Decorar a casa com móveis Made In Portugal está na moda cá dentro e lá fora, diz o diretor executivo da APIMA em entrevista.
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Mobiliário português está em alta
Gualter Morgado, diretor executivo da Associação Portuguesa das Indústrias de Mobiliário e Afins APIMA

A casa saiu valorizada da pandemia da Covid-19. E, hoje, decorar a casa com mobiliário português é apostar na tradição, elegância e sustentabilidade. Estes móveis com selo Made In Portugal estão a dar cartas cá dentro e lá fora, tendo-se assistido a um aumento da procura em ambos os mercados. “A qualidade dos artesãos portugueses, passada de geração em geração, é um verdadeiro património e um incontornável fator de diferenciação a nível internacional”, revela Gualter Morgado, diretor executivo da Associação Portuguesa das Indústrias de Mobiliário e Afins (APIMA) em entrevista ao idealista/news.

O mobiliário português está a adaptar-se aos novos tempos sem perder a sua essência, a sua tradição. Isso mesmo confirma Gualter Morgado: “Este património está a ser impulsionado por uma nova geração de designers e empresários (…) capaz de alavancar o melhor da nossa tradição e reinventá-la”. E esta mesma geração de profissionais está a “trazer um novo olhar, com novas formas, cores, funções e combinações de materiais” e também uma “preocupação muito forte com a sustentabilidade”, partilha ainda o diretor executivo da APIMA.

Cá dentro, “assiste-se a um crescente interesse pelos produtos e marcas nacionais de mobiliário e afins, em grande parte fruto de uma maior consciência no que refere à  sustentabilidade social e ambiental”, revela Gualter Morgado.

“Neste momento, Portugal junta a excelência da produção artesanal ao melhor design, resultando em produtos inovadores, de elevada qualidade e valor, com uma assinatura inconfundível”

Lá fora, “a indústria portuguesa tem vindo a crescer e a afirmar-se a nível internacional como referências de qualidade, inovação e design, sobretudo no segmento premium”, explica ainda. De notar que as exportações do cluster do mobiliário e afins aumentaram 6% no primeiro trimestre de 2022, em comparação com 2021, para quase 500 milhões de euros.

À semelhança de outros setores da indústria portuguesa - como é o caso da construção -, o mobiliário está a sentir os efeitos da guerra na Ucrânia. Embora haja matérias-primas para trabalhar, o seu custo está “significativamente mais elevado”, refere o responsável pela APIMA. O principal problema do setor mobiliário português é mesmo “a falta de mão de obra” e, para resolver esta questão, Gualter Morgado sublinha que é preciso “atrair talento para o setor, formando os mais jovens”, até porque é o saber fazer dos artesãos que distingue os móveis com selo Made In Portugal, reforça.

Os desafios para os próximos anos estão identificados e as soluções também. E as expectativas para o futuro são risonhas: “Em 2022, prevemos continuar a crescer, apesar das condicionantes que se fazem sentir a nível mundial, (…) e a afirmar a marca Made In Portugal no mundo”, revela Gualter Morgado na mesma entrevista. Para desenhar soluções para o futuro do mobiliário português e dar-lhe ainda mais projeção internacional, eventos organizados em território nacional, como foi o caso do Portugal Home Week, que decorreu nos dias 21 e 22 de junho na Alfândega do Porto, têm um papel importante. Nesta entrevista, o diretor executivo da APIMA - responsável por organizar o evento - explica porquê, passando a pente fino o estado da arte da Fileira Casa Portuguesa.

Artesãos da madeira
Pexels

O que distingue o mobiliário português dos restantes? Os critérios de sustentabilidade são cada vez mais tidos em conta? Se sim, de que forma?

O setor do mobiliário é um dos mais tradicionais e exportadores da economia nacional. O trabalho de elevada precisão e qualidade dos artesãos portugueses, passado de geração em geração, é um verdadeiro património e um incontornável fator de diferenciação a nível internacional.

Atualmente, esse património está a ser impulsionado por uma nova geração de designers e empresários, com experiência internacional e um profundo conhecimento das tendências atuais, capaz de alavancar o melhor da nossa tradição e reinventá-la. Neste momento, Portugal junta a excelência da produção artesanal ao melhor design, resultando em produtos inovadores, de elevada qualidade e valor, com uma assinatura inconfundível. Essa mesma geração, além de trazer um novo olhar, com novas formas, cores, funções e combinações de materiais, traz também uma preocupação muito forte com a sustentabilidade.

Nesse sentido, e como ficou evidente na segunda edição do Portugal Home Week, assiste-se a um esforço progressivo para tornar estas indústrias mais circulares e sustentáveis, através, por exemplo, do:

  • uso de matérias-primas mais sustentáveis e obtidas localmente;
  • estratégias para a redução do desperdício e do consumo de água e de energia;
  • incorporação de excedentes e subprodutos em novos produtos.

O investimento em I&D [Investigação e Desenvolvimento] que as empresas têm vindo a desenvolver desempenha também um papel muito importante na criação de soluções mais sustentáveis para a indústria. Além disso, o facto de os produtos Made In Portugal terem uma elevada qualidade e serem construídos para durar, permite ainda uma redução do consumo destes produtos e consequentemente menos desperdício e poluição.

"Assiste-se a um esforço progressivo para tornar estas indústrias mais circulares e sustentáveis"

Como está a correr o negócio do mobiliário em Portugal este ano? Está melhor ou pior que antes da pandemia?

O cluster do mobiliário, colchoaria, assentos e outras atividades complementares tem vindo a crescer de forma sustentada nos últimos anos, apesar dos fortes condicionamentos políticos e económicos que afetaram e estão a afetar a Europa e o mundo. No primeiro trimestre de 2022, as exportações aumentaram 4% comparativamente ao período homólogo de 2019, confirmando a tendência positiva aguardada para o cluster e superando, pela primeira vez, os valores pré-pandemia.

Decorar a casa com móveis
Portugal Home Week 2022

Como avaliam a procura do mobiliário português cá dentro? Que peças ou conjuntos  são mais procurados?

A nível nacional, assiste-se a um crescente interesse pelos produtos e marcas nacionais de mobiliário e afins, em grande parte fruto de uma maior consciência no que refere à sustentabilidade social e ambiental e também a um consumo mais consciente e informado.

Com o tempo passado em casa durante a pandemia, os espaços interiores e exteriores da casa saíram valorizados pelas famílias. De que forma é que este cenário influenciou a procura de mobiliário e de outros elementos que aumentam o conforto de um lar?

A pandemia levou, de facto, a que as pessoas lançassem um novo olhar sobre as suas casas, porque a habitação passou não só a ser ocupada durantes maiores períodos de tempo por todos os seus habitantes, como também assumiu novas funções.

"As indústrias portuguesas têm vindo a crescer e a afirmar-se a nível internacional como referências de qualidade, inovação e design, sobretudo no segmento premium"

Os móveis portugueses são procurados a nível internacional? Qual é a quota de  mercado? De que forma estão a evoluir as exportações? Quais são as nacionalidades  dos principais compradores de móveis produzidos em Portugal?

As indústrias portuguesas têm vindo a crescer e a afirmar-se a nível internacional como referências de qualidade, inovação e design, sobretudo no segmento premium. Este ano, as exportações do cluster do mobiliário e afins aumentaram 6% no primeiro trimestre, em comparação com 2021, para quase 500 milhões de euros. França assumiu-se como o principal importador de produtos portugueses, com uma quota de quase 35%, seguida de Espanha, que permanece como o segundo mercado mais importante para os produtores nacionais.

Móveis feitos em Portugal
Portugal Home Week 2022

Como reagiram as empresas nacionais do mobiliário e da fileira da casa portuguesa ao choque da pandemia? Como se encontram hoje em dia?

As indústrias da Fileira Casa Portuguesa, tal como todo o restante tecido produtivo nacional, foram inicialmente impactadas de forma significativa pelos efeitos da paralisação provocada pela pandemia da Covid-19. No entanto, souberam adaptar-se, superar as dificuldades e identificar oportunidades internacionais. Assim, logo no primeiro trimestre de 2022, ultrapassaram os valores pré-pandemia, com o volume de exportações a crescer acima dos valores recorde de 2019.

"O reconhecimento internacional do trabalho de exceção dos nossos artesãos é agora igualado por um design de vanguarda"

As empresas portuguesas operam sobretudo como produtores para outras marcas ou  têm o seu próprio ADN e posicionamento no mercado? Que papel têm os artesões e o  design no setor no atual contexto?

As empresas portuguesas têm, sem dúvida, um forte ADN e identidade visual, e estão a afirmar-se cada vez mais em nome próprio nos mercados internacionais. No Home Summit do Portugal Home Week pudemos testemunhar alguns exemplos concretos que evidenciam essa tendência. O reconhecimento internacional do trabalho de exceção dos nossos artesãos é agora igualado por um design de vanguarda, o que tem permitido às empresas nacionais não só crescerem e afirmarem-se nos mercados tradicionais, como também entrar em novos mercados.

Desenvolver mobílias
Pexels
Agora as empresas enfrentam também o aumento dos custos de materiais num  contexto de inflação em alta. Como estão a lidar com a atual conjuntura? Têm sentido muito a subida dos custos da madeira? E quebras no fornecimento de materiais? Como estão a acomodar estas alterações nos preços?

Neste momento, o setor ainda não está a sentir a falta de matéria-prima, no entanto, a mesma está com um custo significativamente mais elevado. Creio que o maior problema que o setor está a atravessar no momento é a falta de mão de obra e a pandemia agravou esta situação. O que distingue o mobiliário português é a capacidade de saber fazer dos nossos artesãos pelo que precisamos de atrair talento para o setor, formando os mais jovens.

"A crescente curiosidade sobre Portugal como destino turístico levou a uma maior abertura ao conhecimento do design e da produção Made In Portugal"

Como é que a retoma do turismo cá dentro e lá fora está a influenciar os negócios do  mobiliário português?

O crescimento de Portugal como mercado turístico teve um impacto muito positivo no setor. A crescente curiosidade sobre Portugal como destino turístico levou a uma maior abertura ao conhecimento do design e da produção Made In Portugal. Esse movimento, que já era notório nos últimos anos, tem vindo a intensificar-se e aí o Portugal Home Week desempenha, sem dúvida, um papel muito importante.

Além da APIMA participar nos maiores eventos mundiais dedicados ao setor, onde Portugal é um nome reconhecido, através do Portugal Home Week trouxemos os decisores mundiais diretamente à esfera de influência das empresas portuguesas, permitindo um conhecimento muito mais alargado do que fazemos, e de como o fazemos. O incremento do turismo a nível mundial impacta também, de forma muito positiva, o mercado de ‘contract’, criando novas oportunidades para as nossas empresas.

Como mobiliar a casa
Portugal Home Week 2022

Como correu a segunda edição do Portugal Home Week? O que trouxe de novo este  evento? Como avalia a adesão dos players do mercado a este evento?

O Portugal Home Week surgiu com o intuito de permitir que visitantes internacionais possam conhecer, de perto e a fundo, a realidade da produção portuguesa e toda a tradição que existe por trás dela. Até à criação deste evento, as empresas davam-se a conhecer nos maiores eventos internacionais. Com o Portugal Home Week, esses primeiros contactos realizados noutros mercados podem ser aprofundados num evento exclusivamente dedicado ao setor, próximo das sedes das empresas, onde é possível conhecer em profundidade a forma como elas operam, assim como toda a sua oferta e valor.

A segunda edição do Portugal Home Week veio consolidar o evento não só como um ponto de encontro privilegiado entre empresas e decisores internacionais, mas também como um polo agregador e gerador de conhecimento estruturante. Esta segunda edição contou com um rico e extenso programa de conferências, com a participação de oradores de referência internacional, que identificou desafios e permitiu criar soluções de futuro em áreas tão diversas como o design, a sustentabilidade, a internacionalização, o turismo, a construção e a evolução do próprio cluster.

"Estamos conscientes dos desafios, mas acreditamos que com a estratégia estruturada e conjunta que estas indústrias têm vindo a seguir poderemos continuar (...) a crescer e a afirmar a marca Made In Portugal no mundo"

Quais são as suas previsões para o balanço final de 2022 no negócio do mobiliário em  Portugal? E as expectativas para os anos seguintes?

Em 2022, prevemos continuar a crescer, apesar das condicionantes que se fazem sentir a nível mundial. Estamos conscientes dos desafios, mas acreditamos que com a estratégia estruturada e conjunta que estas indústrias têm vindo a seguir, posicionando-se como uma frente unida para juntas chegarem mais longe, poderemos continuar a identificar oportunidades, a trilhar o caminho positivo que temos registado, a crescer e a afirmar a marca Made In Portugal no mundo.

Exportação de móveis portugueses
Portugal Home Week
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