
A procura de crédito habitação arrefeceu ao longo de 2023, sobretudo, devido às elevadas taxas de juro conjugadas com a instabilidade do mercado. Mas, nos últimos meses, o montante concedido em novos empréstimos habitação tem vindo a recuperar, tendo subido 8% em setembro face a agosto, atingindo, assim, o maior valor dos últimos 15 anos. O que também é visível é que nesse mesmo período as famílias têm optado pelas ofertas a taxa mista, que representaram 55% dos novos empréstimos para habitação própria permanente em setembro.
Os bancos residentes em Portugal concederam um total de 1.870 milhões de euros em novos créditos habitação em setembro, mais 141 milhões de euros face ao mês anterior (+8%), revela o Banco de Portugal (BdP) no boletim publicado esta quinta-feira, dia 2 de novembro. Este é mesmo o maior montante concedido pela banca nos últimos 15 anos, sendo preciso recuar até outubro de 2007 para encontrar um valor mais elevado (1.875 milhões de euros).
Isto quer dizer que a procura por crédito habitação em Portugal está a ganhar fôlego, apesar das taxas de juro continuarem a subir e o clima económico permanecer instável. Aliás, o BdP revelou que “a taxa de juro média dos novos empréstimos à habitação aumentou ligeiramente, de 4,23% em agosto para 4,26% em setembro”.
Tudo indica que os juros vão continuar em alta, uma vez que o Banco Central Europeu (BCE) manteve a sua política monetária restritiva tal como está na sua reunião de outubro: com a taxa de financiamento nos 4,5%, o nível mais elevado desde 2001. E não descarta novos aumentos dos juros diretores no futuro.
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Taxa mista ganha cada vez mais adeptos
Mas o que poderá estar por detrás deste aumento do montante dos novos créditos habitação? A verdade é que a procura de empréstimo para comprar casa está a mudar, com as famílias optar cada vez mais por taxas mistas. Isto acontece porque “a forte concorrência entre os bancos faz com que existam atualmente ofertas de crédito habitação a taxa mista que estão abaixo dos 4%, que é o nível atual da Euribor”, podendo ser mais apetecíveis às famílias, explica Miguel Cabrita, responsável pelo idealista/créditohabitação em Portugal.
“Em setembro, os novos empréstimos à habitação com taxa mista (isto é, empréstimos com taxa de juro fixa num período inicial do contrato, seguido de um período em que a taxa de juro é variável) representaram 55% do total de novos empréstimos [para habitação própria e permanente]”, explicou ainda o regulador liderado por Mário Centeno.
O histórico de novos créditos habitação revela que a adesão às taxas mistas começou a aumentar em outubro de 2022, tendo essa evolução sido mais expressiva a partir de junho deste ano, quando a taxa mista passou a representar quase 30% dos novos contratos, estando ainda abaixo dos empréstimos a taxa variável (62%). Mas foi precisamente em agosto e em setembro que deu o salto: a taxa mista passou a representar a maioria dos novos créditos habitação em Portugal.
Também foi neste período que o montante concedido em novos empréstimos habitação deu o salto para 1.729 milhões de euros em agosto e 1.870 milhões de euros em setembro. Estes dados sugerem que as taxas mistas – que estão mais acessíveis que as variáveis – têm dado fôlego aos novos créditos habitação, pois são mais atrativas aos olhos (e bolsos) das famílias, num momento em que as prestações da casa estão em alta.
De notar que “a prestação média mensal do stock de empréstimos para habitação própria permanente aumentou seis euros em setembro, fixando-se nos 413 euros”, um aumento que “está em linha com o verificado em agosto”, apontou o BdP. Já comparando com setembro de 2022, a prestação média mensal subiu 109 euros.
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