
As taxas Euribor começaram a descer no final de 2023, reagindo à manutenção dos juros diretores por parte do Banco Central Europeu (BCE). E parecia que a trajetória de recuo seria para manter. Mas fevereiro trouxe uma surpresa: as taxas Euribor a 6 e 12 meses interromperam a série de descidas subindo ligeiramente, enquanto a Euribor a 3 meses recuou um pouco. Mas porque é que isso aconteceu? Porque o mercado está a adiar as expectativas dos primeiros cortes dos juros diretores, uma vez que o BCE continua cauteloso em falar sobre esta matéria.
Em fevereiro, as taxas médias da Euribor a 6 e 12 meses – as mais utilizadas nos créditos habitação em Portugal – surpreenderam as famílias que estão a pagar empréstimos, uma vez que subiram ligeiramente para 3,901% e 3,671%, respetivamente, depois de terem recuado nos últimos meses. Já a Euribor a 3 meses desceu pela terceira vez consecutiva para 3,923%, sendo a mais elevada das três.
A principal razão para esta subida das taxas Euribor nos prazos mais longos é o atraso nas expetativas de cortes nas taxas de juro pelo BCE. “Há apenas umas semanas, os mercados estavam a descontar o primeiro corte de taxas pelo BCE em abril e um total de 150 pontos base de cortes até ao final do ano”, começa por explicar David Brito, diretor-geral da Ebury Portugal, ao idealista/news.
Mas houve vários fatores que levaram os mercados a reajustar as suas expetativas em relação aos cortes nas taxas de juro diretoras pelo BCE, aponta David Brito:
- a ideia de que a reta final da luta contra a inflação será provavelmente difícil;
- a melhoria dos dados económicos relativos à atividade (que parecem indicar que o “pior” para a economia da zona euro já passou e que está a caminho da recuperação);
- a retórica “bastante agressiva dos membros do BCE”, bem como o seu receio de que a inflação reapareça mais forte se começarem a reduzir as taxas antes de terem 100% de certeza de que os preços estabilizam.
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Quando é que a Euribor vai descer de forma expressiva?
A prudência de manter as taxas de juro de referência inalteradas é também adotada por outros bancos centrais, além do BCE. Das 33 reuniões de política monetária realizadas em fevereiro, dois terços dos bancos centrais optaram por manter os juros tal como estão, como foi o caso do Banco Popular da China e do Banco de Inglaterra, escreve o Expresso.
Ao que tudo indica pelos discursos cautelosos de Christine Lagarde, presidente do BCE, as taxas de juro diretoras deverão manter-se inalteradas na reunião de política monetária desta quinta-feira, dia 7 de março. Mas quando é que é esperado o primeiro corte dos juros do BCE?
Atualmente, “os swaps atribuem pouco mais de 20% de probabilidade a uma primeira descida das taxas em abril e cerca de 75% em junho. Adicionalmente, estão ainda a ser descontadas menos de quatro reduções de 25 pontos base (cerca de 92) até ao final do ano”, indica o diretor-geral da Ebury, que admite que “estas expetativas parecem-nos realistas e acreditamos que estão de acordo com a realidade económica da zona euro”. A questão é que enquanto o BCE não começar a descer os juros, as taxas Euribor não deverão descer de forma expressiva.
Neste contexto, “a descida da Euribor poderá ser mais lenta do que o previsto há algumas semanas e poderemos encontrar-nos num período de estagnação, onde o indicador não sofrerá grandes oscilações”, refere ainda David Brito. Isto quer dizer que quem esta a pagar um crédito habitação a taxa variável (ou mista em período variável) não deverá esperar, para já, grandes mudanças nas prestações da casa.
Portanto, agora “a Euribor continuará a ser cotada em torno dos níveis atuais até que haja maior evidência sobre o início dos cortes nas taxas. A longo prazo, cumprindo-se as expetativas atuais do mercado, que nos parecem realistas, a Euribor pode começar a descer significativamente a partir de junho, quando o mercado descontar a primeira descida das taxas”, diz o diretor-geral da Ebury, que prevê que a Euribor possa situar-se em torno dos 3%/3,5% no final deste ano.
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