Hotel Ocean Ville: o gigante de luxo abandonado no coração do Algarve

Albufeira é sinónimo de sol, luxo e turismo vibrante. Mas escondido entre os resorts de sonho existe um lugar que parou no tempo. O Hotel Ocean Ville, inaugurado com grandes promessas, é hoje uma estrutura fantasmagórica — símbolo de um colapso inesperado no coração do Algarve. 

Inaugurado em 2007, o Hotel Ocean Ville tinha tudo para ser um sucesso, mas nem a localização privilegiada evitou o pior. Isto porque o hotel está completamente ao abandono. Neste artigo, exploramos a história, a decadência e o que o futuro pode reservar ao maior hotel de luxo abandonado de Portugal.

Onde fica o Hotel Ocean Ville?

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O Hotel Ocean Ville situa-se no coração de Albufeira, a poucos quilómetros de algumas das praias mais emblemáticas do Algarve e a cerca de sete quilómetros do parque temático Zoomarine.

A sua localização (que podes conhecer em detalhe no Google Maps) é estratégica e está a curta distância do centro da cidade, mas suficientemente elevada para proporcionar uma vista panorâmica rara sobre a baía.

Quem passa pela zona não fica indiferente. O edifício do Ocean Ville é enorme, sobressai pela dimensão e pelo contraste com os empreendimentos vizinhos, que continuam bastante ativos.

Não é por acaso que se tornou um ponto de curiosidade para quem se interessa por urbex (exploração urbana de locais abandonados).

Como era o Ocean Ville antes do abandono?

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Na altura da inauguração, o Ocean Ville foi apresentado como um dos maiores investimentos turísticos da região algarvia. 

Quartos, apartamentos e comodidades

O projeto incluía 100 quartos de hotel de quatro estrelas e cerca de 80 apartamentos de luxo destinados a segunda habitação, pensados para investidores e turistas que procurassem uma casa de férias no Algarve.

O edifício contava ainda com as seguintes comodidades:

• Zonas comuns amplas: áreas de convívio e lazer pensadas para conforto e interação;
• Piscina: espaço exterior para relaxamento e atividades recreativas;
• Restaurante: serviço de restauração sofisticado para hóspedes e visitantes;
• Áreas de lazer: espaços para desporto, entretenimento e momentos de puro descanso;
• Rooftop com vista absolutamente extraordinária sobre Albufeira e o Oceano Atlântico.

Tudo isso numa urbanização moderna, com arquitetura arrojada e acabamentos de luxo, capazes de rivalizar com as melhores unidades hoteleiras da região. Infelizmente, a grande dimensão do investimento tornou-se um desafio, porque quando o financiamento deixou de chegar, o projeto ficou incompleto e acabou por ser abandonado.

Por que  fechou portas o hotel de luxo Ocean Ville?

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A história do Ocean Ville está profundamente ligada à crise financeira de 2008 e ao colapso do Banco Português de Negócios (BPN), pertencente ao grupo Sociedade Lusa de Negócios (SLN).

O projeto dependia fortemente de financiamentos ligados ao banco. Quando vieram à tona casos de fraude e má gestão que levaram à nacionalização do BPN, o hotel perdeu o suporte financeiro de que precisava para continuar. Em pouco tempo, o edifício encerrou e entrou num processo de abandono.

Quem visita hoje o hotel de luxo do Algarve encontra apenas sinais de obras que nunca chegaram ao fim, corredores intermináveis, pó acumulado e espaços que transmitem a sensação de algo que prometia muito, mas ficou perdido no tempo.

Existe futuro para o hotel abandonado?

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Até ao momento, não existem planos concretos anunciados para a reabilitação do Ocean Ville. O edifício permanece encerrado e cercado, embora continue a despertar interesse, tanto por parte de curiosos como de potenciais investidores.

A localização privilegiada e a dimensão do espaço poderiam, em teoria, ser aproveitadas para criar uma nova unidade turística de luxo no Algarve ou até para outro tipo de empreendimento, como escolas, ginásios ou uma ampla zona comercial. O único senão são os custos de reabilitação, bastante elevados.

Outros edifícios de luxo abandonados em Portugal

Embora o Ocean Ville seja um caso emblemático, não é infelizmente o único edifício turístico em Portugal que caiu no esquecimento. O país tem outros exemplos de empreendimentos que, por diferentes razões, acabaram por ser abandonados. 

O caso da Matur, na Madeira

Um dos casos mais marcantes é o do Complexo Turístico da Matur, na Madeira. Situado na freguesia de Água de Pena, no concelho de Machico, foi inaugurado em 1972 e incluía o hotel Holiday Inn. Na altura, representava inovação, afinal a primeira “cidade turística” do país, contava com uma construção em escada que acompanhava a orografia do terreno. 

A proximidade ao aeroporto era vista como uma vantagem, permitindo alojar rapidamente os viajantes.

Durante anos, ofereceu vistas impressionantes sobre o oceano, sobre a Ponta de São Lourenço e ilhas Desertas. No entanto, com a ampliação do aeroporto internacional da Madeira, o complexo teve de ser encerrado e implodido em 2000 (a primeira implosão registada em Portugal).

Hoje, o espaço mantém alguns edifícios votados ao abandono, embora existam projetos em estudo para revitalizar a zona, nomeadamente através da requalificação de espaços como a antiga piscina olímpica da Matur.

Turismo de luxo vs. abandono: o contraste atual

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Curiosamente, existe um enorme contraste entre os edifícios como o Ocean Ville e a realidade turística portuguesa, sobretudo no Algarve e na Madeira, regiões reconhecidas internacionalmente pela qualidade e diversidade da sua oferta hoteleira.

Enquanto o Ocean Ville continua ao abandono, os destinos turísticos da região registaram números recorde em 2024, refletindo a força do setor e o contínuo crescimento do turismo nacional. Na verdade, os estabelecimentos de alojamento turístico do Algarve receberam 5,2 milhões de visitantes em 2024, um máximo histórico, segundo a Região de Turismo do Algarve (RTA). 

O aeroporto internacional de Faro também bateu recordes, ultrapassando 9,8 milhões de passageiros. Em termos de dormidas, os dados preliminares do Instituto Nacional de Estatística (INE) indicam 20,7 milhões de dormidas, um aumento de 1,9% face a 2023.

Na Madeira, a performance turística também atingiu máximos históricos. O número de hóspedes em alojamento turístico subiu 6,5% em relação ao ano anterior, totalizando 2,2 milhões de entradas e 11,7 milhões de dormidas. 

Só em dezembro de 2024, cerca de 146,3 mil hóspedes geraram 790,2 mil dormidas, com crescimento de 9% e 12,8% respetivamente, em comparação com o mesmo mês do ano anterior.