A arte enriquece os espaços, dá prazer e é um investimento, diz o galerista James Steele, em entrevista ao idealista/news.
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Decorar a casa com arte
James Steele, diretor da Galeria 3+1 Arte Contemporânea idealista/news

Investir na cultura é investir na humanidade”, é ter uma visão de nós mesmos. A cultura é transversal a todos os domínios da arte. E será boa ideia decorar a casa com arte para estarmos mais perto de nós próprios? Sim, até porque “viver com arte é uma experiência gratificante, na medida em que enriquece um espaço, dá prazer e/ou evoca uma resposta visceral ou cerebral”, explica James Steele, diretor da Galeria 3+1 Arte Contemporânea, situada em Lisboa. Em entrevista ao idealista/news, o galerista revela como é que a arte desde cedo o atraiu e como atrai todos os que se atrevem a admirá-la.

“A obra de arte usada para decorar é decoração”, diz James Steele. E uma “obra de arte usada como ferramenta ou meio para envolver e continuar a questionar, continua a ser uma obra de arte”, acrescenta. A arte abre o caminho para a descoberta de nós e do mundo. E é por isso que a “acessibilidade da arte é fundamental, bem como a educação do público em geral através da exposição de obras em plataformas, em feiras, museus, instituições e espaços públicos”, argumenta o galerista que tem o seu espaço físico no Largo Hintze Ribeiro. É deste modo que “esperamos gerar um público curioso para questioná-lo e envolvê-lo, de tal forma que queria explorar ainda mais” a arte que o rodeia, indica.

Decorar a casa com arte
"Ready to take a Dive", 2021, por Inês Brites Galeria 3+1 Arte Contemporânea | RedCollectors

As motivações para comprar arte são muitas. “A maioria dos nossos clientes fazem a sua pesquisa antes de comprar e tendem a colecionar em vez de fazer uma compra única”, conta James Steele. E, agora, sente que as pessoas estão “mais informadas” na hora de comprar uma obra de arte.

Também a aquisição de obras para fins de investimento envolve hoje muita pesquisa, um histórico comprovado de vendas, o estudo do percurso do artista e uma avaliação cuidada de todas estas variáveis.

Já a forma de chegar e envolver o público no mundo da arte foi diferente durante a pandemia:

  • As plataformas online em muito ajudaram a galeria 3+1 a expor as suas obras e a chegar às pessoas, como foi o caso da tecnologia 3D da RedCollectors.
  • Mas, muito embora a digitalização tenha vindo para ficar, “nada se compara a experimentar a fisicalidade de uma obra de arte pessoalmente”, considera James Steele.

Hoje, a Galeria 3+1 Arte Contemporânea, também dirigida por Jorge Viegas, está a exibir a exposição de Carlos Nogueira até ao próximo dia 30 de abril de 2022. E marcou presença na Feira ARCO de Madrid, que decorreu entre 23 e 27 de fevereiro de 2022, expondo obras de arte de vários artistas portugueses e internacionais. Mas quem é o galerista por detrás deste projeto? Que desafios enfrenta? E como pretende evoluir? James Steele respondeu, na primeira pessoa, a estas e outras questões em entrevista ao idealista/news.

Decorar a casa com obras de arte
"Estrelinhas II", 2021, por Tiago Baptista Galeria 3+1 Arte Contemporânea | RedCollectors

De onde surgiu o gosto pela arte? O que é que o levou a dedicar-se profissionalmente a este ramo?

Tudo começou quando, ainda muito jovem, descobri o meu interesse pelas artes. Adorava fazer obras de arte na escola e tive a sorte de ter aulas particulares nos fins de semana. Visitar galerias e museus nacionais de arte com meus pais sempre foi um prazer. Além disso, vivia rodeado de arte, já que os meus pais tiveram galerias de arte comerciais durante muitos anos na Austrália e, depois, na América. Na adolescência explorei e estudei outras áreas, mas sempre me senti atraído por voltar para as artes visuais, porque sentia uma falta terrível da arte quando não estava perto dela. Parece que a arte está no meu sangue.

Como nasceu o projeto da galeria?

Jorge Viegas começou como colecionador de arte e, depois, surgiu a oportunidade de se juntar a dois galeristas brasileiros para abrir um espaço em Lisboa em 2007. Inicialmente, o projeto começou por ser uma forma de dar visibilidade aos artistas brasileiros, enquanto se introduzia artistas portugueses e internacionais. Mais tarde, em 2010, a direção original da galeria foi dissolvida. E foi nessa altura que entrei e assumi a gestão da galeria com o Jorge Viegas.

Como é que selecionaram os artistas que representam? Que critérios foram tidos em conta?

O nosso processo de colaboração com um artista é, sobretudo, organicamente orientado por vários fatores que acabam por influenciar a nossa decisão. Primeiro, o seu trabalho tem de nos envolver, tem que prender a nossa atenção, isto porque a nossa vontade de trabalhar com um artista não é apenas comercial. Geralmente há um período de acompanhamento dos artistas que leva alguns anos.

Colecionar obras de arte
"an elusive predicate – oh! so nice, so nice, so damn nice", 2021, por Carlos Noronha Feio Galeria 3+1 Arte Contemporânea | RedCollectors

Como é que a sua relação com os artistas evoluiu ao longo dos anos? Como é articulado o trabalho entre os artistas e a galeria?

O foco da galeria mudou em 2010: deixou de estar fortemente centrada na arte brasileira para estar voltada para a arte nacional e internacional. A relação com os nossos artistas está em constante evolução e o melhor que podemos esperar e objetivar é que continuemos a crescer juntos. Claro que parte desse processo é dar visibilidade, nutrir e apoiar a carreira dos nossos artistas, porque a comunicação e confiança fazem parte da nossa forma de trabalhar juntos.

"A decisão de comprar uma obra de arte agora parece ser mais informada, talvez por se acompanhar o artista durante algum tempo antes de fazer uma aquisição".

Como é o relacionamento com os clientes? Qual é o tipo de cliente com quem mais trabalha?

De certa forma, não é muito diferente da forma como trabalhos com os nossos artistas. Ao longo dos últimos 15 anos, temos a sorte de ter alguns clientes que nos apoiam – a nós e aos nossos artistas. Ao longo do caminho, conquistámos novos clientes que também se juntaram a esta viagem. E todos eles, hoje, fazem parte da grande “tapeçaria”, que faz da galeria o que ela é. Os nossos clientes são maioritariamente portugueses e colecionadores privados. Como ao longo dos anos Lisboa tem-se tornado num destino importante para a cultura e para as artes visuais, temos sentido uma diversificação de clientes vindos de fora de Portugal.

Com que objetivo e propósito as pessoas compram e colecionam arte hoje em dia?

várias razões pelas quais as pessoas colecionam arte. A maioria dos nossos clientes fazem a sua pesquisa antes de comprar e tendem a colecionar em vez de fazer uma compra única. Os dias pré-crise, em que as compras eram feitas de forma mais impulsiva, desapareceram quase por completo. A decisão de comprar uma obra de arte agora parece ser mais informada, talvez por se acompanhar o artista durante algum tempo antes de fazer uma aquisição.

Comprar arte para decorar a casa
"Alessandro", 2020, por Evy Jokhova Galeria 3+1 Arte Contemporânea | RedCollectors

No atual contexto, a arte é um bom investimento? Porquê?

Depende do que a palavra investimento atrai. É fundamental investir na cultura. Investir na cultura é investir na humanidade, é uma atividade fundamentalmente social e humana, representa a nossa existência e é transversal a todos os níveis das "Artes", dando-nos uma visão de nós mesmos de uma forma ou de outra. Olhar para a arte do ponto de vista do investimento financeiro é uma forma predeterminada de olhar para a compra de arte e para o valor de uma obra de arte, tendo em conta uma perspetiva continua em que a manutenção e o aumento do seu valor podem ser influenciados por vários fatores. Aqui, a compra de obras para fins de investimento puro geralmente envolve pesquisa, um histórico comprovado de vendas no mercado, o percurso do artista e uma abordagem e avaliação de todas estas variáveis de uma perspetiva bem informada.

E como vê o conceito de comercializar arte “mais acessível” para alargar o acesso ao público em geral?

A acessibilidade da arte é fundamental, bem como a educação do público em geral através da exposição de obras em plataformas, em feiras, museus, instituições e espaços públicos. Ao fazer isso, esperamos gerar um público curioso que questione e se envolva de tal forma com as obras de arte que queria explorar ainda mais.

Como comprar arte
Rita Ferreira Galeria 3+1 Arte Contemporânea | RedCollectors

A arte também pode servir para decorar? De que forma impacta nos espaços?

A obra de arte usada para decorar é decoração. A obra de arte usada como ferramenta ou meio para envolver e continuar a questionar, continua a ser uma obra de arte. Viver com arte é uma experiência gratificante, na medida em que enriquece um espaço, dá prazer e/ou evoca uma resposta visceral ou cerebral.

A vossa galeria já fez eco lá fora ao estar em destaque em feiras de arte internacionais como a ARCO Madrid. O que significa para vocês esta projeção internacional?

Depois da última crise económica, da recente pandemia e tendo em conta os efeitos das mudanças climáticas, penso que tivemos de reconsiderar todos os aspetos sobre como operacionalizamos o nosso negócio. Tivemos que refletir sobre o que significa participar numa feira para os nossos artistas e para a própria galeria, os custos associados às feiras e nossa a pegada de carbono. Tivemos que nos concentrar e perceber quais são as feiras que funcionam para os nossos artistas e para a galeria em termos económicos e de visibilidade. A ARCO Madrid é uma feira muito importante para nós. E embora a edição do ano passado (que ocorreu em julho) tenha tido um menor número de visitantes vindos especialmente de fora da Europa, a feira é sempre uma ótima plataforma para continuar a comunicar com os nossos colegas, clientes, curadores e público em geral, durante e após o evento.

Investir em arte
"Capture Pigments", 2020, por Sam Smith Galeria 3+1 Arte Contemporânea | RedCollectors

Como é que a pandemia influenciou o trabalho na galeria? Apostaram mais em tecnologia e no online?

Desde o início da pandemia, tivemos de nos adaptar rapidamente às novas circunstâncias, encontrar novos caminhos e formas de interagir com as pessoas. A tecnologia e as plataformas sociais foram sendo cada vez mais utilizadas, empregando novos modos de apresentação de obras de arte e projetos através de meios virtuais e documentando exposições e projetos em 3D e filme.

Por que caminhos quer fazer crescer a galeria no futuro? Que projetos e exposições estão a preparar para 2022?

Crescer sugere expandir, nós preferimos evoluir. A galeria é um organismo em constante evolução: adaptando-se às circunstâncias atuais, ajustando-se, mudando processos, encontrando e implementando práticas sustentáveis. A forma como abordamos o nosso negócio também é importante. Vamos celebrar o nosso 15.º aniversário e nos últimos meses temos trabalhado no nosso novo website, lançado este ano, e tem sido um momento de pausa muito breve, que nos permitiu revisitar o nosso percurso. Isto deu-nos informação sobre para onde queremos ir – terão que esperar para ver. Em 2022, programámos com muito entusiasmo o nosso primeiro ano desde a pandemia sem planos B, C, D… com o objetivo de mostrar exposições de artistas e curadores estrangeiros que foram adiadas nos últimos dois anos.

Arte como investimento
"Atlas Marco Polo", 2009, Rosana Ricalde Galeria 3+1 Arte Contemporânea | RedCollectors

Como é que a tecnologia 3D da RedCollectors ajudou a galeria?

Documentar as nossas exposições em 3D tem sido uma ferramenta útil para visualizar e experimentar exposições e obras virtualmente. E em especial, quando estávamos todos confinados, pois deu às pessoas a oportunidade de visitar as exposições quando era fisicamente impossível.

Como é que o mercado de arte lidou com a crise pandémica? Como é que vê a digitalização no setor?

Os últimos dois anos foram realmente desafiadores. Inicialmente pareceu que todos estavam com “fome” de estímulo visual, a (re)procurar artistas online, galerias, museus e a ter tempo para ponderar a compra de obras de arte, vistas pessoalmente ou não. Por isso, no início o mercado foi bom para nós: decisões foram tomadas e obras adquiridas. Passados vários meses, as compras online desaceleraram, muito pela sobrecarga de conteúdo online e pela incerteza gerada pela pandemia. As pessoas ansiavam visitar espaços físicos e ver obras. Aderir às plataformas de compras online nunca foi algo que considerássemos antes da pandemia. Mas é certo que veio para ficar e nós adotamos as plataformas de venda online. Embora algumas pessoas já se estejam a habituar às plataformas virtuais, há muita apreensão por parte dos nossos clientes em comprar online 'versus' comprar pessoalmente. Nada se compara a experimentar a fisicalidade de uma obra de arte em pessoa.

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