
O que começou como um arquivo pessoal de referências durante a faculdade transformou-se numa das maiores plataformas independentes de arquitetura do mundo. Em 2013, Amanda Ferber criou o Architecture Hunter quase por acaso, apenas para organizar e partilhar os projetos que a inspiravam. Doze anos depois, a página conta com milhões de seguidores.
A arquiteta, que se tornou especialista em comunicar arquitetura, esteve à conversa com o idealista/news durante a sua presença no Archi Summit 2025, em Lisboa. Com uma carreira que passou por experiências no Studio MK27 de Marcio Kogan e pelo ArchDaily, Amanda Ferber transformou o Architecture Hunter, numa das "primeiras páginas de curadoria de arquitetura no Instagram no mundo". Estava criada uma ponte entre arquitetos, estudantes e uma resposta para o público global curioso.
Eleita pela Feedspot como a influenciadora de arquitetura número um do mundo e distinguida pela Forbes Under 30, Amanda tenta gerir a timidez com a necessidade de dar rosto e voz ao projeto. Hoje, para além de manter a plataforma activa no Instagram e no YouTube, leva a sua linguagem acessível a webinars, fóruns internacionais e iniciativas educativas que reforçam a missão de democratizar a arquitetura.

O Architecture Hunter nasceu em 2013, quando ainda estava a estudar arquitetura. Como surgiu a ideia e qual foi a motivação inicial para criar esta plataforma?
O Architecture Hunter nasceu de forma muito orgânica e despretenciosa. Durante a faculdade, para desenvolver meus projetos, eu reunia muitas referências e fazia pesquisas constantes, tudo guardado no meu celular, de forma pessoal. Um dia, percebi que já tinha uma coleção enorme e pensei: por que não tornar essas referências públicas? Foi assim que criei um perfil no Instagram, sem grandes planos, apenas para compartilhar o que me inspirava. Isso foi em 2013, logo no início do Instagram como plataforma, o que acabou fazendo com que o Architecture Hunter se tornasse uma das primeiras páginas de curadoria de arquitetura no Instagram no mundo. O que começou como um hábito pessoal encontrou ressonância em pessoas de várias partes do planeta.
Trabalhou no estúdio MK27 com o arquiteto Marcio Kogan e colaborou com o ArchDaily. De que forma essas experiências moldaram a sua forma de olhar para os conteúdos de arquitetura?
Essas experiências foram muito mais profundas do que simplesmente treinar meu olhar curatorial. Estar como estagiária no Studio MK27, que sempre foi uma referência e um ídolo para mim, me fez perceber que, além da excelência projetual, havia um motivo muito maior para eles estarem onde estão: a cultura, a dinâmica, os processos internos, a forma como as pessoas eram tratadas, a independência e a validação que cada profissional tinha ali dentro. Vivenciar isso foi transformador e me deu um insight importante: talvez eu quisesse mais comunicar a arquitetura do que projetá-la.
Eu sentia que era fundamental mostrar esse outro lado da arquitetura, os bastidores, o dia a dia, a cultura por trás dos projetos, para que mais pessoas pudessem ter acesso a isso. Essa vontade, que hoje se reflete muito nos nossos filmes de arquitetura, nasceu ali.
Já no ArchDaily, essa percepção se confirmou. Desde criança eu dizia que queria ser arquiteta, mas o próprio caminho com o Architecture Hunter me fez começar a questionar se meu lugar estava mais no comunicar do que no projetar. No ArchDaily, pude mergulhar nos bastidores do maior site de notícias de arquitetura do mundo, entender suas áreas, processos e como tudo se sustentava. Essa experiência reforçou que meu papel estava justamente nessa interseção: conectar arquitetura e pessoas por meio da comunicação.
Eu sentia que era fundamental mostrar esse outro lado da arquitetura, os bastidores, o dia a dia, a cultura por trás dos projetos, para que mais pessoas pudessem ter acesso a isso.

O Architecture Hunter é uma das principais plataformas independentes de arquitetura no Instagram, com milhões de seguidores. Houve algum momento decisivo em que percebeu que este projeto deixava de ser um hobby e se tornava numa marca global?
Sim. Lembro de quando comecei a receber mensagens de arquitetos renomados dizendo que acompanhavam o conteúdo e que tinham conquistado clientes por meio das publicações. Esse foi um divisor de águas: percebi que o AH não era apenas uma página de inspiração, mas uma ponte real entre arquitetos e o mundo. Foi aí que entendi que precisava tratá-lo como um negócio com propósito global.
Além disso, houve dois momentos muito simbólicos para mim. Um foi quando o Jean Nouvel Ateliers lançou o projeto do Louvre de Abu Dhabi e, na publicação oficial no Instagram, marcou o Architecture Hunter junto com as principais mídias de arquitetura do mundo, para chamar atenção para o projeto. Naquele momento, percebi que o AH já era visto como um espaço desejado pelos arquitetos, e muitos, naquela época, nem imaginavam que por trás estava apenas uma estudante de arquitetura do Brasil.
Outro momento marcante foi descobrir que o próprio Mark Zuckerberg seguia o Architecture Hunter. Na época, ele seguia pouco mais de 300 perfis, e eu nem o seguia ainda. Quando o segui de volta e enviei uma mensagem agradecendo, ele respondeu e chegamos a trocar algumas mensagens. Para mim, aquilo foi uma validação muito especial, por vir justamente do "dono" do Instagram, a plataforma onde tudo começou.
Foi eleita pela Feedspot como a influenciadora de arquitetura número um do mundo. Como é que gere esta visibilidade mantendo um foco tão forte no conteúdo e não na sua própria imagem?
Essa é fácil. Hoje pode ser que ninguém perceba, mas eu sempre fui muito tímida. Tornar-me uma “figura pública” foi um grande esforço, porque entendi que seria importante ter alguém que expressasse os “porquês” do Architecture Hunter, que representasse a marca e que fortalecesse, editorial e empresarialmente, o projeto. Então, embora eu nunca tenha buscado essa exposição, me “ensinei” a fazer.
Eu nunca quis o título de “influencer”, confesso que, no início, isso até me incomodava bastante. Hoje lido melhor com o termo, mas prefiro pensar que sou, como consequência, uma pessoa de influência dentro do mercado. Com o tempo, ficou claro como dividir esses papéis: no AH, que sempre teve como objetivo ser uma mídia de arquitetura, eu não apareço. Isso é essencial para que o negócio possa escalar sem depender da minha agenda ou da minha presença. Já no meu Instagram pessoal, que nesse processo se tornou também profissional, passei a compartilhar bastidores do AH e conteúdos mais leves sobre arquitetura, criando um espaço mais próximo e humano para me conectar com as pessoas.
Quais são hoje os critérios que utiliza para seleccionar os projetos que partilha? Existe alguma estética, conceito ou emoção que procure transmitir?
Buscamos autenticidade, qualidade arquitetónica e relevância cultural. Gostamos de projetos que tenham identidade, que dialoguem com o lugar onde estão inseridos e que provoquem algum tipo de emoção, seja pela inovação, pela simplicidade ou pela forma como se conectam com quem os vive.
Aos 24 anos entrou para a lista Forbes Under 30 no Brasil. O que significou para si este reconhecimento?
Foi um momento muito especial. Mais do que um título, foi um sinal de que valia a pena continuar acreditando em algo que começou pequeno, mas que tinha um propósito claro. Querendo ou não, eu nunca havia planejado, desde o início, chegar onde cheguei com o AH. Ele nasceu como um hobby. Então, sempre houve, e ainda há, em alguns momentos, uma certa falta de autoconfiança no meu próprio caminho e nas minhas escolhas.
Eu acho lindo quando o processo de transformação acontece de dentro para fora, mas acredito que, às vezes, ele também pode vir de fora para dentro: pessoas ao nosso redor podem nos ajudar a enxergar nossos pontos fortes e potenciais. Para uma menina de 24 anos, formada em arquitetura e ainda no início da sua jornada empreendedora, insegura e tentando entender o que fazer, estar na Forbes Under 30 foi como um farol. Me fez perceber que talvez eu estivesse mirando para o lugar certo, que algo certo eu estava fazendo, e que, de alguma forma, já estava conquistando coisas muito especiais.
Gostamos de projetos que tenham identidade, que dialoguem com o lugar onde estão inseridos e que provoquem algum tipo de emoção, seja pela inovação, pela simplicidade ou pela forma como se conectam com quem os vive.

Qual foi a maior lição que aprendeu ao longo destes anos a criar conteúdo para várias plataformas?
A maior lição é que consistência e autenticidade valem mais do que qualquer fórmula. As plataformas mudam, os algoritmos mudam, mas o compromisso com a qualidade e a verdade do conteúdo é o que constrói confiança e longevidade.
Hoje, qual é principal missão do Architecture Hunter?
A missão é conectar pessoas à arquitetura de forma inspiradora e acessível, sem perder profundidade. Queremos que um estudante no interior do Brasil e um arquiteto em Tóquio possam se emocionar e refletir sobre um mesmo projeto, mesmo que estejam a milhares de quilômetros de distância.
E quais são os próximos passos para o Architecture Hunter?
O próximo passo é expandir nossa atuação, tanto no mundo físico quanto no digital, explorando novos formatos de conteúdo e misturando arquitetura com outras áreas criativas. Nesse ano, lançamos nosso quarto pilar: educação. Esse pilar seguirá guiando muitos dos nossos próximos projetos, sempre em equilíbrio com os outros três pilares que definem o AH: inspirar, informar e entreter.
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