A inflação é um tema que tem dominado a agenda europeia. Isto porque atingiu um novo recorde em janeiro e deverá continuar em alta mais tempo que o previsto, penalizando os agentes económicos, o rendimento disponível e o consumo. A expectativa é que a inflação comece a baixar ao longo do ano. Mas as dúvidas persistem. E embora as taxas de juro continuem inalteradas e em mínimos históricos, o Banco Central Europeu (BCE) não exclui completamente uma subida das taxas de juro em 2022. Todo este cenário já começa a fazer-se sentir em Portugal.
Os europeus têm sentido na carteira um aumento generalizado dos preços. A subida dos custos com a energia e o aumento dos preços dos alimentos tem-se refletido – e muito – nos orçamentos familiares e na economia. De tal modo que a inflação na Zona Euro atingiu um novo recorde em janeiro - de 5,1%. E este é um cenário que se deverá manter nos próximos meses: "A inflação vai continuar elevada provavelmente durante mais tempo do que se esperava anteriormente, mas vai cair ao longo do ano", disse Christine Lagarde, presidente do BCE, esta quinta-feira, dia 3 de fevereiro de 2022.
O impacto da subida da inflação na economia é um tema que tem vindo a preocupar o BCE e, para travá-la, está em cima da mesa a subida as taxas de juro. Para já, as taxas de juro vão permanecer inalteradas, em mínimos históricos, com a principal taxa de refinanciamento em zero e a taxa aplicada aos depósitos em -0,50%, segundo decidiu o BCE esta quinta-feira. Mas, desta vez, Christine Lagarde não exclui a hipótese de subir as taxas de juro em 2022 – recorde-se que em novembro a presidente do BCE disse que seria “muito improvável” que estivessem reunidas as condições para subir os juros.
Agora, a “situação mudou”, já que há riscos em alta para os preços, admitiu. A dirigente do regulador europeu já fez saber que o BCE deverá subir as taxas de juro quando todas as compras de dívida estiverem terminadas. E ainda que em março haverá mais dados económicos para decidir. Uma subida das taxas de juro do BCE impulsionadas pela inflação fica, assim, em aberto.
A verdade é que enquanto o BCE decide sobre esta matéria, há outros bancos centrais a agir para travar a subida de preços. O caso mais recente é o do Banco de Inglaterra, que anunciou uma subida das taxas de juro esta quinta-feira. Também do outro lado do mundo a Reserva Federal dos Estados Unidos (Fed) já assumiu que vai acionar medidas para travar a inflação do país, retirando as medidas de apoio à economia mais cedo que o previsto e subindo as taxas de juro três vezes em 2022.
Como estão as taxas de juro no crédito habitação em Portugal?
Nenhuma decisão ainda foi tomada a respeito da taxa de juro diretora pelo regulador europeu. Mas a verdade é que em Portugal já se sentem ligeiras subidas da taxa de juro no crédito habitação. Os dados mais recentes publicados pelo Banco de Portugal (BdP) mostram que a taxa de juro média dos novos empréstimos para comprar casa manteve-se nos 0,83% em dezembro de 2021. Mas olhando para o período homólogo, verifica-se que esta taxa é ligeiramente superior (+0,03 pontos percentuais) à registada há um ano, em dezembro de 2020, quando se fixou em 0,80%, refere a nota publicada esta quinta-feira pelo regulador português. E este crescimento pode continuar nos próximos meses.
Também é preciso olhar para a evolução das taxas Euribor, que vão influenciar as prestações da casa a pagar para os créditos com taxa variável. A Euribor a 12 meses - o indexante mais usado nos novos contratos de crédito habitação - voltou a quebrar a barreira dos -0,5%, regressando, assim, a mínimos históricos em dezembro de 2021. Este já é o sexto ano em que a Euribor está em terreno negativo. Mas a verdade é que as taxas Euribor podem subir à boleia da inflação e da subida das taxas de juro diretoras do BCE. E, segundo as contas da Deco, uma eventual subida das Euribor de -0,5% para 1% poderia agravar o crédito habitação, já que iria custar mais 61 milhões de euros por mês às famílias.
O futuro é incerto. Mas, segundo concluiu um estudo do CaixaBank publicado em janeiro, a subida de taxas de juro é um mecanismo necessário para fazer travar a subida dos preços das casas, pelo controlo da procura. Note-se que é o desequilíbrio entre a oferta e a procura o grande responsável pela subida dos preços das casas em Portugal e na Europa, mais do que o recomendado pelas autoridades económicas e financeiras - ou seja, mais de 6% ao ano.
E o que é certo é que a ligeira subida das taxas de juro em Portugal não afetou em nada a procura de casas. A compra de habitações com recurso a crédito habitação está em alta e os novos contratos somaram 15.270 milhões de euros em 2021, mais 34% que em 2020 e o valor mais alto desde 2007, mostram os dados do BdP. Só em dezembro de 2021, os bancos concederam 1.458 milhões de euros em novos financiamentos para comprar casa – também um dos maiores valores de sempre.
*Com Lusa
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