
Vinte e cinco anos depois de Massimiliano Fuksas, outro italiano está à frente da Bienal de Arquitectura de Veneza. Carlo Ratti, arquiteto e engenheiro de renome internacional, e professor no MIT de Boston, onde dirige o Senseable City Lab, é o curador da última edição da Mostra, que estará aberta em Veneza até 23 de novembro de 2025. Nesta entrevista ao idealista/news, Ratti abordou os temas mais importantes da Bienal deste ano, explicando também o papel do arquiteto numa sociedade chamada a “adaptar-se” aos desafios climáticos e tecnológicos.
Um fio condutor liga o certame de 2000 à Bienal deste ano. Foi, aliás, a primeira das Mostras de Arquitetura a que Carlo Ratti assistiu como simples visitante, regressando este ano na qualidade de curador. Do “Less Aesthetics, More Ethics” dos esposos Fuksas, um quarto de século depois chegamos a “Intelligens. Natural. Artificial. Coletiva.” Ou seja, como a arquitetura, explica Carlo Ratti, “ao juntar vários tipos de inteligência — natural, artificial e coletiva — pode ajudar-nos a enfrentar a crise climática”.
A arquitetura já se ocupou muitas vezes do clima, mas concentrou-se na "mitigação", ou seja, na redução das emissões. Mitigar continua a ser muito importante, mas não há dúvida de que, hoje, perante um clima e um planeta em mudança, é igualmente essencial a "adaptação", ou seja, adaptar-se a algo que já está em curso. O tema da adaptação como eixo central da Bienal levou não só a um apelo público e à recolha de numerosas propostas provenientes de todo o mundo, mas também à "criação de um manifesto (cujo primeiro signatário foi o primeiro-ministro espanhol socialista Pedro Sánchez) que tem como foco precisamente o papel que a arquitetura pode desempenhar quando enfrentamos um clima e um planeta em transformação"
"O tema da adaptação da Bienal levou à criação de um manifesto que tem como foco o papel que a arquitetura pode desempenhar quando enfrentamos um clima e um planeta em transformação"
"Os acontecimentos dos últimos anos e meses, desde as inundações em Valência aos incêndios em Los Angeles, obrigam-nos a repensar o papel da arquitetura e a forma como o arquiteto pode oferecer novas soluções".
A Lagoa de Veneza: síntese das três inteligências
"A Lagoa de Veneza é um exemplo de síntese entre três tipos de inteligência: natural, artificial e coletiva. A inteligência natural, para tirar partido da natureza, do reaproveitamento das águas, da ligação entre a lagoa e o Adriático que permite hoje a sobrevivência de Veneza, a inteligência artificial, do saber que nos permitiu construir a cidade e a inteligência coletiva, porque cada geração aprendeu algo com a anterior.
Veneza é um laboratório que demonstra como estas três inteligências contribuíram para que a cidade se tornasse aquilo que é hoje"
A Bienal de Arquitetura como um "superorganismo"
"A Bienal deste ano não deve ser vista como algo estático, mas como um laboratório. Um laboratório onde existem inúmeros projetos, uma espécie de rede, um superorganismo. Diria que é preciso deixar-se levar por esse superorganismo, seguir a própria inclinação e inspiração, procurando reunir ideias novas".
Como mudam a cidade e a arquitetura
"A cidade de amanhã não será muito diferente da cidade de hoje; o que está a mudar muito rapidamente é a parte 'software' da cidade. Basta pensarmos em como tudo mudou desde a pandemia — desde a forma de trabalhar até à forma de nos encontrarmos".
Muitos se questionam sobre como a arquitetura mudará com a IA, com os múltiplos sistemas de inteligência artificial que existem hoje. Mas, como explica Carlo Ratti: "Se esses sistemas são capazes de pegar em tudo o que já foi feito e criar algo que, mais ou menos, funcione, perante algo que ainda não foi feito, não têm a mínima ideia de como proceder. E talvez aí resida o lado mais humano e mais belo do nosso trabalho: pensar e criar aquilo que ainda não foi pensado."
O arquiteto como agente mutagénico
Se a arquitetura deve estar no centro do processo de adaptação, qual deve ser o papel do arquiteto? “O de experimentar, testar, ver como responder de formas diferentes a um planeta e a um clima em mudança. Tal como na natureza, onde as mutações são postas à prova com maior ou menor sucesso, algo semelhante acontece no mundo artificial — nas nossas casas e nas nossas cidades. Podemos, por isso, pensar no arquiteto como um agente mutagénico."
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