Num edifício industrial antigo nasceu um espaço de arte, cultura e comércio. Disruptivo e autêntico, já está a mudar a vida do bairro.
Comentários: 0
Gonçalo Lopes
Gonçalo Lopes

Frenético, entusiasmado e apaixonado pelo que faz. O espaço 8 Marvila corre-lhe nas veias. E é de sorriso no rosto que fala, de forma descontraída mas profissional e cheio de orgulho, do que aqui se construiu - ou reabilitou, neste caso. José Filipe Rebelo Pinto é a mente por detrás deste grande projeto que está a dar nova vida a este bairro lisboeta. Há dois anos, aceitou o desafio de dar uma nova vida aos antigos armazéns vinícolas da Abel Pereira da Fonseca, cerca de 22.000 metros quadrados (m2) vazios e abandonados na zona oriental da capital, para transformá-los num quarteirão de lazer, artes e cultura. Um trabalho duro e exigente, ao mesmo tempo recompensador, que permitiu abrir já as portas daquele que se apresenta como um lugar disruptivo, e que um dia dará lugar a um empreendimento imobiliário. O idealista/news visitou este lugar único que está prestes a celebrar o primeiro ano de atividade.

José Filipe Rebelo Pinto estava numa pausa entre projetos quando recebeu o convite para ser o curador do 8 Marvila. Antes já tinha estado ligado a outras reabilitações urbanas também, numa vertente muito cultural e social, na cidade de Lisboa, desde o Cais do Sodré, OutJazz, LxFactory ou mercado de fusão do Martim Moniz. Na realidade, sente que esteve parado durante a pandemia para ganhar forças para aquele que viria ser um projeto que apelida de “peso pesado”. E que exigiu um grande esforço psicológico e físico, uma vez que passou muitos dias sozinho no meio do lixo e entulho, a limpar e desenhar meticulosamente aquilo que seria preciso para devolver a leveza a este espaço industrial: abri-lo à água e à luz, em resumo, à vida, como fez questão de sublinhar.

8 Marvila
Créditos: Gonçalo Lopes | idealista/news

Entre a espiritualidade e natureza, e o frenesim da cidade. Os opostos atraem-se e foi neste cruzamento inesperado que encontrou o equilíbrio certo para o que queria fazer neste lugar. Deixar o espaço respirar era fundamental e é por isso que quando entramos nos antigos armazéns vemos parte do telhado ainda aberto - e assim irá continuar, até porque José Filipe acredita que é preciso “deixar chover dentro para limpar”. Entre o cansaço e adrenalina, este criativo - que tem dedicado a vida num mix entre a área de eventos/música/entretenimento e os projetos de revitalização/reabilitação - conta-nos que o trabalho de reabilitação do espaço começou muito antes da sua abertura oficial. 

Era preciso pôr o 8 Marvila a funcionar, em contra-relógio, no intervalo de um ano. E aquilo que encontrou foi um lugar “muito amplo, muito castigado e com uma dimensão enorme”. Agora já é outra coisa...

8 Marvila
Créditos: Gonçalo Lopes | idealista/news

Antigos armazéns de vinho vão dar lugar a empreendimento

Os armazéns Abel Pereira da Fonseca foram comprados por um fundo de investimento que pretende transformar o espaço, dentro de alguns anos, num empreendimento imobiliário - sabe-se para já que terá uma componente residencial e também de comércio e serviços e não muitos mais detalhes. Até lá, e apesar de temporário e efémero, o 8 Marvila quer ser (e já é) um ícone na cidade. Está a contribuir para a revitalização do bairro, a par de outros projetos que ali foram nascendo, como o Underdogs, a Fábrica do Braço de Prata ou a Musa. Trata-se de um espaço multicultural e gastronómico que junta lá dentro várias lojas, restaurantes, discoteca, galerias de arte e, noutros armazéns ao lado, campos de padel. Há espaço para concertos, eventos privados e até desfiles. 

Tudo cabe dentro deste centro de comércio, arte e cultura que nasceu no bairro de Marvila. Os metros quadrados não se esgotam, assim como a imaginação e criatividade de José Filipe. Este lugar é a sua visão de futuro para Marvila. “É como aquela pedra no charco que cria aqueles anéis à volta”, explica, com a certeza de que este espaço já está a ter impacto na zona envolvente. 

“Eu acredito que aquilo que está feito aqui vai ter alguma reflexão naquilo que será o futuro”, refere, acrescentando que uma das coisas com as quais tem sempre cuidado é saber onde é que está a intervir e como é que está a intervir. “Este projeto assenta muito em comunidade, tendo em conta exatamente a ligação a tudo o que já está feito”, diz.

8 Marvila
Créditos: Gonçalo Lopes | idealista/news

“Temos recebido muitas pessoas neste edifício que não entravam aqui há 40 anos. Pessoas com 70 anos que trabalharam nos antigos armazéns Abel Pereira da Fonseca. Por exemplo, temos o Marcelo, que trabalha aqui numa loja de vinhos e avô trabalhava aqui nesta fábrica. A Luísa Pereira da Fonseca, que é trineta do fundador Abel Pereira da Fonseca, tem uma galeria de arte cá dentro. Portanto, há uma ligação clara com a comunidade, com as pessoas que cá estavam”, salienta. 

Dar nova vida ao velho: 60% dos materiais reaproveitados no 8 Marvila

A sustentabilidade é um dos grandes pilares do projeto. E está à vista: cerca de 60% do material foi reutilizado, desde telhas, madeiras, móveis antigos ou tijolos. À medida que visitamos o espaço conseguimos encontrar nele pedaços do que ali se foi fazendo ao longo das últimas décadas. Para José Filipe só assim fazia sentido reabilitar este espaço que, sobretudo, quer ser despretensioso. 

8 Marvila
Créditos: Gonçalo Lopes | idealista/news

“Eu coloco sempre uma boa parte de mim nos projetos que faço. Então, a parte da sustentabilidade é uma necessidade mesmo, é fundamental. E para um projeto efémero, a três anos ou cinco anos, não faria sentido comprar novo, quando temos aqui uma série de material tão bom. Ou seja, quando eu entrei nesta porta, que é a porta principal do 8 Marvila, havia uma grande quantidade de lixo. Mas no meio do lixo estava imensa matéria-prima muito boa. Tínhamos madeira, tínhamos ferro, tínhamos, enfim, um monte de material e matéria prima que tentámos reaproveitar ao máximo”, explica o curador.

Neste momento, o 8 Marvila está a funcionar a 100% e prepara-se, já este domingo, 8 de dezembro de 2024, para celebrar um ano de vida, com vários eventos programados. José Filipe Rebelo Pinto mostra-se orgulhoso do que se foi construindo: um espaço inclusivo, aberto à conversa e troca de ideias, onde diferentes gerações podem conviver. O equilíbrio certo e natural entre a tranquilidade, cultura e diversão. “Aqui dentro é um pouco a minha visão que eu gostaria também de ver lá fora”, conclui.

Acompanha toda a informação imobiliária e os relatórios de dados mais atuais nas nossas newsletters diária e semanal. Também podes acompanhar o mercado imobiliário de luxo com a nossa newsletter mensal de luxo.

Ver comentários (0) / Comentar

Para poder comentar deves entrar na tua conta