Medidas do Governo para afastar estrangeiros estão a ter pouco impacto no custo da habitação, já que a procura continua a existir.
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Preços das casas em Lisboa a subir
Foto de Kindel Media no Pexels

Durante os últimos anos, Portugal atraiu estrangeiros ricos com vários incentivos ao investimento. Mas resolveu por um ponto final ao programa vistos gold para investimento imobiliário e quer ainda acabar com o regime de residentes não habituais (RNH) em 2024. Isto porque, segundo justificou o Governo socialista, a chegada de estrangeiros ao país está a contribuir para a escalada de preços das casas, principalmente em grandes cidades como Lisboa, Porto, Faro e o Funchal. Mas tudo indica que os esforços governamentais para controlar a procura estrangeira estão a ter pouco impacto nos preços das casas em Lisboa, que continuam a subir mais que nas principais cidades europeias.

Foi precisamente com o argumento dos aumentos dos preços das casas, que o Governo socialista – hoje em gestão – decidiu por um ponto final no programa de vistos gold para investimento imobiliário a partir de 7 de outubro, o dia em que o Mais Habitação entrou em vigor. E também avançou com outra medida para tentar dissuadir os estrangeiros de viver em Portugal: decidiu pôr um fim ao regime de RNH no próximo ano, apesar de o Orçamento de Estado para 2024 (OE2024) contemplar um período de transição para 2024 para quem comprove que está a planear a mudança ainda este ano. E criou ainda um incentivo fiscal à investigação científica e inovação (o substituto do RNH), que é bem mais restrito.

Mas os dados mais recentes sugerem que o clima ameno, a qualidade de vida, a segurança e os bons serviços de saúde e educação que Portugal oferece continuam a atrair os estrangeiros para viver no nosso país. E também os preços das casas em Lisboa continuam a ser convidativos, uma vez que são cerca de metade dos praticados em Paris ou em Zurique, escreve a Bloomberg. Isto quer dizer que os esforços do Governo para controlar a procura estrangeira estão a ter pouco impacto até agora.

“Apesar destas mudanças, temos assistido a um aumento no número de pedidos de informação dos nossos clientes estrangeiros”, disse Paulo Silva, responsável pela Savills em Portugal, admitindo que “simplesmente não há casas suficientes para atender à procura, mesmo com a desaceleração das vendas”, cita o mesmo meio.

Casas mais caras em Lisboa
Bloomberg

Casas em Lisboa estão mais caras do que em Milão ou Berlim

A verdade é que o preço das casas à venda em Lisboa, por exemplo, continua a crescer tendo mesmo registado um recorde em novembro. Em concreto, o custo das casas em Lisboa aumentou 5,8% em novembro face ao ano anterior, para o valor máximo de 5.426 euros por metro quadrado (euros/m2), refere a mesma publicação apoiando-se em dados do idealista. “Este é o segundo maior aumento na Europa, depois de Atenas [+11,8%], o mercado imobiliário mais aquecido entre as principais cidades europeias”, conclui.

A seguir a Lisboa, os preços das casas para comprar aumentaram 5% em Estocolmo, enquanto os preços em Madrid e Milão continuam a subir de forma constante a um ritmo superior a 3%. Já em Paris os preços desceram mesmo 6,1% e em Berlim cairam quase 3%, mostram os dados recolhidos pela Bloomberg. Olhando para os preços unitários, salta à vista que as casas à venda na capital portuguesa estão mesmo mais caras do que em Milão, Madrid ou Berlim.

Os atuais preços das casas em Lisboa – que subiram, sobretudo devido à falta de oferta para a elevada procura, que foi impulsionada pelos estrangeiros – estão, assim, fora do alcance da maioria dos habitantes, que veem agora o poder de compra ainda mais pressionado pela inflação e pelos altos juros no crédito habitação. Até porque, as famílias portuguesas auferem salários que estão entre os mais baixos da Europa Ocidental. Assim, quem queria comprar casa foi empurrado para o mercado de arrendamento e, muitas vezes, nas periferias da capital.

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