
Nada parece travar a expansão internacional da fileira casa. Mesmo com as economias a cruzarem mares agitados pela alta inflação e subida dos juros, as famílias continuam a valorizar o conforto do lar, apostando em decoração com alma lusa. Dentro e fora do país. Prova disso é que a exportação de mobiliário ‘Made In Portugal’ deu um salto de dois dígitos no início de 2023. “O mobiliário português começa a ser reconhecido a nível internacional, como produtos com design próprio, materiais de qualidade, boa construção e com uma boa relação qualidade-preço”, afirma Gualter Morgado, diretor executivo da Associação Portuguesa das Indústrias de Mobiliário e Afins (APIMA), em entrevista ao idealista/news a propósito do arranque do Portugal Home Week esta quinta-feira, dia 15 de junho, no Porto.
Franceses, espanhóis, alemães, norte-americanos e ingleses. Estes são os principais compradores internacionais do mobiliário português e são geralmente “clientes informados, que percebem e apreciam a qualidade de fabrico” dos produtos produzidos no nosso país, explica Gualter Morgado na mesma entrevista. O interesse externo pelo mobiliário português tem sido tal que os dados mais recentes das exportações mostram um crescimento de 17% no início de 2023 face ao período homologo, sendo esperado que cresçam este ano “acima dos dois dígitos”, detalha.
Hoje, “o mobiliário português está num patamar superior de qualidade e serviço, não compete pelo preço e tem conceitos diferentes do ‘faça você mesmo’ [do IKEA], estando ao nível do ‘esteja descansado que nós fazemos, realizamos os seus sonhos’”, indica ainda o responsável pela APIMA. Mas é evidente que na hora de escolher mobílias para decorar a casa, o “preço e a funcionalidade” são fatores chave para as famílias portuguesas e só depois vêm outros fatores como a versatilidade ou a sustentabilidade.
A fileira casa está, portanto, a passar um bom momento, muito embora a alta inflação e o custo do financiamento tenham gerado “ajustes e esforços adicionais” em várias empresas portuguesas. “O mobiliário tem uma perspetiva de crescimento nos próximos anos, penso que se continuarmos a apoiar a inovação e a internacionalização do setor, poderemos continuar a evoluir positivamente”, antecipa o diretor geral da APIMA, entidade responsável por organizar o Portugal Home Week, que decorre entre 15 e 16 de junho, na Alfândega do Porto.

Como têm corrido os negócios do mobiliário em Portugal em 2023? Há novas tendências a surgir?
O início do ano indica um aumento das exportações de 17% em comparação com igual período homólogo do ano anterior. As empresas portuguesas, que apostaram no desenvolvimento de marcas próprias, fazem os lançamentos das suas coleções, normalmente, nos primeiros quatro meses do ano, aproveitando os principais certames internacionais. Cada empresa e cada marca de acordo com a sua estratégia apresenta ao mercado as suas propostas, seguindo as tendências ou propondo soluções/estilos.
"Os processos inflacionistas provocam retrações na procura dos mercados, o que obriga as empresas a fazerem um esforço adicional e a diversificarem mercados"
A inflação tem gerado a subida dos preços dos materiais e pressionado o poder de compra no último ano. Como é que este novo contexto económico se refletiu nas empresas da fileira casa? E quais são as principais estratégias adotadas para dar a volta?
O segmento médio alto é menos sensível ao preço. No entanto, os processos inflacionistas provocam retrações na procura dos mercados, o que obriga as empresas a fazerem um esforço adicional e a diversificarem mercados para manterem os níveis de produção, produtividade ou de resultados.
As famílias em Portugal continuam a mudar de casa apesar dos elevados custos nos créditos habitação. O que é que as famílias procuram nas mobílias para decorar a casa?
Em Portugal, de forma genérica os primeiros fatores ainda são preço e funcionalidade, só depois são considerados os outros fatores como versatilidade ou a sustentabilidade.

O mercado do arrendamento está a crescer em Portugal. Há diferenças na hora de comprar móveis para decorar uma casa para arrendar em vez de ser comprada?
Embora não haja estudos completos sobre este tema em Portugal, numa análise empírica, podemos observar que sim, que tendencialmente somos mais exigentes quando compramos mobiliário para casa própria, pois pensamos mais na qualidade e durabilidade dos materiais e numa maior intemporalidade da decoração.
Além do segmento das famílias, o mobiliário português tem outros clientes, como a hotelaria ou os escritórios? Qual das áreas está atualmente em melhor forma?
O teletrabalho condicionou um pouco o mercado global de mobiliário de escritórios. No entanto, as empresas portuguesas têm-se diversificado e mantido uma boa performance. No segmento da hotelaria, o mercado tem estado animado, quer com novos projetos, quer no que diz respeito às renovações.
"As exportações de mobiliário português devem crescer acima dos dois dígitos este ano"
Os móveis portugueses continuam a ser muitos procurados a nível internacional. Quais são as suas expectativas quando às exportações para 2023? E quem são os principais compradores estrangeiros dos móveis “made in Portugal” ?
As exportações de mobiliário português devem crescer acima dos dois dígitos este ano. Os compradores do mobiliário português são, normalmente, clientes informados, que percebem e apreciam a qualidade de fabrico, sendo os principais mercados o francês, espanhol, alemão, norte-americano e inglês.

Como está a correr a inovação e a internacionalização da fileira casa?
A internacionalização é um processo a longo prazo, foi iniciado há uns anos pela APIMA, com o apoio da AICEP e do COMPETE, mas é um processo de resiliência. Uma empresa tem necessidade de participar em várias ações (pelo menos três anos) para iniciar o processo de exportação e depois iniciar um processo de estabilidade no mercado, pois os clientes são cada vez mais voláteis e é necessário um contínuo acompanhamento do mercado.
Hoje, também é necessária uma forte presença nas plataformas digitais e nas redes sociais. A inovação via marketing digital é das que mais tem evoluído, assim como ao nível dos processos de logística.
"O mobiliário português está num patamar superior de qualidade e serviço, não compete pelo preço"
Como é que os móveis portugueses se posicionam no mercado (design, materiais, preço)? E como é que se pode competir com gigantes como o Ikea, por exemplo?
O mobiliário português começa a ser reconhecido a nível internacional pelos profissionais, como produtos com design próprio, materiais de qualidade, boa construção e com uma boa relação qualidade preço dentro do segmento de mercado a que pertencem. A IKEA, além de também ter uma grande unidade de produção em Portugal, também compra produtos “Made in Portugal”. É importante referir que o maior produtor de estofos da europa é português, o Grupo AQUINOS.
No entanto, o mobiliário português está num patamar superior de qualidade e serviço, não compete pelo preço e tem conceitos diferentes do "faça você mesmo", está ao nível do "esteja descansado que nós fazemos, realizamos os seus sonhos".

Quais são as suas expectativas para a nova edição do Portugal Home Week? Que novidades traz o evento?
O Portugal Home Week vai ter como tema geral do Home Summit "Construir a casa do futuro", com painel brilhante de oradores, de diferentes nacionalidades e com diferentes perspetivas. Temos, por exemplo, a Clara del Portillo do Yonoh Studio, que ganhou dezenas de prémios internacionais na última década e que tem trabalhado com as principais marcas europeias. Contamos também com a presença de Wendy Saunders, a arquiteta cofundadora da AIM, entre muitos outros oradores que é um privilégio termos este ano em Portugal a partilhar a sua visão.
Temos também muitas confirmações da imprensa especializada internacional e importantes importadores internacionais dos Estados Unidos, India, Qatar, Arábia Saudita, Coreia do Sul, Africa do Sul e de quase todos os países da Europa.
"O mobiliário tem uma perspetiva de crescimento nos próximos anos"
Qual é a sua perspetiva quanto à evolução do negócio do mobiliário em Portugal nos próximos anos?
O mobiliário tem uma perspetiva de crescimento nos próximos anos, penso que se continuarmos a apoiar a inovação e a internacionalização do setor, poderemos continuar a evoluir positivamente, principalmente no segmento de valor acrescentado e de serviço associado às vendas.

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