
A rápida subida dos juros nos créditos habitação tem mudado o panorama da banca em Portugal. Por um lado, há cada vez mais famílias a renegociar o crédito habitação. E, por outro, os bancos têm vindo a subir os lucros – e muito. Esta realidade é bem visível nos cincos maiores bancos que operam em Portugal: no seu conjunto renegociaram 62.600 contratos de empréstimos habitação, muito embora só pequena parte seja ao abrigo das novas regras do Governo. E os lucros destes bancos subiram 58,4% entre os primeiros seis meses de 2023 e o período homólogo, para 1.994 milhões de euros.
No seu conjunto, a CGD, BCP, Novo Banco, Santander Totta e BPI renegociaram 62.600 contratos de crédito habitação no primeiro semestre de 2023. Mas só uma pequena parte foi ao abrigo das novas regras para renegociar empréstimos bancários que entraram em vigor no final de 2022. Assim foram as renegociações em cada instituição bancária:
- CGD: 17 mil créditos renegociados, dos quais 1.024 restruturados pelo novo diploma;
- BCP: renegociou 9.600 contratos no semestre, dos quais cerca de 1.885 ao abrigo do diploma do Governo;
- BPI: renegociou 9.000 contratos, dos quais 2,4 mil ao abrigo do novo diploma;
- Santander Totta: renegociou cerca de 18 mil créditos habitação desde o início do ano;
- Novo Banco: disse que gouve “9.000 conversas”, sobretudo, sobre renegociação de crédito habitação, mas não acrescentou mais detalhes, escreve o Dinheiro Vivo.
Estes dados agora divulgados pelos cinco maiores bancos residentes no país vêm comprovar o que o Banco de Portugal (BdP) já havia referido: as renegociações dos créditos habitação dispararam em Portugal com a subida dos juros, de forma que as famílias consigam melhorar as condições de pagamento dos empréstimos.
As renegociações de crédito habitação podem ser feitas de várias formas, por baixa do spread (margem de lucro comercial do banco), aumento do prazo de pagamento do crédito ou um período de carência no pagamento de capital (por exemplo, durante um ano o cliente só paga juros, o que baixa a prestação mensal mas capitalizando de futuro o valor em falta).
Os presidentes dos principais bancos a operar em Portugal consideraram que não há um problema genérico de crédito habitação, apesar das dificuldades que as famílias sentem em acomodar o aumento das taxas de juro no seu orçamento mensal, e que os problemas têm sido mais focados em algumas franjas de clientes (pessoas de mais baixos rendimentos e quem pediu crédito mais recentemente, sobretudo de classe média).
Contudo, os banqueiros também dizem que irão agravar-se os problemas se continuar o ciclo de aumento das taxas de juro, sendo então esperadas mais reestruturações de empréstimos. A associação de defesa do consumidor Deco tem relatado que há já muitas famílias a tentar vender casas porque não conseguem pagar a prestação ao banco.

Lucros dos bancos chega a quase 2 mil milhões de euros
Há o outro lado da moeda: a subida da Euribor para níveis positivos eliminou os descontos no spread (a margem de lucro dos bancos). E, por conseguinte, os bancos têm vindo a somar cada vez mais lucros neste contexto. Em concreto, os lucros agregados dos cinco maiores bancos que operam em Portugal somaram 1.994 milhões de euros no primeiro semestre, num aumento de 58,4% em termos homólogos.
Assim, a soma dos resultados líquidos destes bancos foi superior à registada no final dos primeiros seis meses de 2022 em 735 milhões de euros, continuando estes a serem impulsionados pelo aumento das taxas de juro nos créditos.
Estes foram os lucros de cada banco nos primeiros seis meses do ano por ordem decrescente:
- CGD: foi o que apresentou maiores lucros no semestre ao registar 607,9 milhões de euros (+25% face ao período homólogo). No período em análise, a margem financeira consolidada cresceu 124,7% para 1.316 milhões de euros.
- BCP: multiplicou por 6,8 vezes os 62,2 milhões de euros em lucro registados no primeiro semestre do ano, para 423,2 milhões de euros, tendo a sua margem financeira subido 39,5% para 1.374 milhões de euros.
- Novo Banco: teve um resultado líquido positivo de 373,2 milhões de euros no semestre, mais 39,9% que no mesmo período do ano passado. A margem financeira da instituição cresceu 95,5% em termos homólogos, para 524 milhões de euros.
- Santander: lucrou 333,7 milhões de euros (+38,3%) e a margem financeira aumentou em 58,4% para 586,5 milhões de euros.
- BPI: apresentou lucros consolidados de 256,2 milhões de euros no semestre (+26,1%), a margem financeira do grupo subiu 85% para 435 milhões de euros.
Este ano os lucros dos bancos estão a ser beneficiados pelas altas taxas de juro nos empréstimos e lenta subida das taxas de juro nos depósitos, o que tem beneficiado a margem financeira, já que esta é a diferença dos juros cobrados pelos bancos nos créditos e os juros pagos pelos bancos nos depósitos. Os dados mais recentes do BdP revelam que o diferencial entre as taxas de juro para os empréstimos e para os depósitos atingiu 3,3 pontos percentuais em 2022, o valor mais elevado desde 2003.
Por conseguinte, os cinco maiores bancos portugueses viram o nível de poupanças nos depósitos cair a pique nos primeiros seis meses de 2023, tendo perdido mais de 7,4 mil milhões de euros em poupanças de famílias e empresas até junho em comparação com o mesmo período do ano passado, escreve o Diário de Notícias. A amortização antecipada de empréstimos habitação e a migração das poupanças para certificados de aforro, mais rentáveis, está por detrás deste movimento.

Bancos em Portugal com menos 439 trabalhadores nos últimos 12 meses
Apesar de as instituições bancárias terem maiores lucros e margens financeiras, os cinco principais bancos sediados em Portugal reduziram, no primeiro semestre, em termos homólogos, um total de 439 trabalhadores, baixando, também, a sua estrutura em 54 pontos de atendimento.
A CGD manteve-se como, entre as instituições financeiras analisas, a que mais reduziu o seu número de trabalhadores, terminando junho com 6.430 trabalhadores em Portugal, menos 293 que no mesmo período do ano passado. Por sua vez, o número de balcões do banco público manteve-se em 515.
O Millennium BCP, banco privado com maior número de funcionários, aumentou em dois o número de trabalhadores face a junho de 2022, para 6.256. Em termos de postos de atendimento, estes baixaram em 13, para 402.
Face ao final do primeiro semestre de 2022, o Novo Banco perdeu 35 trabalhadores e 12 balcões, concluindo o período em análise com 4.132 trabalhadores e 292 postos de atendimento.
O Santander Totta baixou a sua força de trabalho em 30 funcionários em termos homólogos, para 4.666 trabalhadores, enquanto o número de balcões recuou em oito, para 333.
Por fim, o BPI reduziu, face ao comunicado no ano passado, 83 trabalhadores e 21 balcões, valores absolutos que não incluem a venda da BPI Suisse no primeiro semestre deste ano, contando com 4.378 funcionários e 318 agências. Face ao início do ano, e com os ajustes à alienação da BPI Suisse - que garantiu uma mais-valia de nove milhões de euros -, são menos nove colaboradores e seis unidades comerciais.
Em 30 de junho de 2023, os cinco bancos em análise totalizavam 25.862 trabalhadores e 1.860 balcões, contra 26.301 funcionários e 1.914 agências no período homólogo.
*Com Lusa
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