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O setor da construção está desregulado e permeado pela clandestinidade, de acordo com a posição defendida por Reis Campos. Segundo o presidente da Confederação Portuguesa da Construção e do Imobiliário (CPCI), o setor, que precisa de maior fiscalização, enfrenta agora um novo problema: a falta de mão de obra. A construção precisa de pelo menos 70.000 trabalhadores, garante o responsável.

“Ainda estamos a níveis muito baixos em termos de investimento. Nota-se que nas obras públicas tem havido um crescimento e que há mais concursos. Mas em 2016 foram celebrados concursos de 718 milhões e em 2017 de cerca de mil milhões, o que é pouco”, disse Reis Campos em entrevista ao Jornal de Negócios. A falta de investimento é, de acordo com o responsável, um dos outros problemas do setor, pelo que se torna imperativa uma maior intervenção por parte do Estado.

“O país não pode estar permanentemente sem investir. Temos de investir. Foi desastrosa a política seguida no governo anterior em relação ao setor porque praticamente se acabou com ele. As empresas tiveram de internacionalizar-se, algumas desmantelaram-se. Agora ficámos numa situação particular que é falta de mão de obra. Hoje a mão de obra está a subir de preço”, defendeu o presidente.

Reis Campos revelou que o setor precisa de entre 60.000 e 70.000 trabalhadores para se equilibrar e que por isso não compreende como é que “no subsídio de desemprego estão 57.000 trabalhadores”. Para o responsável “as soluções para ir buscar os trabalhadores necessários passam por recuperar os trabalhadores do setor inscritos nos centros de emprego, permitir que os trabalhadores estrangeiros ao serviço das empresas nacionais possam trabalhar em Portugal, mas também formar trabalhadores para o setor, e acabar com o trabalho clandestino”.

Reabilitação afetada pela clandestinidade

“Os números da reabilitação urbana provam que o setor está desregulado. Todos os dados que saem pecam por defeito grave. Em 2017 foram licenciadas 5.995 obras de reabilitação, o que traduz um aumento de 0,3%. Cabe na cabeça de alguém que a reabilitação que se vê nas cidades só aumente 0,3%?”, questionou Reis Campos, para quem é fundamental que se acabem com as “facilidades”, fomentando-se uma atuação pautada pela maior fiscalização.

Imobiliário “não é fonte inesgotável de receitas”

O ano de 2017 parece ter sido um ano de viragem para o imobiliário. E nem o setor da construção escapou aos números animadores. Ainda assim, e apesar do imobiliário estar a viver um bom momento, a construção pede “contenção na tributação” e deixa um alerta: “O imobiliário não é uma fonte inesgotável de receitas”, disse Reis Campos, referindo-se ao IMI e ao AIMI e há nova tributação que parece estar em cima da mesa, a tributação aos residentes não habituais. A Confederação da Construção acredita que a falta de contenção poderá criar um clima de desconfiança, “que é o pior que pode acontecer ao nosso mercado”.

O líder da CPCI aproveitou o momento para recordar os números animadores que também invadiram a construção. “Em 2017, há uma recuperação generalizada, quer na construção de edifícios residenciais – que aumentou – , quer na de edifícios não residenciais – que cresceu 3,4% –, quer ainda na engenharia civil, onde a subida foi de 6%”. Apesar do bom desempenho, o responsável lamenta que "o setor público não acompanhe a evolução do privado, onde houve um dinamismo diferente".

"No investimento público continua a haver mais obras promovidas, mas depois as adjudicações não acontecem", sublinhou, referindo um diferencial de 1.700 milhões de euros entre a contratação promovida e a celebrada.

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