Falta de mão de obra e subida dos preços dos materiais são dois desafios que a construção traz para 2022.
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Falta de trabalhadores na construção
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Em 2021 a construção provou, uma vez mais, a sua resiliência perante situações de crise. E os dados falam por si: a produção na construção cresceu na ordem dos 2,1% em outubro face ao período homólogo, avançou o Instituto Nacional de Estatística (INE) em dezembro. Mas o setor também enfrenta hoje uma série de desafios. Em destaque está mesmo a subida vertiginosa dos preços dos materiais de construção e a falta de mão de obra qualificada. Manuel Reis Campos, presidente da Confederação Portuguesa da Construção e Imobiliário (CPCI), identifica mesmo a falta de 70 mil trabalhadores no setor.

Nem tudo correu bem em 2021. Por um lado, o imobiliário e a construção reafirmaram a sua relevância para a economia portuguesa, com o reforço de investimento privado e o reconhecimento do papel do investimento público no Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). A verdade é que o ano também foi marcado por pontos menos positivos.

A falta de mão de obra qualificada no setor é um dos problemas apontados por Reis Campos, em entrevista ao Diário Imobiliário. Embora em outubro os índices de emprego e de remunerações do INE tenham apresentado variações homólogas positivas – de respetivamente 1,6% e 6% -, este cresciemento não chega para cumprir as necessidades da construção. O presidente da CPCI identifica que faltam 70 mil trabalhadores no setor, “persistindo um grande desfasamento, no mercado de trabalho, entre a procura e a oferta de emprego, que resulta, sobretudo, de um desajustamento da Formação Profissional”, diz.

Outro ponto fraturante é mesmo a subida “anómala” dos preços das matérias-primas, da energia e dos materiais de construção. O índice S&P GSCI Energy and Metals registou, no final de novembro, um crescimento anual de 31,2%, “apontando-se para um aumento médio dos custos de cerca de 18% nos contratos públicos em curso em Portugal devido ao aumento do preço dos materiais”, avança Manuel Reis Campos.

Trabalhar na construção
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Há soluções à vista para a construção?

Estes são dois grandes desafios que migram para 2022. E para que não interfiram na missão da construção e na retoma da economia há que criar “mecanismos efetivos que permitam ultrapassar os problemas de natureza conjuntural que o país enfrenta”, refere o responsável.

No que diz respeito à mão de obra na construção, Reis Campos acredita que a solução estará na “reorientação da formação profissional, para que esta possa dar resposta às necessidades do mercado, tirando partido dos centros de excelência do setor”.

A solução passará por “promover um alinhamento entre a procura e a oferta de trabalho, já que não faz qualquer sentido coexistirem fenómenos como o desemprego e a falta de recursos humanos nas empresas”, explica. Note-se que em outubro de 2021, o total nacional de desempregados inscritos nos centros de emprego era de 316.715, dos quais, 29.585 são oriundos da fileira da construção e imobiliário, números semelhantes ao período pré-pandemia.

E vai mais longe, dizendo mesmo que “deve ser promovida a mobilidade transnacional da mão de obra, permitindo às empresas internacionalizadas uma gestão mais dinâmica e eficiente dos seus recursos humanos”.

Preço dos materiais de construção a subir
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Sobre a subida dos preços das matérias-primas, da energia e dos materiais de construção, Reis Campos acredita que devem ser adotadas medidas para “salvaguardar” as empresas. “É necessário definir preços base realistas dos concursos, utilizar plenamente mecanismos como a alteração anormal e imprevisível de circunstâncias para reequilibrar os contratos, adequar as fórmulas de revisão de preços dos contratos para refletir de forma ajustada as variações dos custos efetivos e criar um fundo nacional que possibilite aos donos de obra pública fazer face a variações significativas de preços nas empreitadas, assegurando que as empresas são justamente ressarcidas”, explicou na mesma entrevista.

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