Nem teletrabalho, nem modelo híbrido. Muitos líderes desconfiam da produtividade e querem trabalhadores nos escritórios.
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Foto de Andrea Piacquadio no Pexels

Para muitas pessoas em teletrabalho, dizer “bom dia” no chat de conversação (como teams, slack, entre outros) não é fórmula de cortesia, mas o novo relógio. Há chefes que continuam a desconfiar de quem trabalha a partir de casa e a “cronometrar” tudo ao segundo. Apesar das provas dadas e dos resultados conseguidos, muitos acreditam que a produtividade é afetada, que o comprometimento não é o mesmo, e de quando em vez necessitam de verificar os “sinais vitais” dos trabalhadores, como se fossem doentes terminais, ou funcionários em “fuga”, sempre sob um clima de suspeita. O presencialismo parece falar mais lado, por ser mais fácil de controlar e o trabalho remoto exigir novos tipos de liderança e formas de trabalhar, com base na confiança. Estaremos assim a entrar na era da “paranóia da produtividade”?

Segundo o semanário inglês The Economist, citado pelo El País, o ano de 2023 será dominado pela “paranóia da produtividade”. Na prática, são paranóicos os chefes que acreditam que os seus subordinados trabalham de casa o menos possível, e por contágio ficam também paranóicos os trabalhadores que sentem que estão a ser observados e vigiados a todo o momento.

No outono de 2022, um estudo da Microsoft entrevistou 20.000 trabalhadores em 11 países e os resultados foram reveladores: 87% dos funcionários achavam que eram tão eficientes a trabalhar em casa quanto no escritório. No entanto, apenas 12% dos chefes acreditavam que as suas equipas eram produtivas a trabalhar remotamente.

Na pandemia, e para “medir a produtividade”, recorde-se, eram constantes as chamadas de vídeos e reuniões no zoom, ou a troca de emails compulsiva com dezenas de pessoas em cópia. E quando a covid-19 abrandou, pensou-se que o modelo híbrido seria ideal, e o melhor dos dois mundos. Mas ao que tudo indica, a desconfiança continua a pairar nas relações laborais, havendo uma total desconexão, por vezes, entre chefes e empregados.

Défice de confiança é "alarmante"

Especialistas ouvidos pelo jornal espanhol concordam que a maioria dos trabalhadores sente que ganhou qualidade de vida com o teletrabalho – economizando tempo e dinheiro nas deslocações. Mas para quem manda, é difícil perceber esse ganho, e há quem fique frustrado por não ter um funcionário à sua frente o dia todo. Assim, e para aliviar a “paranóia da produtividade”, algumas empresas decidiram monitorizar a atividade dos seus funcionários através de softwares de vigilância que, na realidade, apresentam dados enviesados: não medem resultados, apenas a atividade no computador.

Trata-se de uma prática desmoralizante e tóxica, que agudiza a falta de confiança de parte a parte. E o retorno forçado ao escritório que se começa a evidenciar é prova disso. Os gestores estão a confundir o controlo com a produtividade, estando mais focados em medir a atividade que os resultados.

Ayelet Fishbach, professor de Ciências Comportamentais da Booth School of Business da Universidade de Chicago, ouvido pelo El País, considera que após dois anos e meio de trabalho remoto ou híbrido, o défice de confiança é "alarmante". Na sua investigação, o especialista provou repetidamente que o tempo é a métrica de produtividade mais comum porque é muito simples. "É muito mais fácil contar as horas passadas num escritório do que avaliar o valor de uma boa ideia”, refere, acrescentando que os líderes devem repensar estas métricas para acomodar um mundo onde a confiança tem necessariamente de crescer.

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