para a casa, sendo o teletrabalho, por exemplo, mais comum. Um modelo de habitação deste género conjuga o melhor dos dois mundos?

Uma habitação deste género, sem dúvida, conjuga aquilo que toda a gente agora procura, depois da pandemia, depois ou durante. Ainda que seja uma mera coincidência o facto de nós temos arrancado com este negócio pós-pandemia, de facto há uma procura muito crescente por este tipo de soluções um pouco mais afastadas, mais eco friendly, mas sem perder o conforto que se tem num apartamento comum, seja ele uma boa ligação à internet, ou um certo conforto térmico, ou mesmo de mobília de cozinha. Não falta aqui nenhuma das comodidades que se encontram num bom apartamento em qualquer cidade.

Estas casas barcos podem navegar em todas as águas?

Podem navegar no que se chama, o termo técnico, águas protegidas, em linguagem comum costumamos dizer em águas calmas, que no fundo significa água de rio, de barragens, de lagoas. Não é uma casa que possa estar em mar aberto. Navega a uma velocidade máxima de seis nós, mas em termos de mobilidade não tem nenhum tipo de limite de alcance de quilómetros que possa fazer. Os proprietários desta casa, por exemplo, já fizeram passeios desde o Porto, do Centro Histórico do Porto, até à Régua, portanto sobe barragens como qualquer barco comum.

Há mais casas barco a serem fabricadas em Portugal, através de outras empresas?

Penso que sim, mas são bastante diferentes. O que há em termos de concorrência são plataformas em que em cima o que têm é uma casa flutuante: nenhuma delas tem capacidade de navegar como as da Gofriday. E há uma coisa que pode parecer um detalhe, mas que entrando na casa faz uma grande diferença: é o facto de o interior destas casas barco terem um pé direito livre de 2,40 metros, a altura que se tem num apartamento comum. As outras casas que existem no mercado em Portugal têm tetos de 1,90/2 metros, o que faz com que se tenha uma sensação um pouco mais apertada. Aqui tentamos mais que seja uma casa que navega e não tanto um barco onde se vive dentro

É possível ver estas casas barco noutros rios de Portugal? 

Sem dúvida que será possível ver mais casas barco da Gofriday noutras águas calmas em Portugal, sejam eles rios ou barragens, e espero em breve poder partilhar a notícia de onde estarão localizadas essas outras unidades.

Quanto prevê investir a Gofriday/Ecosteel nos próximos tempos?

No fundo, para a Ecosteel, que é um grupo de empresas com áreas de negócio bastante diversificadas, é um investimento que acaba por ser um pouco “caseiro”, sem querer ser mal interpretada com a palavra. Digo isto porque a Ecosteel tem uma empresa que trabalha com fibra de vidro, e por isso os flutuadores são feitos em fibra de vidro e passam a ser produzidos por nós. É uma empresa que é fundadora da marca Otima Much more than a Window, uma marca de caixilharia minimalista, portanto tem o know how de trabalhar com caixilharia de alumínio, que é o que reveste estas casas barco. Tem também uma empresa de construção modular em altura em estrutura metálica, que é precisamente o tipo de estrutura que é usado nestas casas. É o casamento perfeito. 

"Portugal felizmente está na moda. Digo felizmente porque acho que ainda há espaço de crescimento. E acho também que a região Norte e o Douro estão a receber uma projeção internacional que até então não tinham, não era assim"

Estamos a investir, basicamente, numa nova equipa de mão de obra, porque em termos de matéria prima são tudo coisas que já existiam no coração da empresa, e esse foi também um dos motivos que motivou a aquisição da Gofriday por parte do grupo Ecosteel.

Que custos podem ter, em média, os proprietários com a manutenção de uma casa barco? 

Em termos de manutenção, diria que praticamente não é uma questão. Os próprios donos desta casa barco dizem que estão absolutamente contentes e que não tiveram qualquer gasto de manutenção, além de algum problema elétrico que facilmente se resolveu. O único custo implicado seria o de pagar um lugar numa marina: não sou especialista na matéria, mas creio que os custos variam muito conforme o sítio onde estamos. Em Caldas de Aregos, perto de Resende, os proprietários desta casa barco disseram que pagavam, se não me engano, 150 euros por mês.

Apesar de estarmos a passar por uma pandemia, este é o momento ideal para atrair investidores estrangeiros a Portugal, nomeadamente que possam apostar neste tipo de produto?

Portugal felizmente está na moda. Digo felizmente porque ainda há espaço de crescimento. E acho que a região Norte e o Douro estão a receber uma projeção internacional que até então não tinham, não era assim. E também em termos de gestão da pandemia, apesar de no início ter sido um dos países da Europa que estava pior, estamos hoje com uma taxa de vacinação bastante alta. A projeção internacional de Portugal é de responsabilidade, é de um país seguro, de um país de gente extremamente simpática.

Cada vez mais os grandes investidores procuram um bocadinho de amor nos negócios que fazem, e Portugal tem todas as condições para oferecer esse carinho e receber os investidores estrangeiros de braços abertos, sem deixar de ter todas as prestações que se encontram em qualquer capital europeia.

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