
O grupo Temple, de Vasco Pereira Coutinho, tinha um dos mais ambiciosos projetos de imobiliário de luxo em Lisboa, mas a crise económica e o endividamento levaram a empresa, em 2014, a um processo especial de revitalização (PER), controlado pelos tribunais. Ao mesmo tempo, o empresário português - que então vivia em Londres - comprou um iate na ilha de Guernsey. Além de Vasco, também o seu irmão João Pereira Coutinho aparece nos Pandora Papers, com uma companhia offshore nas Ilhas Virgens Britânicas.
Segundo conta o Expresso, Vasco Pereira Coutinho, agora com 71 anos, adquiriu o barco de luxo através de uma companhia offshore em setembro de 2014, apenas quatro meses depois de o seu grupo ter avançado com o PER da sua holding TMPL SGPS - que somava prejuízos de 25 milhões de euros. Um PER é um processo formal que permite a uma empresa que esteja a passar por um momento difícil, ou que se encontre à beira da insolvência, negociar com os credores para poder pagar mais tarde.
O iate, de acordo com o que conta o jornal, foi comprado pela Nany Yachts Limited, uma companhia offshore incorporada nas Ilhas Virgens Britânicas, cujo beneficiário efetivo foi identificado como sendo Vasco Manuel de Quevedo Pereira Coutinho.
O barco chama-se Blue Shadow A e foi registado no porto de Guernsey, uma ilha no canal da Mancha que fica mais perto de França do que do Reino Unido, mas que está ligada à Grã-Bretanha, ainda que tenha um grau elevado de autonomia e seja considerada um paraíso fiscal. Na altura, detalha o Expresso, o empresário português já vivia em Londres e foi essa a morada que deu.
A Nany Yachts Limited, companhia proprietária do iate, foi incorporada nas Ilhas Virgens Britânicas pelo Trident Trust, um dos 14 provedores de serviços offshore que estão na origem da fuga de informação dos Pandora Papers e que o ICIJ partilhou com mais de 600 jornalistas e 150 media parceiros em todo o mundo, incluindo o Expresso em Portugal. O Trident Trust é um dos maiores provedores do género, com mais de 900 funcionários e escritórios em mais de 20 jurisdições.
Segundo os ficheiros, a Nany Yachts Limited foi incorporada pelo Trident Trust a pedido de uma empresa intermediária na Suíça, a T&F Tax and Finance, que, por sua vez, tinha Vasco Pereira Coutinho como cliente. O Expresso escreva ainda que, confrontado por email através da sua holding TMPL SGPS, sediada em Lisboa, o empresário não respondeu.
O irmão João Pereira Coutinho também aparece nos Pandora Papers
Nos Pandora Papers aparece depois outra companhia offshore que teve como beneficiário o irmão do marquês, João Pereira Coutinho, conta também o Expresso. A Samara Overseas Limited foi incorporada em 2000 pela Alemán, Cordero, Galindo & Lee (Alcogal), um escritório de advogados no Panamá que é um dos 14 provedores de offshores na origem da fuga de informação do ICIJ.
Em 2009, continua o jornal a partilhar, a Samara Overseas passou a ser gerida pela Eurofin, uma empresa de serviços fiduciários na Suíça ligada ao Grupo Espírito Santo que se tornou conhecida pelo papel central que teve nas operações secretas que permitiram ao banqueiro Salgado fazer mais-valias de 1300 milhões de euros com o próprio BES, recorrendo a práticas consideradas abusivas pelo Banco de Portugal.
Os ficheiros mostram que em fevereiro de 2010 a Samara Overseas abriu uma conta bancária no Banque Privée Espírito Santo (BPES) e que esta companhia era gerida em 2017 pela Fid-Elite Wealth Services, uma empresa fundada por um antigo funcionário da Eurofin.
Numa resposta enviada pela presidência do grupo de que é proprietário, o SGC, João Pereira Coutinho esclareceu que adquiriu a companhia offshore em 2009 — e não antes disso — e que o único ativo que a Samara tinha era uma participação no Grupo Espírito Santo.
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