Em pleno confinamento, Inês e Pedro resolveram enfrentar todos os obstáculos e avançar com um projeto no meio rural. Contam a experiência ao idealista/news.
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“Não deixem as ideias na gaveta. Se têm vontade de criar o vosso próprio negócio, não desistam”
Inês Guimarães e Pedro Castro, jovem casal lançou a marca Azeites Pintarroxo

São jovens e empreendedores, e concretizaram um projeto no meio rural em plena pandemia, confirmando, em entrevista ao idealista/news, que entraves como a burocracia e a dificuldade em obter financiamento continuam a ensombrar quem quer “voar mais longe”. Mas Inês Guimarães e Pedro Castro não desistiram e aproveitaram os meses de confinamento para amadurecer a ideia e lançar o projeto dos Azeites. Agora, partilham a experiência com o idealista/news e deixam alguns conselhos para outros jovens empreendedores, lançando um repto: “Não deixem as ideias na gaveta”.

Os Azeites Pintarroxo são um projeto de empreendedorismo jovem. O que os levou a avançar com este projeto?

Somos dois fundadores e promotores deste projeto, de 24 e 31 anos, com muita vontade de criar algo próprio. Acreditamos que esse é o caminho para a nossa felicidade. Quando se trabalha por gosto, não cansa, como se costuma dizer. Esta foi a maior razão que nos levou a criar o Pintarroxo e a trabalhar para que ganhasse asas e conseguisse voar, cada vez mais longe.

O confinamento obrigatório também nos ajudou, ao proporcionar-nos bastante tempo para maturar a ideia deste projeto, pensar na imagem da marca e na mensagem que queríamos passar, idealizar a embalagem e a elaborar um plano de negócios. Após a primeira garrafa feita, o projeto foi avançando e dando frutos de uma forma muito natural e muito reconfortante.

Fala-se do empreendedorismo como se exigisse ‘só’ boas ideias e muito trabalho. Infelizmente não é verdade. Há também que ultrapassar a burocracia, ter capitais próprios e conseguir financiamento

Quais foram as maiores dificuldades que sentiram no seu desenvolvimento?

De forma absoluta: a burocracia. Foi um entrave, é um obstáculo e continuará a sê-lo. Sentimos que não tínhamos conhecimentos, nem acesso à informação de que precisávamos, tanto para criar a empresa, como para cumprir com todas as obrigações relacionadas com o departamento das Finanças.

Com muito esforço da nossa parte, e aprendendo com os erros que fomos cometendo, conseguimos ultrapassar essas dificuldades. Depois há a questão do financiamento. Fala-se do empreendedorismo como se exigisse ‘só’ boas ideias e muito trabalho. Infelizmente não é verdade.

Como foi o acesso ao financiamento?

Ser-se empreendedor exige ter-se já alguns capitais próprios armazenados e estar-se disposto a abdicar deles, sem nenhuma garantia de retorno a médio prazo.

O acesso ao financiamento não é tão ágil como poderia ser e, visto sermos uma empresa recém-nascida, ainda estamos à procura de uma modalidade de financiamento que se adeque às nossas necessidades presentes.

Não é fácil provar liquidez, nem apresentar fantásticos indicadores económicos, quando uma empresa acabou de aparecer e ainda menos num mercado altamente concorrencial e numa situação de pandemia.

Contaram com alguns apoios?

O processo é facilitado pelos contactos que já se cultivaram previamente. Neste aspeto, tivemos vários mentores dos quais gostaríamos de destacar o de António Guimarães (diretor da empresa Soguima), o de Faria Luciano (contabilista) e de Hélder Teixeira (diretor na Cooperativa Agrícola dos Olivicultores de Vila Flor).

Apesar de ambos os membros da nossa equipa terem habilitações académicas e, como consequência, termos já passado por projetos de empreendedorismo no meio académico, o verdadeiro saber está em quem o pratica diariamente. Infelizmente, há um conjunto de aspetos fundamentais para a criação de valor a partir de uma ideia, que não se ensinam na escola ou na universidade.

Não achamos que o financiamento deva ser de mais fácil obtenção, apenas que envolva candidaturas mais simplificadas, mais abrangentes, mais claras e menos burocráticas.

Que tipo de apoios consideram que eram importantes no apoio aos projetos por parte de jovens, sobretudo no meio rural?

Da nossa ainda muito curta experiência, pensamos que há dois ingredientes que seriam benéficos para os empreendedores a curto prazo e para o próprio Estado. O financiamento e a mentoria devidamente qualificada e com experiência prática em empreendedorismo.

Não achamos que o financiamento deva ser de mais fácil obtenção, apenas que envolva candidaturas mais simplificadas, mais abrangentes, mais claras e menos burocráticas. Pensamos que há muitos que, como nós, têm enorme vontade de dar vida às boas ideias que têm na gaveta, mas que são travados pela inexistência de informação acessível acerca dos mecanismos de apoio que existem.

Também nos deparamos diariamente com a clássica dificuldade inerente à contabilidade e finanças de uma empresa, para a qual não temos a formação básica.

Tivemos a enorme sorte de poder contar com diversos amigos, que nos ajudaram a evitar percalços maiores e erros que poderiam ser fatais, numa fase tão embrionária em que se encontra a nossa empresa. Achamos que é essencial a educação neste sentido e que tem sido uma grande lacuna, quer no ensino obrigatório quer académico.

Nos meios rurais, além do acesso aos mecanismos de apoio às novas empresas ser ainda mais difícil, ainda existe o problema da distância para os grandes centros urbanos onde está o capital. É urgente fazer-se uma aproximação do interior ao litoral, mas também é fundamental atrair os jovens para o interior. Portugal é pequeno e, ainda assim, poucos portugueses conhecem de facto o país.

Que conselhos deixa a outros jovens que gostariam de concretizar projetos no meio rural?

Que não deixem as ideias na gaveta. Ponham os vossas ideias à prova. Rodeiem-se de pessoas que tenham já experiência na criação e gestão de empresas, porque certamente vos darão dicas que pouparão muitas horas de trabalho e que vos ajudarão a crescer e evoluir. E se têm vontade de criar o vosso próprio negócio e gostam do vosso projeto, não desistam! É um caminho longo e que não dá imediatamente frutos. Mas cada meta atingida dá um prazer sem igual e aprende-se muita coisa!

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1 Comentários:

Marina Castro
2 Novembro 2020, 14:34

Fantásticos e inspiradores!! Muitos parabéns!

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