“Tudo está a mudar. Desde os materiais à forma como projetamos edifícios e cidades. A inteligência artificial (IA), por exemplo, não substitui arquitetos, mas transforma profundamente a forma como trabalhamos”. Sob o tema “Change”, a edição deste ano do Archi Summit refletiu sobre as transformações em curso no setor, desde as práticas ecológicas até à integração da inteligência artificial nos processos criativos.
Bruno Moreira, fundador e organizador do evento, explicou ao idealista/news que o tema “Change” foi proposto pelos curadores da edição, Joana Helm e António Choupina, com a intenção de refletir sobre as mudanças ecológicas, tecnológicas e sociais que estão a moldar a arquitetura contemporânea.
O Archi Summit 2025 realizou-se entre os dias 9 e 11 de julho, no Beato Innovation District, em Lisboa, com uma mensagem clara e urgente: a arquitetura está em mudança.
Um espaço de convergência
Ao entrar no recinto do Beato Innovation District, sentia-se que o Archi Summit 2025 era mais do que uma conferência. Os auditórios abertos, as exposições técnicas, os espaços de conversas informais e os debates curados com precisão revelavam uma preocupação em aproximar profissionais, estudantes, empresas e instituições num mesmo terreno fértil de ideias.
Segundo Bruno Moreira, o Archi Summit surgiu precisamente da perceção de que faltava em Portugal um encontro internacional de arquitetura com capacidade de reunir grandes nomes nacionais e internacionais. A ideia original nasceu da “Casa dos Portugueses”, um projeto itinerante que apresentava a arquitetura e os materiais portugueses em Portugal e no Brasil. A partir daí, a equipa percebeu que havia espaço para criar algo mais ambicioso, com impacto real na profissão.
Change: o tema que atravessou todas as conversas
O conceito de “Change” percorreu todas as áreas do evento. Nas conferências principais discutiram-se temas como reabilitação urbana, robótica aplicada à construção, impressão 3D e, naturalmente, a inteligência artificial. Oradores de referência internacional partilharam projetos e metodologias que estão a reconfigurar o modo como a arquitetura é pensada e praticada.
Bruno Moreira fez questão de sublinhar que “a inteligência artificial cria uma nova capacidade de trabalho, mas as grandes mentes não vão desaparecer”. Para ele, o risco não está na substituição do arquiteto, mas sim no arquiteto que recusa atualizar-se. “Um arquiteto que não domina a inteligência artificial é que está a ser substituído por quem domina”, afirmou com convicção.
A sustentabilidade como premissa
Embora o tema da sustentabilidade seja transversal ao Archi Summit desde as primeiras edições, em 2025 o assunto ganhou ainda mais força e foco. A programação incluiu debates sobre construção com madeira e betão ecológico, reutilização de materiais, certificações ambientais e eficiência energética. Os parceiros técnicos , entre eles CIN, OTIIMA e Saint-Gobain, apresentaram soluções práticas alinhadas com os desafios ecológicos da construção contemporânea.
As várias marcas presentes não só exibem materiais e sistemas, como também participam em painéis, oficinas e demonstrações técnicas. “É muito importante a parte das marcas, porque elas contribuem com conhecimento, não apenas com produto”, referiu.
Responsabilidade social: política urbana e equidade de género
Apesar de procurar manter o evento fora da arena política, o responsável reconhece que há temas incontornáveis. Durante a sessão de abertura, foi promovida a subscrição da iniciativa europeia “House Europe”, que visa pressionar por novas políticas de habitação baseadas na requalificação e reutilização do edificado. “Embora não politizemos o evento, colocámos o dedo na ferida”, admitiu. “Não há transformação habitacional sem políticas públicas coerentes. Podemos projetar com consciência, mas se fiscalmente for mais vantajoso construir de raiz, o problema mantém-se”
Um outro aspeto que mereceu destaque nesta edição foi a representação das mulheres na arquitetura. Apesar de, historicamente, os lugares de decisão estarem mais ocupados por homens, Bruno afirmou com clareza: “Temos uma presença feminina bastante significativa no programa.
Portugal no centro da arquitetura europeia
O Archi Summit também reafirmou Portugal como referência no mapa europeu da arquitetura. A presença de gabinetes portugueses com obra além-fronteiras foi notória. Durante o painel “Scale”, falou-se exatamente dessa projeção internacional de estúdios nacionais. “Portugal é uma fábrica de arquitetos de excelência, e continua a sê-lo”, sublinhou Bruno Moreira, com orgulho e convicção.
Lisboa e Porto, ao acolherem sucessivamente edições do evento, demonstram que o país tem uma cultura arquitetónica viva, crítica e conectada com as tendências globais. A identidade portuguesa, feita de pragmatismo técnico e sensibilidade, continua a conquistar espaço nas grandes discussões internacionais.
O desejo da internacionalização
No final da conversa, Bruno confessou o desejo antigo de internacionalizar o Archi Summit. “A internacionalização é um tema há 5 ou 6 anos”, revelou. Mas, longe de escolher destinos aleatoriamente, a organização procura cidades que tenham um desejo real de promover a arquitetura. “Mais do que desejar uma cidade, procuramos uma cidade que deseje promover a arquitetura”. Com Lisboa como centro, e com parcerias internacionais já estabelecidas, a próxima etapa poderá muito bem passar por outros continentes
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