A conversa deveria ser com “os arquitetos”: Tomé Capa, Ivo Vaz Barbosa, Ricardo Acosta, sócios fundadores do LIMIT Studio, e Leonardo Rodrigues, colaborador. Não gostam de falar no singular e fazem questão de realçar que são um estúdio de arquitetura “irreverente, criativo e rigoroso”.
Estamos em Braga e o espaço faz-nos acreditar que estamos numa galeria de arte - e não estamos longe da verdade. Além do estúdio de arquitetura LIMIT, aqui também vive o ITEM CULTURAL, descrito como “unidade cultural para a exploração e exposição artística”. O espaço adapta-se de acordo com as necessidades.
É a conjugação entre “eficiência, durabilidade, elegância e beleza”, explica Ivo Vaz Barbosa em entrevista ao idealista/news para a rubrica “Em casa do arquiteto”.
São também estas as premissas da “Casa Ótima”, um projeto chave na mão desenvolvido pelo LIMIT, que desenhou três modelos de habitação baseados nas principais necessidades comuns dos clientes: desde o primeiro passo até à casa finalizada e licenciada, por um valor final fechado que se deseja também “ótimo”.

Qual a diferença entre um atelier e um estúdio de arquitetura?
Isso é uma pergunta difícil, e eu acho que, no nosso caso específico, “estúdio” surgiu um bocadinho por tentarmos incluir alguma noção de execução, para além da parte criativa. É um conceito que se adaptava melhor àquilo que eram as nossas ambições. Às vezes na definição do nome há a definição daquela que vai ser a nossa abordagem.
Como nasceu o LIMIT Studio?
Fomos três colegas de curso e agora somos três sócios. Trabalhámos em conjunto várias vezes na faculdade e depois seguimos com os trabalhos pessoais, trabalhando para outros, com algumas experimentações mais a nível pessoal. A certa altura, tornou-se mais forte esta ideia de abrir um escritório de arquitetura. A ideia esteve sempre teve em cima da mesa, depois houve uma conjugação de fatores, despedimo-nos os três e, em 2017, inaugurámos o espaço anterior, e no final do ano passado (2023) viemos para este espaço.
Nós estávamos a trabalhar para outros. Havia sempre aquele sentimento de que nem sempre estamos completamente envolvidos. Queríamos cometer os nossos erros e estar por nossa conta.
Existe uma linguagem comum nos vossos projetos?
É uma pergunta muito difícil, particularmente no nosso caso, mas é uma conversa que nós temos regularmente. Eu acho que há algumas pistas: a questão da simplicidade, a sobriedade da aplicação dos materiais e da construção.
Mas diria que, mais do que o traço, o que nos caracteriza é uma metodologia, ou seja, tentamos sempre que cada projeto tenha uma narrativa, uma ideia sobre a qual consigamos trabalhar e que, ao longo do desenvolvimento do projeto, vá trilhando aquilo que são as decisões do projeto. O projeto é tão livre, tem tantas possibilidades, que é necessário ter algum fio condutor.
Aquilo que nos caracteriza é ter uma narrativa vinculada em cada projeto. Até o facto de nós querermos sempre que cada projeto tenha um nome que o identifique, ilustra a nossa abordagem.

Falem-nos mais sobre o projeto “Casa Ótima”.
A “Casa Ótima” é uma marca independente, um produto chave na mão - já foi desenhado, já foi pré-concebido, já está fechado a todos os níveis, desde arquitetura, engenharia e construção. Por isso conseguimos dar um preço global final.
O cliente chega até nós e tratamos de toda a burocracia necessária na Câmara - desde a entrega do projeto na Câmara da parte de engenharia e depois da obra da obra em si e das licenças necessárias no final.
Já existem dois modelos e vai ser lançado um terceiro (C03, entretanto já lançado). Estes modelos dão resposta às necessidades mais comuns e mais representadas na maior parte dos clientes. Mas também tem de ser versátil no sentido de poder responder, de forma abrangente, às características dos terrenos que vão ser muito diferentes. Cada cliente vai comprar um terreno em sítios diferentes e são morfologias diferentes, mas as necessidades são muito parecidas.
Por exemplo, a maior parte das pessoas quer uma habitação T3 que tenha dois quartos e uma suíte, um open space, a cozinha ligada com a zona de estar, que tenha um fácil acesso automóvel, e um acesso direto para a zona interior da habitação, assim como o máximo aproveitamento possível dos espaços interiores. Isto são premissas que tentamos responder de forma abrangente com estes dois projetos que nós temos.
O terceiro modelo tem que ver com necessidades que foram também surgindo nos últimos dois anos e para um público-alvo um bocadinho diferente, um modelo T2 mais contido.
Estas soluções mais tipificadas foram pensadas tendo em conta o problema da habitação em Portugal?
Acreditamos que possamos conseguir oferecer um bom produto, um produto que responde às necessidades, que seja confortável, porque sejamos sinceros, em Portugal temos muita habitação com pobre eficiência energética.
A “Casa Ótima” tem um preço final atrativo, mas não deixa de ser de responder às necessidades básicas, e às necessidades que são importantes para a habitação.
Com esta ideia de otimização, acreditamos que seja possível dar resposta, ou pelo menos tentar dar resposta, às necessidades da população.

Como é ser arquiteto em Braga?
A mais-valia: é uma cidade onde há muito por fazer. Temos um centro histórico e ainda há muita coisa para reabilitar. Mas também parece ser uma cidade com muitos maus vícios naquilo que é a construção, ou seja, uma cidade que cresceu muito rapidamente. Em termos de valorização da arquitetura, ainda há um trabalho quase cultural por fazer, e ainda há alguns vícios de fazer com pressa, sem a calma necessária para fazer boa arquitetura. Isto é uma desvantagem porque obriga-nos a fazer uma espécie de pedagogia para com os potenciais clientes, mostrar o valor do nosso trabalho, mas também explicar ou quase o valor da arquitetura em geral.
Esse trabalho pedagógico de valorização da arquitetura não será uma necessidade geral no país?
Temos que ser mais que uma espécie de elemento necessário para o desenvolvimento do projeto. No caso da habitação, - se calhar aquele segmento em que é mais evidente esta questão -, os clientes querem construir uma casa e nós somos um elemento obrigatório. Muitas vezes ficamos com a sensação que se não fossemos obrigatório, provavelmente saltariam a parte da arquitetura.
Acho que há muita falta de sensibilidade para o valor da arquitetura, e o valor acrescentado que representa. Quando determinada obra fica concluída, o valor daquela construção não é apenas o somatório dos materiais que foram aplicados, nós queremos que o próprio desenho do projeto seja um valor acrescentado.

Voltamos a esta casa. Este não é apenas um estúdio de arquitetura. Estamos rodeados de arte.
Sim, em relação à parte cultural, quando viemos para esse espaço, nós estávamos num espaço bem mais pequeno, mas por necessidade de mais pessoas precisámos de um espaço maior. Encontramos este lugar, fizemos obras neste espaço e tentámos pôr o nosso cunho pessoal. Finalmente conseguimos fazer algo que já tínhamos pensado, também pela relação que todos nós temos com o meio artístico, que era criar aqui um espaço cultural. O ITEM CULTURAL tem como como objetivo a promoção de exposição artística. Neste momento temos uma exposição a decorrer, fazemos vários tipos de eventos, pequenas palestras, apresentações.
O que é tão apaixonante nesta área que leva alguém a querer ser arquiteto?
Vontade de criar, meter as mãos à obra e através do papel, do desenho, imaginar coisas que ainda não existem. É o mais apaixonante, mas claro que nada do que fazemos vai ser novo. Na verdade, é um paradoxo, uma luta interna: o que ainda pode ser feito para responder às necessidades, seja da parte mais técnica da arquitetura, seja a parte mais artística?
O mais interessante é ver nascer.

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