O Ranking de Competitividade Municipal 2025, divulgado pelo Instituto +Liberdade, confirma o que há muito se sente no território português: os grandes centros urbanos do litoral concentram riqueza, oportunidades e serviços, enquanto o interior continua a enfrentar dificuldades estruturais e a perder população.
Lisboa, Oeiras e Porto lideram a lista dos 186 municípios analisados, enquanto várias autarquias do interior e algumas insulares ficam no fundo da tabela.
Com a aproximação das eleições autárquicas, esta fotografia detalhada da competitividade municipal surge como um barómetro essencial para avaliar a qualidade de vida, a capacidade de atrair investimento e o futuro das cidades portuguesas.
O que mede o ranking?
O estudo avaliou 186 municípios com mais de 10 mil habitantes, cruzando dados de fontes oficiais como o INE e a Pordata. O resultado traduz-se numa pontuação de 0 a 100 para cada município, permitindo comparar desempenhos e identificar áreas de força e fragilidade.
Foram consideradas três grandes dimensões:
- Famílias e Empresas (50%): rendimento das famílias, taxa de desemprego, capital humano e produtivo.
- Serviços, Infraestruturas e Governação Local (40%): acesso à saúde, educação, habitação, cultura, transportes, fiscalidade e gestão autárquica.
- Competitividade Envolvente (10%): o impacto da vizinhança, medindo os benefícios ou desvantagens da proximidade a outros municípios competitivos num raio de 50 km.
Os líderes: Lisboa, Oeiras e Porto
O pódio do ranking é ocupado por três municípios que, de formas diferentes, se consolidaram como motores do país.
O primeiro lugar
Lisboa com 70,1 pontos. A capital lidera em capital humano, graças:
- À elevada proporção de população com ensino superior, e destaca-se ainda na cultura e na inovação;
- É o grande centro de startups e empresas de base tecnológica, ao mesmo tempo que concentra museus, teatros e eventos internacionais;
- Lisboa é, também, uma das cidades mais visitadas da Europa, o que gera dinamismo económico, mas pressiona fortemente o mercado de habitação.
Em segundo lugar
Oeiras é exemplo de como uma boa estratégia municipal pode transformar um concelho.
- Aposta em parques tecnológicos e empresariais;
- Atrai multinacionais;
- Apresenta os rendimentos familiares mais elevados do país;
- Também se destaca em segurança e governação local, fatores que contribuem para uma qualidade de vida reconhecida.
Terceiro classificado
Porto, recebe o terceiro lugar do pódio, a cidade invicta conjuga tradição industrial com novos setores emergentes.
- O turismo, a restauração e as indústrias criativas ganharam peso;
- Mas a cidade continua a ser um polo forte de serviços especializados, com universidades, centros de investigação e empresas financeiras;
- A infraestrutura é um trunfo: o Aeroporto Francisco Sá Carneiro e o Porto de Leixões reforçam o papel internacional da cidade
Tal como Lisboa, o Porto enfrenta sérios problemas no acesso à habitação, que se tornou escassa e cara.
Estes três casos demonstram que a competitividade nasce de uma combinação entre investimento em pessoas, infraestruturas modernas e governação eficaz. No entanto, também deixam claro que os municípios mais competitivos enfrentam o mesmo desafio: garantir habitação acessível para manter jovens e famílias no território.
Coimbra: saúde, conhecimento e inovação
Coimbra, em 4.º lugar, afirma-se como cidade do conhecimento. O município lidera:
- Na categoria da saúde, sustentado pelo Centro Hospitalar e Universitário e pela histórica Faculdade de Medicina;
- O ensino superior continua a ser uma das suas maiores forças, com milhares de estudantes nacionais e internacionais a dinamizar a cidade todos os anos.
A Universidade de Coimbra, uma das mais antigas da Europa, é um polo de investigação com impacto direto na economia local. A presença de centros tecnológicos e startups ligadas à ciência reforçam este posicionamento.
O grande desafio de Coimbra, porém, é reter talento: muitos jovens formam-se na cidade, mas acabam por procurar oportunidades em Lisboa, Porto ou no estrangeiro.
Aveiro: uma história de contrastes
Aveiro, em 5.º lugar, é um dos municípios mais competitivos do país, mas também um dos mais desafiados. O concelho apresenta pontos fortes claros:
- Ocupa o 3.º lugar em capital humano, reflexo da Universidade de Aveiro e da presença de uma população jovem e qualificada;
- Está em 5.º no capital produtivo, beneficiando da diversidade económica;
- Está no top 10 em rendimentos familiares, mostrando uma base sólida de bem-estar económico.
Contudo, o reverso da medalha expõe fragilidades sérias. Aveiro está na 136.ª posição em habitação, fortemente penalizado pelos preços elevados de compra e arrendamento, e surge entre os 20 piores municípios no critério de fiscalidade e endividamento autárquico, sinal de fragilidade financeira.
Sem uma resposta eficaz ao problema da habitação, Aveiro arrisca perder atratividade para novos residentes e estudantes.
Os líderes em áreas específicas
O ranking mostra que não existem campeões absolutos: diferentes municípios brilham em diferentes áreas.
Rendimentos familiares
Oeiras lidera claramente nesta categoria, reflexo dos salários mais elevados e do forte poder de compra dos seus residentes. Ainda assim, Sines merece destaque: apesar de ser um município de menor dimensão, combina rendimentos médios altos com uma baixa incidência de rendimentos baixos, revelando um perfil económico sólido e sustentável.
Capital humano
Lisboa ocupa o primeiro lugar, confirmando-se como o município com maior percentagem de população com ensino superior. Mas há também surpresas: Arruda dos Vinhos surge no top 10 graças à baixa taxa de desemprego, provando que concelhos de menor escala podem, em determinados indicadores, competir com as grandes cidades.
Saúde
Coimbra lidera na área da saúde, reforçando o seu estatuto de polo hospitalar e universitário de referência nacional. A cidade concentra alguns dos principais hospitais e centros de investigação do país, o que garante não apenas acesso a cuidados de saúde de qualidade, mas também dinamismo na investigação científica e na formação médica.
Educação
Angra do Heroísmo, Rio Maior e Faro destacam-se nesta categoria, mostrando que municípios de diferentes dimensões podem assumir liderança em indicadores de ensino. Já São João da Madeira ocupa lugar de relevo no ensino não superior, o que demonstra uma aposta clara na formação técnica e profissional.
Habitação
Os municípios de Sátão, Bragança e Monção lideram pela acessibilidade dos preços da habitação, oferecendo soluções mais baratas para compra e arrendamento. Em contraste, Lisboa e Aveiro, apesar da sua competitividade global, surgem mal posicionadas devido ao peso dos preços elevados, que dificultam a fixação de famílias e jovens.
Cultura e entretenimento
Lisboa e Porto concentram naturalmente a maior oferta cultural, com teatros, museus e eventos de grande escala. No entanto, municípios como Alcanena, Estremoz e Elvas revelam vitalidade cultural própria, mostrando que também em territórios mais pequenos a oferta cultural pode ser um fator de atratividade.
Fiscalidade e endividamento autárquico
Cinfães, Sátão e Valpaços são exemplos de boa gestão financeira, com contas equilibradas e menor carga fiscal sobre os munícipes. Já Vila Real de Santo António fica no fundo da tabela, penalizado por elevados níveis de endividamento autárquico.
Competitividade envolvente
Amadora, Odivelas e Almada beneficiam da proximidade a Lisboa, aproveitando os efeitos positivos de vizinhança para reforçar a sua competitividade. No extremo oposto, a Horta, nos Açores, fecha a tabela, refletindo as dificuldades de um território insular que sofre com a menor densidade de municípios vizinhos competitivos.
Interior em desvantagem: o fosso que persiste
Os municípios do interior continuam a ser os mais penalizados. A perda de população jovem, a menor densidade empresarial e as dificuldades no acesso a transportes e serviços básicos resultam em fraca competitividade.
Este cenário não é novo, mas o ranking de 2025 reforça o alerta: sem políticas de coesão territorial mais robustas, o fosso entre litoral e interior continuará a crescer. O despovoamento e o envelhecimento populacional são riscos reais que podem comprometer a sustentabilidade destas regiões.
Regiões autónomas: contrastes atlânticos
Nas ilhas, o desempenho é desigual. Estes casos mostram como a localização insular pode ser tanto uma vantagem, quando bem explorada, como uma limitação, quando não há conectividade suficiente.
- Funchal aparece no top 10, mostrando dinamismo económico, sobretudo pelo turismo e pelos serviços. A capital madeirense beneficia ainda de boas ligações aéreas e marítimas.
- Horta, nos Açores, surge no fundo da tabela em competitividade envolvente, penalizada pela distância e pela menor densidade de municípios vizinhos.
Em resumo:
- Lisboa é o município mais competitivo do país, com 70,1 pontos.
- Oeiras ocupa a segunda posição (66,2) e confirma-se como concelho de excelência em rendimentos e governação.
- Porto surge em terceiro lugar (61,6), reforçando o dinamismo económico do Norte.
- O top 10 inclui ainda Coimbra, Aveiro, Cascais, Maia, Alcochete, Funchal e São João da Madeira.
- Municípios do interior e de algumas ilhas figuram no fundo da tabela, confirmando o fosso territorial.
- Habitação é o grande ponto fraco de cidades como Lisboa e Aveiro, onde preços elevados afastam jovens e famílias.
- Pequenos municípios conseguem, no entanto, destacar-se em áreas específicas, como saúde (Coimbra), educação (Angra do Heroísmo) ou fiscalidade (Cinfães).
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