
Quando Susana Barroso se licenciou em Direito e entrou na Ordem dos Advogados imaginava um futuro entre leis e tribunais. Mas a vida, imprevisível como pode ser, trocou-lhe as voltas. Depois de cinco anos a exercer advocacia, um convite inesperado levou-a até ao imobiliário para trabalhar como assistente. Um passo visto por muitos como um retrocesso, mas que se revelou o início de um percurso apaixonante. O que parecia um desvio temporário, anos mais tarde viria a dar lugar a uma nova carreira, a de consultora imobiliária. Hoje, diz, recorre ao conhecimento jurídico para oferecer um serviço mais completo aos clientes, enfrentando os desafios de um mercado competitivo – e provando que recomeçar pode, em muitos casos, ser o caminho certo para o sucesso.
“A grande diferença entre as duas profissões está na forma como vivo o dia a dia. Na advocacia, passava longas horas sozinha no escritório, a estudar casos e a preparar peças processuais, num ambiente que exigia uma postura mais formal e séria. Hoje, como consultora imobiliária, tenho um trabalho mais dinâmico, com mais contacto humano e muita atividade no exterior, através da prospeção de negócios. Sinto que vivo com muito mais leveza e isso é algo que valorizo profundamente”, salienta em entrevista ao idealista/news, por ocasião do Dia Internacional da Mulher.
Trocar a solidez de uma carreira jurídica pela incerteza da consultoria imobiliária não foi uma decisão óbvia, e o início não foi fácil. Foi preciso derrubar barreiras e preconceitos, mas Susana não tem dúvidas de que fez a escolha certa. Ainda assim, frisa que ser mulher e construir uma carreira na área da consultoria imobiliária “é extremamente exigente e esse desafio intensificou-se ainda mais com a maternidade”. “Fui mãe recentemente e conciliar este papel com uma profissão onde o sucesso depende diretamente do esforço e da consistência foi um verdadeiro teste à minha capacidade de gestão”, refere.
Mais do que vender casas, a missão de Susana Barroso tornou-se ajudar pessoas em momentos decisivos, seja na compra do primeiro lar ou na reconstrução de uma vida após uma separação. E é essa vertente humana que a motiva todos os dias. Se antes a advocacia lhe dava segurança, agora é na mediação imobiliária que encontra realização – mostrando que, por vezes, o caminho certo é aquele que nunca pensamos seguir.

Do direito para o setor imobiliário. Por que é que decidiu mudar de carreira e porquê o imobiliário?
Sempre tive um interesse particular pelo ramo do direito relacionado com a propriedade, contratos privados e notariado. Segui um percurso normal dentro do direito, com a licenciatura, mestrado e, em 2011, ingressei na Ordem dos Advogados. Durante cinco anos, exerci advocacia em prática isolada, até que, em 2016, surgiu um convite por parte de um familiar para trabalhar no setor imobiliário. Na altura, sentia-me estagnada na advocacia e decidi aceitar o desafio. Comecei como assistente e rapidamente apaixonei-me pela dinâmica do setor. Ao longo dos anos, fui consolidando o meu percurso até que, em 2021, passei eu mesma a ser consultora.
Foi uma decisão planeada ou aconteceu de forma natural? O que foi mais difícil (e fácil) nesta transição?
A minha transição para o setor imobiliário aconteceu de forma natural. Curiosamente, se em 2011 me dissessem que um dia seria consultora imobiliária, teria achado impossível e provavelmente rido da ideia. O maior desafio foi, sem dúvida, superar o preconceito em relação a esta área. Hoje, a consultoria imobiliária é uma profissão mais reconhecida, mas em 2016 ainda existia uma percepção negativa sobre os consultores. No meu caso, a mudança foi ainda mais marcante, pois passei de advogada a assistente de um consultor imobiliário - um passo que, na altura, poucos entenderam, mas que se revelou essencial para o meu percurso. Hoje sei que fiz a escolha certa.
O maior desafio foi, sem dúvida, superar o preconceito em relação a esta área.
Como é que a experiência como advogada contribui para o seu trabalho como mediadora imobiliária?
A minha formação académica e a minha experiência como advogada são uma mais-valia no meu trabalho como consultora imobiliária, pois permite-me oferecer um acompanhamento mais completo e seguro aos meus clientes. O setor imobiliário envolve diversas questões jurídicas, desde a análise da documentação do imóvel, à elaboração de contratos e à realização da escritura. O meu conhecimento jurídico dá-me a capacidade de esclarecer dúvidas, antecipar riscos e garantir que todo o processo decorre com segurança e transparência.
Além disso, surgem frequentemente questões fiscais e outras mais complexas, como a venda de imóveis após separações, divórcios ou partilhas entre herdeiros, onde a minha formação permite-me orientar os clientes com confiança. A especialização que concluí recentemente em direito imobiliário reforçou ainda mais esta vertente do meu trabalho.

Por outro lado, a advocacia ensinou-me a ser rigorosa, metódica e a negociar de forma estratégica – competências essenciais para mediar negócios imobiliários e alcançar os melhores resultados para os meus clientes.
Como é ser mulher e fazer carreira nestas duas áreas? Quais as grandes diferenças? Tem experiência em cada uma delas...
Atualmente, já não exerço advocacia, uma vez que, de acordo com a Ordem dos Advogados, é incompatível com a mediação imobiliária.
A grande diferença entre as duas profissões está na forma como vivo o dia a dia. Na advocacia, passava longas horas sozinha no escritório, a estudar casos e a preparar peças processuais, num ambiente que exigia uma postura mais formal e séria. Hoje, como consultora imobiliária, tenho um trabalho mais dinâmico, com mais contacto humano e muita atividade no exterior, através da prospeção de negócios. Sinto que vivo com muito mais leveza e isso é algo que valorizo profundamente.
Sinto que vivo com muito mais leveza e isso é algo que valorizo profundamente.
Ser mulher e construir uma carreira na área da consultoria imobiliária é extremamente exigente e esse desafio intensificou-se ainda mais com a maternidade. Fui mãe recentemente e conciliar este papel com uma profissão onde o sucesso depende diretamente do esforço e da consistência foi um verdadeiro teste à minha capacidade de gestão.
Ser mulher e construir uma carreira na área da consultoria imobiliária é extremamente exigente e esse desafio intensificou-se ainda mais com a maternidade.
E agora, quais são os principais desafios na profissão de consultora imobiliária?
A consultoria imobiliária é uma profissão desafiante, exigente e altamente competitiva. Para ter sucesso, é necessário muito mais do que apenas conhecer o mercado – é preciso resiliência, dedicação e uma forte capacidade de adaptação.
A captação de clientes e a construção de uma rede de contactos são cruciais. Destacarmo-nos no mercado imobiliário exige um trabalho constante de prospeção, marketing pessoal e fidelização de clientes. Mais do que vender casas, a mediação imobiliária é um negócio de pessoas, em que vendemos confiança e credibilidade, o que requer tempo e consistência.

Sente que há (ou não) diferenças no modo como mulheres e homens negoceiam e constroem relações no setor?
Sim, sinto que há diferenças significativas. As mulheres, por natureza, tendem a ser mais intuitivas e emotivas, características que podem ser uma grande vantagem. Sendo este um negócio de pessoas, a capacidade de criar relações de confiança, interpretar emoções e compreender verdadeiramente as necessidades dos clientes faz toda a diferença no sucesso de uma negociação.
No entanto, ser mulher no setor imobiliário também apresenta desafios. Não só relacionados com a maternidade e a conciliação dessas duas vertentes como ainda existe a necessidade de provar constantemente a nossa competência e profissionalismo num meio que, tradicionalmente, foi dominado por homens. Felizmente, isso tem vindo a mudar e cada vez mais mulheres ocupam posições de destaque na mediação imobiliária.
Há alguma história ou experiência marcante no seu percurso que gostasse de partilhar?
Ao longo do meu percurso, tive várias experiências marcantes, pois este trabalho vai muito além da simples compra e venda de imóveis – trata-se de pessoas, famílias e mudanças de vida. A mudança, por si só, gera sempre alguma apreensão e incerteza e um dos meus principais papéis como consultora é garantir que todo o processo decorre de forma fluida, segura e sem sobressaltos.
Uma situação que me tocou particularmente foi o de uma senhora que, na sequência de um divórcio, precisava vender a casa que tinha com o ex-marido e, posteriormente, encontrar um novo lar para recomeçar a sua vida. O receio de vender sem ter uma solução garantida para a compra deixava-a extremamente insegura mas consegui transmitir-lhe a segurança necessária para dar esse passo.

Conseguimos vender a casa em primeiro lugar, depois encontramos um imóvel para comprar que ainda estava em construção e, para a fase de transição, encontramos um apartamento para arrendamento. Foi um processo longo que, no total, durou quase um ano e onde se criou uma relação muito além da simples transação imobiliária. Acompanhei cada etapa, garantindo que tudo decorria da melhor forma. Até nas mudanças dei uma ajuda!
Histórias como esta fazem-me perceber o impacto real que este trabalho tem na vida das pessoas. Não se trata apenas de vender e comprar casas, mas de ajudar a construir novos capítulos, dar segurança em momentos decisivos e tornar processos complexos mais leves e tranquilos.
Quais as tendências atuais de mercado? O que é que sente que tem vindo a mudar?
O mercado imobiliário está a passar por mudanças significativas, com algumas tendências a emergir como essenciais para os próximos anos. A tecnologia tem sido uma das grandes transformações, com a utilização de visitas virtuais, fotos e vídeos de alta qualidade e inteligência artificial a personalizar as ofertas e a melhorar a experiência de compra e venda.
Além disso, os compradores estão cada vez mais informados e exigentes, sabendo exatamente o que querem, com um foco crescente em imóveis sustentáveis e energicamente eficientes.
Este ano, observou-se também um aumento na procura de imóveis por parte dos jovens, especialmente devido à possibilidade de financiamento a 100%. Esse aumento de procura levou a uma valorização dos preços em gamas mais acessíveis, tornando o mercado ainda mais competitivo.

Que conselhos daria a outras mulheres que pensam em seguir essa carreira?
Aconselho, acima de tudo, a ter muita força de vontade, resiliência e uma mentalidade positiva. A carreira de consultora imobiliária é exigente, mas oferece uma enorme liberdade e autonomia. Para quem é dedicada e estratégica, o potencial de ganhos é bastante elevado. No entanto, é fundamental saber gerir os desafios e as frustrações que surgem ao longo do caminho.
A carreira de consultora imobiliária é exigente, mas oferece uma enorme liberdade e autonomia
Embora o trabalho envolva momentos difíceis, a satisfação de ajudar as pessoas e a possibilidade de crescer como profissional tornam esta carreira incrível. Eu sou muito feliz com o que faço e acredito que qualquer mulher pode alcançar o sucesso nesta área se tiver determinação e paixão pelo que faz.
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