Quando a escultura atravessa paredes e tetos e se torna num modo de vida. Iva Viana em entrevista ao idealista/news.
Comentários: 0
Iva Viana onde comprar
Escultora portuguesa, Iva Viana Fotografias: © Delfina Brochado

Durante muito tempo, o gesso foi sinónimo de decoração clássica ou antiga. Mas tudo mudou, graças ao reconhecimento do seu caráter nobre, intemporal e versátil. Na era da diversidade de estilos, virou tendência, e hoje é utilizado para criar espaços diferenciados, modernos, ecléticos e com personalidade.

Em Portugal (e lá fora), Iva Viana distingue-se pela arte do “fazer à mão”, pela escultura decorativa em gesso, criando painéis e peças únicas. Ao idealista/news, a artista explica como é possível pôr as técnicas tradicionais ao serviço da contemporaneidade e sofisticação.

Depois de ter passado por vários países ao longo dos anos, é no atelier em Viana do Castelo, na zona norte de Portugal, onde nasceu, que a escultora minhota encontra a serenidade certa para criar. Trata-se de um espaço pessoal de produção, fruto da vontade de explorar, com total liberdade e autonomia, a experiência adquirida, nomeadamente, ao nível das técnicas tradicionais de escultura decorativa em gesso, realizando trabalho assinado e peças de autor.

A região onde Iva nasceu, diz, dá-lhe qualidade de vida, além de servir como fonte de inspiração para as peças que cria, cheias de alma e cunho próprio. E viver “longe” das grandes cidades já não é uma barreira, até porque as suas obras de arte utrapassam fronteiras e habitam as paredes de muitos projetos um pouco por todo o mundo, como o Four Seasons Hotel, em Londres, por exemplo.

Iva Viana é apaixonada pela arte do "fazer à mão", isto é, pela contínua experimentação em torno do cruzamento de procedimentos manuais de modelação de estuques com processos modernos de fundição de diferentes matérias. O segredo, talvez, para chegar a um público mais massificado, sem perder a autenticidade, num “caminho que se faz, com arranques e recuo", neste seu trabalho com gesso.

O desejo de enriquecer os espaços, torná-los únicos, singulares, poderá estar na génese desta tendência decorativa que tem vindo a ganhar cada vez mais adeptos. A escultora portuguesa dá um exemplo e conta que, durante a pandemia, quando as pessoas se “viraram mais para as casas”, houve um ‘boom’ nas vendas. “Acho que isto explica um pouco a importância de termos objetos que gostamos em casa e de que certa forma nos transmitem prazer”, refere.

Nesta entrevista escrita para o idealista/news, que agora reproduzímos na íntegra, mergulhamos na arte de Iva Viana, num desejado encontro entre o passado e o futuro, aplicado a objetos, casas e edifícios, e que se tornou num modo de vida.

gesso decorativo
Fotografias: © Delfina Brochado

A Iva é licenciada em Artes Plásticas, na variante de escultura, no Porto, mas passou por outros países, como a Polónia ou França ao longo destes anos. Pode falar-nos um pouco mais sobre a sua formação e percurso profissional?

Estas viagens foram sempre no âmbito de aumentar a experiência. Estive na Polónia em Erasmus. Em França fiz estágio com o escultor Pierre Merlin. Em Moçambique e Brasil em contexto de intercâmbio artístico na faculdade. Acho muito importante esta troca de experiências e de vermos outras realidades e culturas.

Como surgiu esta paixão pelo “fazer à mão”? E pela arte do estuque? 

Eu fiz escultura, na Faculdade de Belas Artes no Porto, e no final comecei a trabalhar numa empresa francesa com sede em Portugal especializada em gessos decorativos. Foi este o meu primeiro contacto com estucadores carregados de saber. Fiquei logo apaixonada. 

Qual é a grande diferença entre estuque e gesso? E com qual destes materiais trabalha?

Estuque é a mistura de gesso e cal, tecnicamente falando. Eu trabalho só o gesso. 

É no seu atelier em Viana do Castelo que encontra a “serenidade” certa para criar?

Sou suspeita, porque sou assumidamente minhota e defendo a minha cidade com unhas e dentes, mas Viana dá-me qualidade de vida, para além de ser uma enorme inspiração. 

decorar com gesso
Fotografias: © Delfina Brochado

Porquê Viana e não outra cidade, como Lisboa ou o Porto, onde supostamente se está “mais perto” de tudo?

Em Viana consigo estar perto de tudo, da família e amigos, do Rio Lima para remar. É uma cidade com mar e montanha e muito mais acessível que as grandes cidades. Neste momento já não existe essa ideia de que ficamos mais perto do cliente, se estivermos na capital. 

Numa entrevista recente, lia-se que o seu atelier é, também, um local de encontro social. Em que medida?

Neste momento, já não é tanto o quanto eu gostaria, mas quero muito retomar a esses momentos. O atelier abria aos sábados pontualmente para apresentar outro projeto completamente diferente e desta forma as pessoas ficavam a conhecer o atelier também. Tive desde jantares, a concertos, a workshops de fotografia. 

Onde é que procura inspiração para criar as suas peças? Como é o processo de criação? Quanto tempo pode demorar a criar uma peça?

Após a primeira reunião com o cliente, são feitos vários esboços para este perceber a ideia. Depois de apresentar o desenho final, passo para a criação do original. A duração do projeto depende do mesmo.

Iva Viana loja online
Fotografias: © Delfina Brochado

Atualmente, a que tipo de projetos se dedica?

O atelier divide-se em várias "frentes". A mais comercial, que ajudou o atelier a dar o arranque há nove anos atrás e as encomendas de trabalhos exclusivos. Neste momento estou a terminar um painel exclusivo para uma vivenda no Porto e a dar início a um outro para Lisboa. Tenho um outro projeto enorme em cima da mesa, que é o meu primeiro painel para exterior. Vão ser 4 fachadas para os Edifícios PARC em Viana do Castelo, uma homenagem ao rio Lima. 

Há algum que gostasse de destacar? Ou a que mais gostou de produzir...

Tenho tido a sorte de trabalhar em muitos projetos especiais, não vou destacar nenhum em especial. 

escultura decorativa
Fotografias: © Delfina Brochado

Qual o peso dos clientes nacionais e estrangeiros no negócio?

Neste momento estou a trabalhar com muitos arquitetos portugueses para clientes estrangeiros que compram em Portugal. 

Onde é que é possível comprar as suas peças?

Os objetos mais pequenos encontram exclusivamente nos meus pontos de venda, e podem encontrar mais informações nas minhas redes sociais, como o instagram. Já para os trabalhos exclusivos é necessário enviar mensagem privada para o atelier. 

Como se dá o salto para chegar a um público mais massificado sem perder a autenticidade?

É um caminho que se faz, com arranques e recuos.

Qual a importância de uma escultura para enriquecer um espaço?

É curiosa a pergunta, porque durante a pandemia, como as pessoas se viraram mais para as casas, houve um ‘boom’ de vendas. Acho que isto explica um pouco a importância de termos objetos que gostamos em casa e de que certa forma nos transmitem prazer. 

Que conselhos daria a alguém que quer usar as suas peças para decorar a casa?

Eu chego a desaconselhar quando vejo que não vai funcionar. Um dos conselhos que dou é:

  • não misturar trabalhos meus na mesma parede
  • não ter mais que uma "parede Iva Viana" em casa. 
Ver comentários (0) / Comentar

Para poder comentar deves entrar na tua conta