Há materiais que registaram subidas de 30% nos preços. Se as construtoras não assumirem o aumento dos custos, este panorama pode refletir-se no preço das casas.
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Preços de construção sobem em flecha devido à escassez de materiais
Imagem de Sergey Egorov por Pixabay

Os preços da construção estão a subir em fecha e muito se deve à escassez de materiais. Já em março, o Instituto Nacional de Estatística (INE) registou um aumento do preço dos materiais de construção em 3,3% face ao mês anterior e ainda uma subida dos custos com a mão de obra na ordem dos 7,6%. As consequências estavam à vista: os custos com a construção de habitação nova aumentaram 5,1% em março face a fevereiro. Desde então, a situação agravou-se. Há falta de materiais de construção para tamanha procura, o que faz acelerar a subida dos preços. Os custos das obras aumentam e, se as construtoras não assumirem estes aumentos, são as próprias casas que podem ficar mais caras.

Esta é uma situação que não tem fronteiras. Devido à forte escalada nos mercados internacionais de matérias-primas, os preços de referência do varão para betão, registou variações médias superiores a 35%, aponta Manuel Reis Campos, presidente da Associação dos Industriais da Construção Civil e Obras Públicas (AICCOPN). E este não é o único material essencial para a construir que está a registar subidas de preços: segundo Reis Campos, o aço, o alumínio e o cobre "estão a atingir máximos históricos”, cita o Dinheiro Vivo. Para além destes, as empresas estão com difícil acesso a perfis metálicos, madeira e materiais que incorporam produtos derivados do petróleo, como os betuminosos, refere a AICCOPN.

Também Nuno Garcia, diretor-geral da gestora de obras GesConsult, confirmou ao mesmo meio que desde o início do ano se verifica um “encarecimento progressivo algumas matérias-primas”, que foi “acentuado a partir de março, nomeadamente na madeira, aço e PVC, fruto de uma procura intensa não só da construção civil, mas de toda a indústria". Sobre os aumentos dos preços, Nuno Garcia não tem dúvidas: hoje há "uma subida de preços de entre 30 e 50%, com tendência para aumentar nos próximos meses".

Por outro lado, a Associação Portuguesa dos Comerciantes de Materiais de Construção (APCMC) referiu que a falta de produto "ainda não é visível no mercado”. Ainda assim, a "previsão é que essa situação venha a ocorrer nos próximos meses".

Como chegou o mercado a este ponto?

Apesar da construção ter seguido a bom ritmo durante a pandemia da Covid-19, vários atores, que assumem papéis de base na cadeia produtiva, ou foram cautelosos e reduziram a produção ou encerraram atividade, segundo refere José de Matos, secretário-geral da APCMC. Isto é, os materiais de construção foram sendo produzidos, mas a um menor ritmo. Os stocks foram sendo consumidos, mas a velocidade de produção não soube acompanhar o ritmo da retoma da atividade económica e, por isso, agora há escassez de matérias-primas para tamanha procura.

Nas palavras de Manuel Reis Campos, “a pandemia gerou uma dupla disrupção, quer ao nível da oferta, quer da procura, da quase totalidade da cadeia produtiva, com repercussões a uma escala sem precedentes - dificuldades nas cadeias de logísticas, períodos de confinamento, restrições à circulação..."

A inflação dos preços de construção gera uma nova fatura para pagar. Embora agora o “bom senso” reine no setor, Nuno Garcia assume que se os preços continuarem a “subir da forma que se tem assistido nos últimos meses, não será comportável para as empresas assumir diferenciais tão grandes”, cita o Dinheiro Vivo. Ainda assim, o diretor-geral da gestora da GesConsult espera que esta seja uma situação temporária e que haja uma revisão dos preços em baixa no médio prazo. Por outro lado, também há que colocar na equação que os planos de recuperação e resiliência europeus incluem construção de habitação, o que pode atrasar esta recuperação dos preços do mercado ou até agravá-la.

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