Estudámos o mercado de nómadas digitais em Portugal para perceber como podem os consultores imobiliários vender ou arrendar casas.
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Vender casas a nómadas digitais
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A comunidade de nómadas digitais está a aumentar em Portugal. E tem ainda potencial para crescer. Mas serão os nómadas digitais um potencial público-alvo para a mediação imobiliária? Para responder a esta questão é preciso analisar este mercado que muito cresceu desde a pandemia. É preciso saber qual é a sua dimensão, onde vivem os nómadas digitais, o que os atrai e se estão a arrendar e a comprar casas no país. Foi esta análise ao mercado de nómadas digitais em Portugal que Massimo Forte fez neste artigo preparado para o idealista/news.

Qual é a dimensão do mercado de nómadas digitais em Portugal?

Os dados dos vistos para nómadas digitais (iniciativa lançada em outubro de 2022) dão-nos uma ideia da dimensão desta comunidade em Portugal. Segundo o Ministério dos Negócios Estrangeiros, Portugal emitiu 550 vistos para nómadas digitais até março de 2023. E são os norte-americanos, os britânicos e os brasileiros que dominam o ranking.

“Contudo, o conceito vai muito mais além dos vistos, ou seja, existem de facto nómadas digitais que não precisaram de visto para morarem em Portugal, porque são, por exemplo, cidadãos da União Europeia e não deixam, por isso, de estar inseridos no mesmo segmento e público-alvo”, analisa Massimo Forte, que considera que esta realidade “dificulta a análise, mas aumenta o potencial”.

Onde preferem viver os nómadas digitais?

Outro aspeto importante a ter em conta para fazer negócios imobiliários com nómadas digitais é perceber onde querem viver. De acordo com a NomadList, Lisboa é o 3º destino do mundo mais popular para esta comunidade, muito embora o número de chegadas tenha vindo a cair em 2023 face ao período homólogo.

Em Portugal, os destinos mais populares para nómadas digitais são, de acordo com o mesmo site:

  1. Lisboa;
  2. Madeira;
  3. Portimão;
  4. Porto;
  5. Lagos.
Comunidade de nómadas digitais
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Porque é que os nómadas digitais procuram Portugal para viver?

O clima ameno, a gastronomia, as praias, a beleza das paisagens, a segurança e a população amigável. Estes são alguns pontos que têm vindo a atrair os nómadas digitais para viver, pelo menos, uma temporada em Portugal. Além disso, “os nómadas procuram comunidade, facilidade de integração, Alojamento Local disponível, atividades desportivas, internet rápida e conectividade a nível dos transportes”, tal como explicou o Gonçalo Hall, presidente da Digital Nomads Association Portugal (DNA Portugal) em entrevista ao idealista/news.

Qual é o tipo de imóveis que os nómadas digitais mais procuram para viver?

“Outro aspeto importantíssimo para o negócio de mediação imobiliária, será o tipo de contratação que os nómadas digitais celebram para morarem em Portugal. Um dos pontos mais importantes para definir a sua estratégia de negócio para este segmento será saber se arrendam ou compram mesmo os imóveis”, indica o consultor, formador e coach.

Hoje, “os nómadas digitais procuram alojamentos de curta duração [como Alojamento Local e coliving]. Por isso, só quem decide ficar mais tempo, poderá entrar no mercado de arrendamento tradicional”, referiu ainda o presidente da DNA Portugal.

“A primeira vaga era composta de pessoas que investiam na operação de compra no nosso país. Mas, com a proliferação do conceito durante a pandemia, os nómadas digitais começaram nos últimos anos a preferir o arrendamento, o que quer dizer que um agente Imobiliário que queira trabalhar este segmento e construir uma operação rentável, terá de considerar que terá de trabalhar em volume, ou seja, com um número elevado de arredamentos deste tipo, de preferência, com intervalos de valor elevado”, salienta Massimo Forte, que contactou várias fontes conhecedoras deste mercado.

Arrendar casa em a nómadas digitais
Foto de AlphaTradeZone no Pexels

Há nómadas digitais a comprar casa em Portugal?

Geralmente, os nómadas digitais permanecem no nosso país até seis meses. Mas há quem decida passar a viver em Portugal. “Vemos hoje nómadas digitais a ficarem mais de seis meses em Portugal, a trazerem as suas empresas, a recuperarem imóveis, a fazerem parte da comunidade local”, disse ainda Gonçalo Hall na mesma entrevista. Há, portanto, potencial para vender casas para o nicho de mercado de nómadas digitais que ficam interessados em morar no país. Cabe, então, ao mediador descobrir quem são, podendo para isso estar em contacto com as comunidades de nómadas digitais que existem no país (Lisboa, Porto, Madeira, Ericeira, Portimão e Lagos).

E há que ter em conta também os novos desafios económicos e legislativos que podem influenciar a decisão de compra de casa pelos nómadas digitais. Isto porque há quem tenha vindo teletrabalhar para Portugal, tenha comprado casa e, depois, decidido sair rumo a outro destino mais atrativo para nómadas digitais.

Foi o caso de Manuel (nome fictício). Este cidadão italiano, que trabalha em tecnologia, chegou a Lisboa há cerca de dez anos, e logo se apaixonou pela capital portuguesa, pelas simpatia das suas gentes, pelo clima ameno, pela sua qualidade de vida. Na altura, Portugal também tinha lançado iniciativas para atrair estrangeiros, com o programa vistos gold e o Regime Fiscal para Residentes Não Habituais, que ajudava a atenuar a dimensão dos impostos no país.

Nómadas digitais em Lisboa
Foto de Su Lopes no Pexels

Mas entre 2022 e 2023 a situação económica de Portugal mudou, o custo de vida aumentou e a qualidade de vida diminuiu. E, a par de tudo isso, chegou o Mais Habitação, que colocou um ponto final aos vistos gold para aquisição de imóveis, vai controlar as rendas e avançar com o arrendamento coercivo (ainda que excecional). “Para resolver a questão da habitação, as políticas que nos atraíram estão a ser desmanteladas uma a uma”, aponta Manuel.

Perante este novo contexto, o nómada digital italiano começou a questionar-se se seria atrativo comprar um imóvel em Portugal, quando se pode fazê-lo em qualquer lugar do mundo. “Certamente não quero viver num país onde os direitos de propriedade são negligenciados. E se comprar com o objetivo de constituir um investimento, quero com certeza comprar num lugar com um alto rendimento. O rentabilidade média em Lisboa (cerca de 3,5%) é inferior à taxa de depósito em dólares nas principais plataformas de corretagem de valores (4,5%)”, explica.

No que diz respeito ao futuro do mercado que envolve os nómadas digitais, Manuel acredita que “há potencial de crescimento”, até porque “Lisboa continua a ser uma das melhores capitais da Europa” para passar alguns meses. “Mas, para mim, perdeu o apelo como um lugar para residir e, definitivamente, não é agora mais atraente para pensar em comprar casa. As políticas de habitação estão a colocar o país perigosamente na direção errada e a única coisa que pude fazer e sobre a qual tinha controlo foi decidir sair rumo ao Dubai”, conclui.

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