Programas vistos gold estão por um fio na Europa. Irlanda já não tem golden visa e Portugal tem proposta para acabar com programa.
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Fim dos vistos gold em Espanha
Foto de RDNE Stock project no Pexels

Os vistos gold estão por um fio na Europa. A União Europeia (UE) tem pressionado cada vez mais os seus Estados-membros a acabar com esse programa que considera “antidemocrático”. E há já vários países a querer pôr um fim ao programa golden visa, como é o caso de Portugal. Em Espanha, o Governo também quer endurecer os critérios de concessão de autorizações de residência a estrangeiros que comprem casas no país. E em cima da mesa está até a hipótese acabar de vez com o programa vistos gold em Espanha.

No país vizinho, têm surgido opiniões diferentes sobre o futuro do programa vistos gold, que hoje permite conceder autorizações de residência a estrangeiros que invistam, pelo menos, 500 mil euros em imobiliário. Em Espanha, os vistos gold são concedidos pelo período de três anos, sendo prorrogáveis por mais dois anos, segundo a Lei 14/2013.

Acontece que, em Espanha, 94% dos vistos gold concedidos tiveram origem em investimento residencial, o que tem levantando questões num momento em que o setor imobiliário atravessava um 'annus horribilis', dado os elevados preços das casas e o atual contexto económico marcado pela inflação e subida dos juros, que torna o acesso à habitação ainda mais difícil.

O objetivo do ministério da Inclusão, Segurança Social e Migrações, liderado por José Luis Escrivá, passa por elevar o investimento mínimo necessário para obter os vistos gold de 500 mil euros para 1 milhão de euros. A alternativa é terminar de vez com o programa vistos gold em troca de investimento residencial, escreve o El País.

Esta é uma medida que está a ser negociada em conjunto com o Más País, partido liderado por Íñigo Errejón, que admite que os vistos gold encarecem "brutalmente" o preço da habitação em muitas zonas do país de forma "artificial". “Parece-nos que isto é moralmente nocivo e coloca Espanha como uma colónia que atrai dinheiro negro”, sublinhou o dirigente do Más País, que já havia entregado uma proposta de lei nesse sentido, que foi, no entanto, rejeitada pelo Congresso dos Deputados.

Vistos gold em Espanha
José Luis Escrivá, ministro de Seguridad Social GTRES

Vistos gold em risco na Europa

Espanha pode juntar-se, assim, ao grupo de países europeus que estão a por um ponto final no programa golden visa ou, pelo menos, a torná-lo menos atrativo aos olhos dos investidores. Por exemplo, a Irlanda decidiu acabar com o programa golden visa no passado dia 15 de fevereiro. O Governo português também lançou uma medida no Mais Habitação para terminar com os vistos gold, tendo já levado a proposta de lei ao Parlamento. E no Executivo da Grécia estuda duplicar o investimento mínimo em várias zonas do país.

Há vários motivos que estão por detrás deste movimento na Europa. Por um lado, a UE tem vindo a pressionar os governos a terminar com os golden visa por considerar que são antidemocráticos e que podem ser um meio de lavagem de dinheiro, corrupção e evasão fiscal. “Os valores europeus não estão à venda”, disse Didier Reynders, Comissário Europeu da Justiça da UE há cerca de um ano.

Por outro lado, agora os países europeus apresentam uma posição financeira estável - muito diferente da que possuíam na altura em que os vistos gold foram criados (depois da crise financeira de 2008), com o objetivo de equilibrar os défices orçamentais.

Além disso, os preços das casas estão em alta, tornado a habitação inacessível às famílias de classe média. E o programa vistos gold tem sido também apontado como um dos motivos que explica o encarecimento das habitações na Irlanda, Espanha e em Portugal, muito embora os dados mostrem o contrário. Isto porque, além de estarem envolvidas casas de luxo, as transações via vistos gold representam menos de 0,5% do total de transações.

A verdade é que os programas dos vistos gold atraíram cerca de 3.500 milhões de euros para o mercado imobiliário europeu só entre 2016 e 2019, segundo apontou o próprio Parlamento Europeu. E os especialistas que trabalham com os vistos gold dizem que esta visão negativa ao programa será temporária, porque os países já viram os benefícios que estão por detrás da atração de imigrantes ricos, qualificados e dispostos a financiar novos negócios. “É improvável que isso mude. Embora possam ser reformados, não serão extintos”, diz Nuri Katz, fundador da empresa de investimentos Apex Capital Partners, citado pela Bloomberg.

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