
A Comissão Executiva do Fundo Monetário Internacional (FMI) validou a revisão em alta da projeção de crescimento económico de Portugal para 2,6% este ano, mas deixou um alerta para as vulnerabilidades no setor imobiliário residencial, recomendando uma reserva de capital de risco sistémico setorial. A instituição está preocupada com as famílias, sobretudo com as mais expostas ao aumento dos custos de vida, que podem ver os seus orçamentos para pagar contas estrangulados face a uma contínua subida dos juros. O mesmo alerta foi recentemente dado pela OCDE e pelo Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE).
O FMI considera que a “forte recuperação” da Portugal “continuou até ao início de 2023”, mas espera “que o crescimento a curto prazo abrande”. Ainda assim, valida a previsão inscrita no relatório da missão de acompanhamento do país, que em maio reviu em alta, de 1% para 2,6%, a previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) este ano.
Numa nota divulgada esta quinta-feira, 23 de junho de 2023, a Comissão Executiva do FMI salienta que as políticas financeiras devem manter o foco na contenção dos riscos sistémicos, que, alerta, aumentaram devido a condições financeiras mais restritivas e ao aumento das vulnerabilidades do mercado imobiliário.
Banca deve continuar a monitorizar empréstimos
“Os bancos e as autoridades de supervisão devem continuar a manter a vigilância sobre a qualidade do crédito, o risco de mercado e de taxa de juro e a gestão da liquidez. A melhoria contínua da margem de capital serviria como uma salvaguarda importante. Devem prosseguir os esforços para conter os riscos de branqueamento de capitais transnacional”, explica em comunicado.
Defende ainda que, “para fazer face à acumulação de vulnerabilidades no setor imobiliário residencial, as autoridades poderão introduzir gradualmente uma reserva de capital de risco sistémico setorial”.
“Tal medida teria de ser calibrada de forma holística, tendo em conta outras medidas macroprudenciais, o custo do cumprimento dos requisitos de resolução e evitar efeitos pró-cíclicos. Um maior apoio à oferta de habitação e à acessibilidade dos preços, sem gerar distorções do mercado, iria aliviar as tensões do mercado imobiliário”, refere.

"Embora não haja sinais de aumento excessivo de crédito até agora e o crescimento geral do crédito tenha diminuído", diz FMI, "a qualidade dos empréstimos deve continuar a ser monitorizada, porque as taxas mais altas podem desafiar a capacidade de serviço da dívida dos mutuários".
Para o FMI, manter a orientação de política orçamental contracionista em 2023 é apropriado para criar espaço orçamental e apoiar a política monetária na redução das pressões inflacionistas deve ser uma das prioridades, voltando a recomendar apoios apenas temporários, “sem distorções de preços e direcionados para os agregados familiares mais vulneráveis”.
“As políticas estruturais devem continuar a centrar-se no aumento do crescimento da produtividade”, defende ainda.
Subida dos juros pode estrangular orçamento das famílias
"A análise sugere que, em cenários adversos (assumindo taxas de juro mais elevadas e um crescimento mais lento do rendimento bruto das famílias), quase metade delas poderá ser obrigada a gastar mais de 70% do seu rendimento em alimentação, serviços de 'utilities' [como gás, eletricidade, água] e nos pagamentos das suas dívidas, algo que traz efeitos acentuados e mais negativos para as famílias de baixos rendimentos", refere o FMI.
Esta situação poderá também ter “efeitos macrofinanceiros mais alargados, ligados à redução do consumo das famílias e a perdas no crédito”. No entanto, segundo a instituição, “o recente apoio por via de medidas do governo e a força do mercado de trabalho são fatores atenuantes importantes".
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