Há várias zonas emergentes no mapa dos bairros inclusivos mais procurados para viver. Analisamos as tendências de mercado.
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bairros LGBTI+
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A zona do Príncipe Real, em Lisboa, continua a ser a preferida desde há muito pela comunidade LGBTI+ para viver. Ainda assim, há outros locais a destacar-se no mapa dos bairros inclusivos mais procurados para comprar ou arrendar casa na Grande Lisboa – a tendência acentuou-se na pandemia e veio para ficar. O eixo da Avenida Almirante Reis é um deles, mas não só. As atenções estão voltadas, também, para a Margem Sul, nomeadamente Almada e Caparica. Afinal, quanto custa comprar ou arrendar casa nos bairros mais LGBTI+ friendly? E quais os efeitos da pandemia nas tendências de mercado e evolução dos preços? O idealista/news foi à procura de respostas, no âmbito do Pride Lisboa 2022.

Príncipe Real, o bairro mais inclusivo do país

João Passos, responsável pelo projeto ‘Lisboa Pride – Homes for Everyone’, e consultor imobiliário na Remax há vários anos, confirma em entrevista ao idealista/news que o Príncipe Real, localizado na freguesia da Misericórdia, continua a ser uma zona inclusiva por excelência, até porque “muitos dos principais e mais icónicos negócios” frequentados pela comunidade continuam a localizar-se nesta zona. O consultor, também presidente da Variações, destaca a centralidade, com fáceis acessos, mas também a “tranquilidade, multiculturalidade e proximidade a zonas como Chiado, Bairro Alto e Baixa de Lisboa”. Apesar disso, e nos últimos anos, a tendência tem abrandado, “fruto da crescente especulação imobiliária que tem feito com que os preços nesta zona se tornem pouco acessíveis, pelo menos para a comunidade LGBTI+ nacional”, aponta.

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Dados do idealista/data mostram que a freguesia da Misericórdia continua a ser uma das mais caras de Lisboa para viver, apesar de se ter verificado um arrefecimento de preços no mercado de compra e venda entre 2020 e 2021, em plena pandemia.

“No último ano, ambos os mercados, venda compra e venda e arrendamento viram os preços crescer. Além disso, esta é uma freguesia que tem registado uma forte procura por parte do mercado. Note-se que apenas entre 2020 e 2021 é que este indicador caiu, e apenas no mercado de arrendamento (-9%). Ao nível da oferta, apenas no último ano se verificou uma queda de volume com -40% no mercado de compra e venda e 80% no mercado de arrendamento”, segundo a análise dos especialistas do idealista/data.

Analisando as zonas mais inclusivas, e face à proximidade geográfica à freguesia da Misericórdia, João Passos destaca ainda a freguesia de Santo António, sendo igualmente uma das mais caras para comprar ou arrendar. De acordo com o idealista/data, nesta freguesia lisboeta os preços aumentaram nos últimos quatro anos, mas a um ritmo mais lento. Em quatro anos, os preços para o mercado de compra e venda aumentaram cerca de 12%. Já no mercado de arrendamento a subida foi de 13%.

“A procura relativa esta freguesia mostra uma tendência generalizadamente crescente do indicador com relevância para o período entre 2020 e 2021 no mercado de compra e venda (+130%) e para o período entre 2022 e 2021 no mercado de arrendamento (+358%). Também nesta freguesia de Lisboa se verificou no último ano uma queda no volume da oferta, -25% no mercado de compra e venda e -59% no mercado de arrendamento”, indicam desde os especialistas em dados do idealista.

Eixo da Av. Almirante Reis, uma zona em ascensão

Apesar do Príncipe Real continuar a ser zona LGBTI+ por excelência, existem outras áreas/bairros a crescer e a atrair a comunidade. O eixo Almirante Reis, especialmente a zona de Arroios, é um bom exemplo. 

“Os preços mais baixos, a abertura de novos negócios LGBTI+ friendly, bons transportes e um espírito mais irreverente têm colocado o Intendente, o Bairro das Colónias e até a Penha de França no mapa dos locais mais procurados por pessoas LGBTI+ para viverem”, explica João Passos.

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Na freguesia de Arroios, tal como mostram os dados do idealista/data, os preços no mercado de compra e venda tiveram uma tendência de aumento. A única exceção foi no período entre 2020 e 2021 em que o preço unitário praticamente manteve-se estável e o preço global caiu 9%.

“No mercado de arrendamento, e numa perspetiva total do mercado, verificamos que apenas no último ano os preços terão aumentado. Ao nível da procura relativa podemos ver que a freguesia apresenta bastante dinamismo para o mercado de compra e venda. Já no mercado de arrendamento, apenas no último ano se verificou um notório crescimento do inidicador, superior a 300%. Quanto ao stock disponível, em ambos os mercados verificou-se no último ano uma queda, -37% no mercado de compra e venda e -59% no mercado de arrendamento”, indica a análise dos especialista do idealista/data.

Embora com algumas nuances, o comportamento na freguesia da Penha de França foi semelhante ao nível dos preços. O idealista/data realça “um claro arrefecimento no período entre 2020 e 2021, certamente justificado pela pandemia”. Ao nível da procura, os dados mostram uma variação positiva deste indicador ao longo dos últimos quatro no mercado de compra e venda. Já no mercado de arrendamento, o registo nos últimos anos foi de queda, com exceção do último ano, tal como aconteceu na freguesia de Arroios.

Margem Sul, o novo destino LGBTI+?

No ano passados, João Passos já havia identificado a Margem Sul como um destino de especial interesse para a comunidade LGBTI+, e a tendência mantém-se. A pouca distância de Lisboa, Almada e Caparica assumem-se como zonas emergentes, caracterizadas pela proximidade às praias.

“O sonho de ter uma casa no campo ou na praia é cada vez mais tornado realidade, tanto por nacionais como por estrangeiros, motivados pela procura de um certo retorno às origens e a um estilo de vida mais sustentável, apoiado nas novas possibilidades de trabalho remoto”, explica o consultor imobiliário.

Margem Sul
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Na União das Freguesias da Trafaria e Caparica, por exemplo, no mercado de compra e venda, a tendência de preços de mercado foi de valorização nos últimos anos. No mercado de arrendamento, e apesar de algum arrefecimento verificado entre 2020 e 2021, verificou-se também nos últimos anos um acréscimo de preços em praticamente todas as tipologias.

“A aparente ligeira queda do preço unitário de -7% e do preço global de -12% verificada no último ano para o mercado residencial total deveu-se a variações negativas de preços verificados na tipologia T0 para o qual a amostra não é representativa. Estes números ressaltam a importância de analisar com detalhe a informação de mercado disponível, sobretudo no mercado de arrendamento onde a oferta é escassa”, frisa a equipa do idealista/data.

Na União das Freguesias de Almada, Cova da Piedade, Pragal e Cacilhas, e salvo ligeiras quedas de preços verificadas entre 2020 e 2021, é possível afirmar que, numa perspetiva total do mercado, a tendência dos últimos quatro anos foi de aumento generalizado dos preços. Esse crescimento foi mais notório no mercado de compra e venda do que no de arrendamento. No último ano, por exemplo, os preços globais para o mercado residencial aumentaram 18%. 

Nesta freguesia, a procura relativa caiu em ambos os mercados (venda e arrendamento) entre 2019 e 2020. A tendência deste indicador manteve-se no período seguinte no mercado de arrendamento (-47%), recuperando no último ano. Já no mercado de compra e venda verificou-se no último ano algum arrefecimento da procura (-3%). Relativamente ao indicador da oferta, importa referir a queda de stock disponível neste último ano em ambos os mercados: -38% no mercado de compra e venda e -45,5% no de arrendamento.

João Passos considera que o apetite por todas estas zonas mantém-se e acredita até que tem tendência a aumentar. “Seja nos centros mais urbanos, para uma comunidade mais nacional e mais jovem, seja junto à praias, para um segmento mais internacional e mais adulto, numa perspetiva de reforma ou investimento”, conclui.  

Bairros LGBTI+ friendly
Foto de RODNAE Productions @Pexels

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