Subida das taxas de juros é uma forma de travar a inflação, pelo controlo da procura. Como vai afetar Portugal?
Comentários: 0
Subida de taxas de juro na Europa
Foto de Andrea Piacquadio en Pexels

A inflação é um tema que tem dominado a agenda europeia. Isto porque atingiu um novo recorde em janeiro e deverá continuar em alta mais tempo que o previsto, penalizando os agentes económicos, o rendimento disponível e o consumo. A expectativa é que a inflação comece a baixar ao longo do ano. Mas as dúvidas persistem. E embora as taxas de juro continuem inalteradas e em mínimos históricos, o Banco Central Europeu (BCE) não exclui completamente uma subida das taxas de juro em 2022. Todo este cenário já começa a fazer-se sentir em Portugal.

Os europeus têm sentido na carteira um aumento generalizado dos preços. A subida dos custos com a energia e o aumento dos preços dos alimentos tem-se refletido – e muito – nos orçamentos familiares e na economia. De tal modo que a inflação na Zona Euro atingiu um novo recorde em janeiro - de 5,1%. E este é um cenário que se deverá manter nos próximos meses: "A inflação vai continuar elevada provavelmente durante mais tempo do que se esperava anteriormente, mas vai cair ao longo do ano", disse Christine Lagarde, presidente do BCE, esta quinta-feira, dia 3 de fevereiro de 2022.

Inflação na Europa
Christine Lagarde, presidente do BCE flickr_commons

O impacto da subida da inflação na economia é um tema que tem vindo a preocupar o BCE e, para travá-la, está em cima da mesa a subida as taxas de juro. Para já, as taxas de juro vão permanecer inalteradas, em mínimos históricos, com a principal taxa de refinanciamento em zero e a taxa aplicada aos depósitos em -0,50%, segundo decidiu o BCE esta quinta-feira. Mas, desta vez, Christine Lagarde não exclui a hipótese de subir as taxas de juro em 2022 – recorde-se que em novembro a presidente do BCE disse que seria “muito improvável” que estivessem reunidas as condições para subir os juros.

Agora, a “situação mudou”, já que há riscos em alta para os preços, admitiu. A dirigente do regulador europeu já fez saber que o BCE deverá subir as taxas de juro quando todas as compras de dívida estiverem terminadas. E ainda que em março haverá mais dados económicos para decidir. Uma subida das taxas de juro do BCE impulsionadas pela inflação fica, assim, em aberto.

A verdade é que enquanto o BCE decide sobre esta matéria, há outros bancos centrais a agir para travar a subida de preços. O caso mais recente é o do Banco de Inglaterra, que anunciou uma subida das taxas de juro esta quinta-feira. Também do outro lado do mundo a Reserva Federal dos Estados Unidos (Fed) já assumiu que vai acionar medidas para travar a inflação do país, retirando as medidas de apoio à economia mais cedo que o previsto e subindo as taxas de juro três vezes em 2022.

Subida dos juros na Europa
Banco Central Europeu Pixabay

Como estão as taxas de juro no crédito habitação em Portugal?

Nenhuma decisão ainda foi tomada a respeito da taxa de juro diretora pelo regulador europeu. Mas a verdade é que em Portugal já se sentem ligeiras subidas da taxa de juro no crédito habitação. Os dados mais recentes publicados pelo Banco de Portugal (BdP) mostram que a taxa de juro média dos novos empréstimos para comprar casa manteve-se nos 0,83% em dezembro de 2021. Mas olhando para o período homólogo, verifica-se que esta taxa é ligeiramente superior (+0,03 pontos percentuais) à registada há um ano, em dezembro de 2020, quando se fixou em 0,80%, refere a nota publicada esta quinta-feira pelo regulador português. E este crescimento pode continuar nos próximos meses.

Também é preciso olhar para a evolução das taxas Euribor, que vão influenciar as prestações da casa a pagar para os créditos com taxa variável. A Euribor a 12 meses - o indexante mais usado nos novos contratos de crédito habitação - voltou a quebrar a barreira dos -0,5%, regressando, assim, a mínimos históricos em dezembro de 2021. Este já é o sexto ano em que a Euribor está em terreno negativo. Mas a verdade é que as taxas Euribor podem subir à boleia da inflação e da subida das taxas de juro diretoras do BCE. E, segundo as contas da Deco, uma eventual subida das Euribor de -0,5% para 1% poderia agravar o crédito habitação, já que iria custar mais 61 milhões de euros por mês às famílias.

Taxas de juro em Portugal
Foto de Yan Krukov en Pexels

O futuro é incerto. Mas, segundo concluiu um estudo do CaixaBank publicado em janeiro, a subida de taxas de juro é um mecanismo necessário para fazer travar a subida dos preços das casas, pelo controlo da procura. Note-se que é o desequilíbrio entre a oferta e a procura o grande responsável pela subida dos preços das casas em Portugal e na Europa, mais do que o recomendado pelas autoridades económicas e financeiras - ou seja, mais de 6% ao ano.

E o que é certo é que a ligeira subida das taxas de juro em Portugal não afetou em nada a procura de casas. A compra de habitações com recurso a crédito habitação está em alta e os novos contratos somaram 15.270 milhões de euros em 2021, mais 34% que em 2020 e o valor mais alto desde 2007, mostram os dados do BdP. Só em dezembro de 2021, os bancos concederam 1.458 milhões de euros em novos financiamentos para comprar casa – também um dos maiores valores de sempre.

Crédito habitação em Portugal
Foto de August de Richelieu en Pexels
A torneira do crédito habitação em Portugal está bem aberta. E para proteger o risco de incumprimento dos titulares e o sistema financeira de “potenciais choques adversos” – como é o caso de uma subida das taxas de juro -, o BdP emitiu no início desta semana uma nova recomendação macroprudencial que vem limitar os prazos máximos de pagamento dos empréstimos consoante a idade dos titulares – explicamos tudo com exemplos aqui. O objetivo passa por convergir a maturidade média dos novos contratos de crédito habitação para 30 anos até ao final de 2022.

*Com Lusa

Ver comentários (0) / Comentar

Para poder comentar deves entrar na tua conta

Publicidade