
A nível mundial, os bancos centrais estão empenhados em subir as taxas de juro para conter a procura e travar a alta inflação que se faz sentir, até porque em muitos países a subida generalizada dos preços está no nível mais alto desde a década de 1980. Mas há vários governos que estão a preparar medidas em sentido contrário, dando mais apoios às famílias para não perderem poder de compra, o que pode alimentar ainda mais o ciclo inflacionista. A solução? Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), a política monetária dos bancos centrais e a política orçamental dos governos têm de “demonstrar alinhamento”, já que ambos têm um papel importante na redução da inflação.
Ao subir as taxas de juro diretoras, o principal objetivo do Banco Central Europeu (BCE) – e de outros bancos centrais do mundo - passa por baixar a inflação até aos 2%, o nível em que é assegurada a estabilidade de preços. Como? Limitando a capacidade das famílias de consumir e das empresas de investir. Mas os governos estão a preparar medidas em sentido contrário, dando mais apoios às famílias, mais e menos vulneráveis, e também ajudas às empresas para enfrentar o aumento dos custos sentidos no atual panorama económico.
Com políticas em sentido contrário, corre-se o risco de tornar as medidas macroeconómicas menos eficazes no combate à crise inflacionista que hoje assola a Europa e vários países do mundo. Foi isso mesmo que explicou Pedro Brinca, professor da Nova SBE: “A política monetária restritiva visa tirar poder de compra a governos, famílias e empresas precisamente para diminuir pressão sobre os preços. Os governos, ao distribuir liquidez, estão precisamente a contribuir para a diminuição da eficácia dessas políticas, tornando a inflação mais persistente e tornando inevitáveis mais subidas das taxas de juro”, explicou o também economista citado pelo Público.
Também o governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, sublinhou recentemente que “o combate à inflação não é um exclusivo dos bancos centrais”, mas também das empresas e dos Estados, que devem moderar margens de lucro e políticas orçamentais. Até porque, caso não haja cooperação de todos, “as subidas das taxas de juro terão de ser ainda maiores”, avisa o líder do BdP em entrevista ao mesmo jornal.
Agora, também o FMI veio alertar para a necessidade de os bancos centrais e dos governos alinharem as suas políticas para que não seja necessário subir ainda mais os juros diretores. E, para isso, os governos dos países devem demonstrar que estão “alinhados contra a inflação” têm de assumir “responsabilidade fiscal ou até mesmo a consolidação [dos orçamentos] quando necessária”, lê-se num artigo assinado por Vítor Gaspar e Tobias Adrian e publicado esta segunda-feira, dia 21 de novembro. O alerta do FMI vem no mesmo sentido do apelo da própria Christine Lagarde, presidente do BCE, que na semana passada pediu um maior alinhamento entre as políticas monetárias e orçamentais.

Como é que os governos podem alinhar as suas políticas com as dos bancos centrais?
Para alinhar as suas políticas, “os governos devem evitar aumentar a procura agregada, correndo o risco de aumentar ainda mais a inflação”, alerta o FMI no mesmo documento. Até porque, “o estímulo fiscal no atual ambiente de alta inflação forçaria os bancos centrais a pisar o freio [ou seja, subir as taxas de juro] com mais força para conter a inflação”, frisam.
A contenção orçamental dos países em 2023 poderá estar na base da solução. “Em muitas economias avançadas e emergentes, a restrição fiscal pode ajudar a reduzir a inflação ao mesmo tempo que reduz a dívida”, concluem os autores, explicando ainda que “um menor défice arrefece a procura agregada e a inflação, de modo que os bancos centrais não precisem de aumentar tanto os juros”.
Conter os orçamentos não significa deixar de investir no país, nem prestar apoio às famílias com menores rendimentos. Segundo o FMI, “os governos devem continuar a priorizar a ajuda aos mais vulneráveis para lidar com o aumento dos preços dos alimentos e da energia, assim como para cobrir outros custos”, explicam no documento.
A política fiscal, desenhada pelos governos, pode ajudar a consolidar a economia no longo prazo por via de investimentos em:
- infraestruturas;
- saúde e educação;
- distribuição justa de rendimentos e oportunidades por meio de um sistema tributário equitativo;
- prestação de serviços públicos básicos.
Há ainda medidas a evitar de acordo com os dois diretores do FMI responsáveis pelas orientações de política orçamental e de política no mercado de capitais: “Como os choques na oferta são duradouros, as tentativas de limitar os aumentos de preços por via do controlo de preços, distribuição de subsídios ou descida nos impostos serão dispendiosos para os orçamentos e, em última análise, não serão eficazes”. E avisam ainda que, em determinados casos, “os sinais dados pelos preços (altos) são críticos para promover a conservação de energia e incentivar o investimento privado em energias renováveis”.
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