É certo que vai haver padrões mínimos de eficiência energética para habitação na UE. Mas não há consenso sobre como aplicá-los.
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Eficiência energética das casas
GTRES

A discussão e negociação da Diretiva de Eficiência Energética em Edifícios continua na Europa. E muito pode mudar para quem quer vender ou arrendar casa. Isto porque está em discussão a implementação de padrões mínimos de eficiência energética antes de vender ou arrendar uma habitação, da mesma forma que hoje já é exigido o Certificado de Eficiência Energética na hora de vender ou arrendar casa.

Depois do acordo alcançado em maio passado pelo Parlamento Europeu sobre a reforma da Diretiva de Eficiência Energética dos Edifícios (EPBD), o complexo debate da legislação europeia já arrancou. E nesta discussão o Parlamento, a Comissão Europeia e o Conselho colocam em cima da mesa diferentes hipóteses para a sua aplicação.

“O que está claro é que a União Europeia vai implementar padrões mínimos de eficiência energética para habitação. A dificuldade é chegar a um acordo sobre como. E é aí que está a discussão agora”, explica Raquel Díez, diretora de projetos do Green Building Council Spain.

E ainda é cedo para antecipar qual será a redação final desta diretiva europeia. Mas importa saber o que está em causa que deverá, aliás, ser alvo de transposição para a legislação portuguesa e mexer nos negócios imobiliários. Em causa está a intenção de obrigar os proprietários a realizar obras de melhoria até à etiqueta F como pré-requisito para a venda ou arrendamento de um imóvel.

Desempenho energético dos edifícios
Getty images

Harmonização dos padrões mínimos de eficiência energética

Um dos pontos em debate diz respeito aos padrões mínimos de eficiência energética: “O objetivo é harmonizar o certificado energético nos países da UE porque até agora, salvo os mínimos comuns, estava muito disperso”, diz Raquel Díez.

A UE quer estabelecer um sistema de qualificação baseado em critérios comuns, mas tendo em conta as especificidades climáticas de cada região. Por exemplo, a temperatura de uma ilha grega ou de uma cidade do norte da Polónia condiciona o consumo de energia em ambos os agregados familiares.

“O problema surge na hora de decidir como essa harmonização [dos padrões mínimo de eficiência energética] se vai concretizar”, continua Raquel Díez. A solução pode passar por uma escala autorreferenciada em cada país das etiquetas energéticas. Desta forma, a letra G agruparia as piores habitações construídas (15% do total) e a classificação A corresponderia a edifícios de zero emissões, conforme definido pela diretiva. As restantes classificações energéticas seriam realizadas a uma escala proporcional em cada país.

Mas os diferentes órgãos europeus têm visões diferentes quanto aos padrões mínimos de eficiência energética para as casas a aplicar de forma a chegar à neutralidade carbónica até 2050:

  • Comissão Europeia: quer que até a classificação mínima seja F até 2030 e E até 2023.
  • Conselho da União Europeia: O órgão que reúne os chefes de estado ou de Governo dos 27 Estados-membros da UE aposta em medidas mais brandas, nas quais cada país deve decidir qual é a percentagem do parque habitacional que deve ser recuperada com urgência até 2030 para melhorar a sua eficiência energética. "Desta forma, a classificação energética G continuaria a fazer parte do parque habitacional construído com pior desempenho, mas evita fixar uma percentagem de melhoria nas moradias, o que deixa maior poder de decisão para cada país”, explica a diretora de projetos.
  • Parlamento Europeu: a sua proposta é mais ambiciosa, passando pela etiqueta E até 2030 (em vez de F) e pela letra D para 2033.
Eficiência energética na habitação
Imagem de Maria Godfrida por Pixabay

Como é que os padrões mínimos de eficiência energética vão ser aplicados?

Sobre a aplicação dos padrões mínimos de eficiência energética, ainda não há uma leitura clara. “Numa parte [do texto da CE] é dito que até 2030 todos os edifícios residenciais devem ter pelo menos até à letra F, o que implicaria que muitas casas devem ser urgentemente reabilitadas. No entanto, noutras partes do texto refere-se que estas casas devem ser reabilitadas quando existam condições para tal, como por exemplo quando vão ser colocadas para vender ou arrendar".

Obrigar a que as casas possuam uma classificação mínima de F até 2030 e E até 2033 para comprar ou arrendar é, sem dúvida, uma decisão que muito agitaria o mercado imobiliário, pelo que importa esclarecer o quanto antes, recomendam desde o GBCe.

Por outro lado, também não há entendimento entre os diferentes órgãos da UE sobre o calendário de transição e harmonização dos certificados de eficiência energética, já que a CE defende que o modelo comum entre em vigor em 2025 e o Conselho da UE e o Parlamento Europeu querem que a harmonização seja aplicada até 2026.

Outro ponto de conflito na negociação da diretiva europeia diz respeito à validade dos certificados de eficiência energética. Atualmente, a certificação é válida por dez anos, independentemente da qualificação obtida pelo imóvel, prazo que, por proposta da CE, seria reduzido para cinco anos para as letras abaixo de C (de D a G), enquanto para as três classificações energéticas mais elevadas continuaria a ser de uma década. Mais uma vez o Conselho da UE defende uma posição mais conservadora, exigindo que se mantenha em todos os casos um prazo de dez anos para a renovação do certificado de eficiência energética.

Ainda é uma incógnita o que vai ser decidido na União Europeia quanto ao futuro da Diretiva de Eficiência Energética dos Edifícios. Mas é certo que qualquer que seja a decisão tomada vai influenciar as práticas e os negócios em Portugal, bem como nos outros países europeus de forma a cumprir os objetivos de descarbonização no Velho Continente.

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