A proptech imobiliária espanhola Tiko aterrou em Portugal em novembro de 2021, em plena pandemia, prometendo agilizar e facilitar o processo de compra e venda de casas. Esta é uma das iBuyers a operar no país, empresas cujo modelo de negócio tem a tecnologia como aliada. Disso mesmo dá conta Ana Villanueva, CEO Ibéria e cofundadora da Tiko, em entrevista ao idealista/news: “Posicionamo-nos como verdadeira empresa tecnológica, uma vez que acreditamos que a tecnologia é a chave para eliminar constrangimentos do processo de compra e venda de casas, e assim proporcionar uma grande experiência ao cliente”.
A verdade é que o negócio da iBuyer está a crescer a olhos vistos em Portugal. Depois de Lisboa, a empresa apostou na região de Setúbal e, mais recentemente, entrou no Porto, onde tem também um escritório. Ana Villanueva assegura que a Tiko tem “planos para continuar a expansão tanto em Portugal como noutros países europeus” e adianta que ambiciona ser “o iBuyer de referência na Europa”. “Vamos aproveitar a nossa tecnologia para estar em 25 cidades muito em breve”, revela, salientando que o investimento inicial da operação em Portugal aumentou, tendo passado de 30 para 50 milhões de euros.
Que impacto está a ter ou terá a guerra na Ucrânia no negócio da Tiko e no setor imobiliário em Portugal? Em resposta a esta pergunta, a CEO e cofundadora da iBuyer aponta o dedo à subida da inflação, das taxas de juro e, consequentemente, da prestação da casa, mas lembra que a proptech “não é diretamente afetada” por estes (e outros) fatores. Paralelamente, considera que, “apesar da dramática crise humanitária, Portugal e o mundo estão a beneficiar da fuga de talentos, especialmente tecnológicos, da Ucrânia”. Para Ana Villanueva, uma coisa é certa: “Portugal irá continuar a ser um país muito atrativo para investidores imobiliários, especialmente nos espaços residenciais e logísticos”.
Estes são alguns dos temas abordados na entrevista concedida por Ana Villanueva ao idealista/news, que pode ser lida em baixo na íntegra.
A Tiko chegou a Portugal em novembro de 2021, tendo escolhido o mercado imobiliário de Lisboa para iniciar a sua expansão internacional. Que balanço faz da operação em Portugal? Está a corresponder ao esperado?
Na verdade, excedeu as nossas expectativas. Chegámos a Lisboa no último trimestre de 2021 com uma visão muito otimista e a certeza de que estávamos a partir de uma situação preferencial, dado o nosso modelo de negócio e tecnologia inovadores.
Depois de estarmos operacionais e passados cinco meses, podemos confirmar uma procura crescente, mesmo de localizações de Portugal onde ainda não estamos presentes. De facto, aumentámos o nosso investimento inicial de 30 para 50 milhões, o que facilitou a nossa chegada ao Porto.
Além de Lisboa, a Tiko está também presente em Setúbal e, agora, no Porto. O plano de expansão está a correr conforme previsto? A expansão para Setúbal e para o Porto já estava prevista ou foi de certa forma antecipada? Porquê?
O plano de expansão está a ser mais rápido do que o previsto. Tínhamos a ambição de crescer para além de Lisboa, mas a grande resposta do mercado português está a encorajar-nos a executar o nosso plano de expansão mais rapidamente.
Está prevista a expansão a outras cidades portuguesas? Quais? Quando?
Temos planos para continuar a expansão tanto em Portugal como noutros países europeus. A nossa ambição é sermos o iBuyer de referência na Europa. Vamos aproveitar a nossa tecnologia para estar em 25 cidades muito em breve.
"A nossa ambição é sermos o iBuyer de referência na Europa. Vamos aproveitar a nossa tecnologia para estar em 25 cidades muito em breve"
Porquê a escolha de Portugal para a Tiko iniciar a sua internacionalização?
Existe uma forte cultura de compra de casa versus arrendamento, que se traduz num elevado volume de transações. Além disso, os custos de transação são relativamente baixos e as taxas de agência de mediação imobiliária relativamente elevadas, o que torna o nosso modelo especialmente atrativo. Sendo o primeiro iBuyer internacional a “aterrar” em Portugal, vimos isto como uma oportunidade.
Finalmente, sentimos Portugal muito próximo, não só geograficamente, mas também do ponto de vista cultural, o que ajudou a executar de uma forma divertida e sem problemas.
Em termos de investimento, quanto é que a Tiko já investiu em Portugal até à data e quanto prevê investir até final do ano?
Graças à grande receção do nosso negócio em Lisboa e ao financiamento recebido, decidimos aumentar o investimento inicial em Portugal para 50 milhões para os próximos cinco anos.
Quantas casas é que a Tiko já vendeu e comprou em Portugal até à data e quantas espera vender e comprar até final do ano?
Normalmente não partilhamos números de transações, mas posso dizer que estamos a crescer a um ritmo muito bom.
Há outras iBuyers a operar em Portugal. O que distingue a Tiko da concorrência?
Posicionamo-nos como verdadeira empresa tecnológica, uma vez que acreditamos que a tecnologia é a chave para eliminar constrangimentos do processo de compra e venda de casas, e assim proporcionar uma grande experiência ao cliente. Por exemplo, a Tiko recolhe e trata os seus próprios dados, que depois alimentam a sua ferramenta de avaliação de propriedades. Isto permite-nos fazer uma oferta imediata para a casa de um vendedor privado, sem sequer a visitar. Poderemos dizer que qualquer pessoa pode vender uma casa sem sair do sofá.
"Posicionamo-nos como verdadeira empresa tecnológica, uma vez que acreditamos que a tecnologia é a chave para eliminar constrangimentos do processo de compra e venda. (...) Poderemos dizer que qualquer pessoa pode vender uma casa sem sair do sofá"
A tecnologia também é fundamental para a eficiência operacional, não só para proporcionar o melhor das experiências, mas também para fazer girar o dinheiro rapidamente e em escala. No final, o nosso negócio consiste em obter margens razoáveis sobre um elevado volume de transações imobiliárias, e esta escala só pode ser alcançada com tecnologia.
O que têm a ganhar os clientes que optam por escolher a Tiko para vender a sua casa ou para comprar uma?
A Tiko é uma compradora direta de imóveis, não um intermediário. Portanto, aqueles que vendem não têm de esperar até encontrar um comprador. Basta preencher um pequeno formulário que se encontra no nosso site e recebe uma oferta. A Tiko encarrega-se de toda a formalização do processo, para que o vendedor não perca energia ou tempo. Com isto, o vendedor pode esquecer:
- visitas;
- negociações intermináveis;
- preenchimento de documentos;
- surpresas desagradáveis como ter um potencial comprador que não consegue empréstimo.
Em suma, transformamos um processo longo, stressante e demorado numa experiência curta e agradável. Proporcionamos rapidez, conveniência e muita paz de espírito.
Por quantas pessoas é composta a Tiko em Portugal e onde é que a empresa tem escritórios?
Somos uma equipa verdadeiramente global, com colegas não só em Espanha e Portugal, mas também na Turquia, onde temos a maior parte da nossa equipa tecnológica. Quanto aos escritórios físicos portugueses, estamos atualmente em Lisboa e no Porto.
"Transformamos um processo longo, stressante e demorado numa experiência curta e agradável. Proporcionamos rapidez, conveniência e muita paz de espírito"
A entrada da Tiko em Portugal ocorreu em plena pandemia e o mundo depara-se, agora, com uma guerra. Que impacto está a ter o conflito armado entre Rússia e Ucrânia no negócio da Tiko? E no setor imobiliário em Portugal em geral?
Todos sabemos que um dos principais impactos desta infeliz guerra na economia em geral é a inflação e o aumento das taxas de juro, que depois se traduz no custo do crédito habitação. A Tiko não é diretamente afetada por isto, uma vez que temos o nosso próprio investimento para a compra de casa.
Por outro lado, e apesar da dramática crise humanitária, Portugal e o mundo inteiro estão a beneficiar da fuga de talentos, especialmente tecnológicos, da Ucrânia.
Portugal há muito que está na mira dos investidores estrangeiros, que olham para o país como o lugar ideal para investir em imobiliário, nomeadamente no setor residencial. Considera que este cenário se vai manter, mesmo agora tendo em conta o atual contexto de guerra?
Sem dúvida. Portugal irá continuar a ser um país muito atrativo para investidores imobiliários, especialmente nos espaços residenciais e logísticos. Na Tiko, já estamos a colaborar com investidores de nível mundial em Espanha e gostaríamos de o fazer também em Portugal.
"Portugal irá continuar a ser um país muito atrativo para investidores imobiliários, especialmente nos espaços residenciais e logísticos"
Inflação a disparar, taxas de juro a subir, custos de construção a aumentar, escassez de materiais… Que impacto terão estes e outros fatores no negócio da Tiko em Portugal e na atividade da mediação imobiliária no país?
É verdade que o setor imobiliário está em constante mudança. No entanto, na Tiko estamos preparados para tudo o que possa vir. Enfrentámos crises como a pandemia e o confinamento, e apesar destas circunstâncias alcançámos uma taxa de crescimento de 150% em 2021. Ser uma empresa tecnológica permite-nos adaptar mais facilmente a possíveis mudanças no cenário e minimizar o impacto que estas teriam no negócio.
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