O Banco Central Europeu (BCE) abriu a porta à subida das taxas de juro ainda este ano, para travar a inflação – que deve continuar alta mais tempo que o previsto. Se este cenário se mantiver, as empresas e famílias portuguesas poderão ter de enfrentar novos desafios – o impacto será sentido, por exemplo, na hora de pagar a prestação da casa. E é por isso que ter uma “almofada” financeira é tão importante.
Para Pedro Brinca, professor da Nova SBE, o discurso do BCE “tem estado muito assente na ideia de que todos estes fenómenos que têm estado a alimentar a inflação são temporários e que, uma vez corrigidos, fazem acabar a espiral inflacionista”. No entanto, e segundo diz em entrevista ao Público, “o perigo é que as expectativas de inflação fiquem ancoradas a valores mais elevados”.
O que acontece se a espiral inflacionista se mantiver?
De acordo com o especialista, o BCE “não tem outra hipótese que não seja aplicar uma política de correção, ou seja, subir taxas de juro, com todas as consequências que podem daí advir”.
As taxas de juro vão subir quanto?
Não é certo quando ou quanto vão subir as taxas de juro, e tudo depende, claro, da taxa de inflação. Neste momento, de acordo com Pedro Brinca, “podemos pensar em valores para inflação entre os 2,5% e os 6%”. E, portanto, se a taxa de inflação se mantiver acima de 5% durante um ano, “não há dúvida que a taxa de juro vai subir e bastante”.
Qual o impacto da subida dos juros em Portugal?
Em Portugal, a inflação não subiu tanto em comparação ao resto da Europa, contudo, e tal como refere o especialista, e “apesar de não termos contribuído para o problema, vamos levar com o martelo na mesma se o banco central subir as taxas de juro”.
Além disso, Pedro Brinca alerta para o facto de sermos um dos países com mais créditos em moratória. A estratégia de aposta nas moratórias do Governo, apesar de arriscada, resultou – “a inflação foi baixa, o desemprego não disparou e não dispararam as insolvências” –, contudo, é preciso ainda avaliar que capacidade tem a economia portuguesa para se aguentar sem apoios.
Por que é que a “almofada” financeira é tão importante?
O abrandamento da atividade económica vai ter efeito nos salários e nos rendimentos. Além disso, a maioria dos empréstimos é a taxa variável, “que não tem variado quase nada nos últimos anos”, tal como refere o especialista. A este problema, acresce outro: o facto de as pessoas não estarem “habituadas a criar almofadas para as variações das taxas de juro”.
Na prática, e se as taxas de juro do crédito habitação subirem, as prestações da casa vão subir. Em alguns casos, esses aumentos podem chegar aos 300 euros, algo que terá um grande impacto no orçamentos das famílias.
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