
O que têm em comum a tecnologia e o setor imobiliário? Muita coisa. Desde logo criatividade. Foi isso que tiveram um conjunto de investigadores de engenharia civil e engenharia química da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), que criaram um material superisolante em termos térmicos e acústicos para edifícios com… borracha de pneus usados. O resultado é um aerogel com matriz homogénea de sílica e borracha, um novo material que além de ser superisolante é ecológico e mais económico.
“Considerando que, por um lado, na Europa são produzidos cerca de 355 milhões de pneus por ano e, por outro lado, os aerogéis são ótimos isolantes térmicos, mas são dispendiosos, os cientistas apostaram no desenvolvimento de um aerogel incorporando borracha de pneus usados”, refere a FCTUC em comunicado.
O projeto Tyre4buildins foi liderado por Paulo Santos, investigador do ISISE (Institute for Sustainability and Innovation in Structural Engineering) e professor do Departamento de Engenharia Civil da FCTUC, e financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), tendo sido desenvolvido ao longo dos últimos quatro anos, refere o estabelecimento de ensino.

O projeto passo a passo
Citada na nota, Luísa Durães, coordenadora da equipa de investigadores do Departamento de Engenharia Química da FCTUC, adianta que foi preciso “vencer muitos obstáculos ao longo do projeto”. “No início, foi extremamente difícil introduzir a borracha, reduzida a grânulos de um milímetro, dentro do aerogel, mas, após vários estudos complexos, encontrámos uma solução de desintegração química da borracha ou desvulcanização, com recurso a um ácido que torna a borracha líquida. Assim, conseguimos abrir uma nova porta de processamento do aerogel, porque o aerogel é produzido primeiramente em fase líquida”, explica.
O passo seguinte foi encontrar a fórmula certa para a mistura de líquidos. “Era necessário encontrar os solventes mais compatíveis para os sistemas da sílica e da borracha. A partir daí, foi mais fácil conseguir um material inovador e altamente eficaz”, acrescenta.
Um material com muitas vantagens
Segundo a investigadora, o novo material com borracha de pneus usados é muito vantajoso: “Além de ter um preço praticamente nulo porque é um desperdício, a borracha é hidrofóbica, isto é, repele a água, o que é benéfico na secagem dos aerogéis. Por outro lado, a borracha tem caraterísticas de grande estabilidade térmica e química. (…) [O produto] tem caraterísticas de um superisolante térmico. Assim, conseguimos ter um produto premium em termos de isolamento térmico e, em simultâneo, estamos a contribuir com uma nova aplicação para reduzir os resíduos dos pneus, porque as aplicações atuais estão a esgotar em relação à quantidade de borracha que é produzida”.
Luísa Durães revela ainda que o novo produto foi depois comparado com isolantes atualmente no mercado, tendo sido comprovado que o aerogel, já por si um ótimo isolante, torna-se ainda melhor com a introdução da borracha. “O aerogel com borracha foi o que obteve melhor desempenho, conseguindo até 77% de redução de transferência de calor no protótipo de parede testado. Foi também realizado um teste de envelhecimento com humidade e temperatura e verificámos que o nosso isolante, em comparação com os materiais comerciais testados, era aquele que mantinha todas as propriedades ao longo dos ciclos de envelhecimento”, conclui.
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