O idealista/news foi até Castro Laboreiro conhecer a aldeia abandonada que o influencer de viagens João Amorim está a reconstruir.
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Gonçalo Lopes
Gonçalo Lopes

À chegada ouve-se o chilrear dos pássaros, o leve som das águas do rio. Não há pessoas, não se ouvem vozes, mas há cavalos e uma paz que encontramos em poucos lugares. Estamos a duas horas da cidade do Porto, em pleno Parque Nacional Peneda-Gerês, na aldeia da Varziela, em Castro Laboreiro. E nem por isso o dia chuvoso e nublado retira magia ao ambiente, pelo contrário. Transporta-nos ao passado, às memórias do que ali já se viveu, de quem por ali passou. Ao longe vemos casas antigas de pedra, mas mais do que isso, vislumbramos o sonho de João Amorim, o influencer de viagens que se perdeu de amores por este lugar abandonado e quer dar-lhe uma nova vida. Decidiu comprar esta aldeia, no início de 2023, e o plano é reconstruí-la para transformá-la num turismo de natureza. O idealista/news foi descobrir este projeto que se viralizou na internet e que, segundo as estimativas do seu mentor, deverá ter espaços prontos para receber hóspedes no verão de 2026. 

Descontraído e de sorriso na cara, numa carrinha azul transformada em caravana. Foi assim que o criador do “Fundo da Aldeia”, formado em Bioquímica, nos recebeu. Traz com ele a experiência de quem já viajou o mundo inteiro e conheceu mil lugares, sem nunca desligar-se das raízes que o fazem voltar sempre ao ponto de partida: Portugal, a sua família e amigos. João Amorim, natural de São João da Madeira, também conhecido nas redes sociais como ‘Follow the Sun’, decidiu abraçar este projeto com o pai e o primo. Juntaram-se para comprar meia aldeia, no ano passado, depois do criador de conteúdos ter por ali passado enquanto fazia os Caminhos de Santiago. 

Fundo da Aldeia da Varziela
João Amorim é o mentor do "Funda da Aldeia da Varziela" Créditos: Gonçalo Lopes | idealista/news

Para tudo é preciso uma certa dose de loucura e, muitas vezes, de “desconhecimento”, tal como explica o viajante e fotógrafo, enquanto mostra, orgulhoso e fascinado, este paraíso natural no meio do nada. “Não sabíamos muito bem no que é que nos estávamos a meter e foi um impulso, obviamente. Portanto, aqui há um bocado de loucura, mas muita falta de conhecimento. E ainda bem, porque a ideia também era fazer uma coisa que nos trouxesse esse conhecimento, que desse luta e que fosse difícil e que nos fizesse aprender”, começa por dizer. 

“Eu não comprei uma aldeia porque vinha à procura de comprar uma meia aldeia, vinha à procura de comprar uma casa e depois, de repente havia mais uma casa à venda e de repente havia mais estas casas à venda. E depois havia mais aquela casa à venda. E de repente somos uns malucos porque devíamos ter comprado só uma”, confessa, entre risos, dizendo que viajar faz com que saiba apreciar, cada vez mais, o país onde vive e a nossa cultura.

O “Fundo da Aldeia” é o reflexo disso mesmo, de uma vontade de valorizar e dar destaque a estas regiões cada vez mais esquecidas, no espaço e no tempo. Tudo começou com a compra de uma dezena de casas por 100.000 euros e alguns terrenos, mas, entretanto, o projeto cresceu e a ele juntaram-se outros investidores (amigos próximos), que decidiram comprar outras casas na aldeia. No total, o projeto será composto por 20 unidades com capacidade para receber até 100 pessoas, sendo que o objetivo é tentar manter aquilo que existe de antigo, valorizando e respeitando tudo o que está à volta da aldeia – o lugar e, sobretudo, as pessoas.

Fundo da Aldeia da Varziela
Tornou-se líder de viagens e é conhecido como 'Follow the Sun' Créditos: Gonçalo Lopes | idealista/news

“Nós vamos tentar manter aquilo que existe de antigo, mas também com descomprometimento, porque sabemos que não temos que fazer tudo de pedra para a aldeia ter identidade. Mas, acima de tudo, eu acho que valorizar este lugar é tentar valorizar as pessoas que vivem ao redor do lugar”, salienta o viajante, destacando os “restaurantes inacreditáveis” e múltiplas atividades que é possível fazer nas redondezas. “Temos aqui uma zona lindíssima da serra que é o planalto, onde há muitos animais, onde se vê quase sempre cabras selvagens, veados. Temos muitos outros rios, poços, caminhadas. Há muitas coisas para fazer aqui”.

Turismo rural deverá abrir portas no verão de 2026

João Amorim quer construir um projeto com capacidade para “chegar a todos” e revela que haverá vários tipos de casas, uma vez que a ideia é poder ter ali pessoas disponíveis para pagar um pouco mais pelas unidades mais caras, mas também casas mais pequenas e acessíveis, assim como um hostel, “para que seja um lugar onde toda a gente possa vir e não esteja limitada por uma questão de budget”.

No dia em que o idealista/news esteve na aldeia da Varziela, o influencer de viagens reuniu-se com a equipa de arquitetos e responsáveis da autarquia, no local, para discutir o futuro do projeto, revelando alguns detalhes do que já se sabe sobre este turismo rural que deverá abrir portas no verão de 2026. 

Fundo da Aldeia da Varziela
Aldeia está desabitada e abandonada há vários anos Créditos: Gonçalo Lopes | idealista/news

“Neste momento, no nosso projeto em específico, o meu, do meu pai e do meu primo, estamos praticamente a finalizar o projeto de engenharia e de especialidades que, segundo os arquitetos e engenheiros, está quase pronto. E depois disto, na verdade, já temos algumas empresas de construção com quem contactamos, que irão orçamentar”, conta João Amorim, adiantando que continuam à procura de outras empresas que possam ter esse interesse, uma vez pretendem estar bem-informados e ter o máximo número de orçamentos possível para depois candidatarem-se a um projeto de financiamento do Turismo de Portugal que tem prazo de candidatura até ao final do ano. 

“Gostávamos de conseguir candidatar-nos, mas temos esse prazo e depois, sinceramente, não sei quanto tempo é que isso poderá demorar. Mas a nossa esperança é que consigamos começar a construir no próximo ano e seria incrível se conseguíssemos abrir no verão de 2026”, indica. 

Fundo da Aldeia da Varziela
Projeto de arquitetura vai preservar a traça antiga das casas Créditos: Gonçalo Lopes | idealista/news

Perceber o potencial de todo este lugar dá-lhe motivação para continuar a investir no projeto. Tem a certeza de que “as casas vão ficar incríveis”, mas, acima de tudo, sente que está a contribuir para “valorizar uma região que merece ser valorizada”. 

João sonhou alto, mas segue com os pés bem assentes na terra. Dá passos firmes e seguros, com a leveza de quem segue pela vida “projeto a projeto, vontade a vontade”. Apaixonado pela natureza e viagens, mas sem ilusões, sabe que quer transformar a aldeia num espaço mágico. E o passo maior está dado: o “Fundo da Aldeia” está prestes a sair do papel. 

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